A
Imperfeição do Conhecimento Humano
John Wesley
Pregado em Bristol, 05 de Março de 1784.
"Porque, em
parte, conhecemos e, em parte, profetizamos" (I Cor. 13:9)
I. Quão surpreendentemente pouco sabemos de Deus!
II. Nós não estamos melhores familiarizados com seus trabalhos de
providência, do que com suas obras de criação?
III. Nós somos capazes de procurar
saber, alguma coisa a mais, sobre suas obras de graça, do que sobre seus
trabalhos de providência?
IV. Diversas lições valiosas, nós
podemos aprender da profunda consciência de nossa própria ignorância.
1. O desejo do conhecimento é um princípio
universal no homem, fixado em sua natureza mais íntima. Ele não é variável,
mas, constante, em toda criatura racional, a menos, enquanto ele é suspenso por
alguns desejos fortes. E ele é insaciável: "O olho nunca está
satisfeito com o que vê, nem os ouvidos com o que ouve". Nem a mente
com algum grau de conhecimento que possa ser concebido dentro dela. E ele é
plantado, em toda a alma humana, para propósitos excelentes. Ele é pretendido
para impedir nossa inércia em qualquer coisa aqui embaixo; erguendo nossos
pensamentos para objetos mais altos, mais merecedores de nossa consideração,
até que ascendamos à Fonte de todo conhecimento e toda excelência, o Criador de
toda sabedoria e toda graça.
2. Mas, embora nosso desejo de conhecimento
não tenha limites, nosso conhecimento, em si mesmo, tem. Ele é, de fato,
confinado, nos mesmos limites estreitos; muito mais estreitos do que as pessoas
comuns possam imaginar, ou homens letrados estão dispostos a admitir: uma forte
sugestão, (já que o Criador não faz coisa alguma em vão), que possa haver
algumas condições futuras de existência, por meio das quais, este, até o
momento, desejo insaciável, possa ser satisfeito, e não haja distância tão
grande entre o apetite e o objeto dele.
3. O presente conhecimento do homem está
exatamente adaptado para as suas necessidades presentes. Ele é suficiente para
nos alertar, e nos preservar dos perigos às quais nós estamos agora expostos; e
para obter o que quer que seja necessário a nós, nessa condição infantil de
existência. Nós sabemos o suficiente da natureza e qualidades sensíveis das
coisas que estão à nossa volta, tanto quanto elas são subservientes à saúde e
força de nossos corpos: nós sabemos como procurar e preparar nossa comida; nós
sabemos como construir nossas casas e as mobílias delas, com todas as
necessidades e conveniências; nós sabemos apenas, o quanto é conducente, para
vivermos, confortavelmente, nesse mundo: Mas das inumeráveis coisas acima,
embaixo e ao redor de nós, o muito que sabemos é que elas existem. E nessa
nossa ignorância profunda é visto a bondade, tanto quanto a sabedoria de Deus,
resumindo seu conhecimento de todos os lados, com o propósito de "encobrir
a vaidade do homem".
4. E, em conseqüência
disto, pela mesma constituição de sua natureza, o mais sábio dos homens
"sabe", mas "em parte". E quão espantosamente pequena é a
parte que eles conhecem, tanto do Criador, quando de suas obras! Esse é um tema
muito necessário, mas também muito desagradável; porque "o homem tolo
seria sábio". Vamos refletir sobre isso, por enquanto. E possa o Deus da
sabedoria e amor abrir nossos olhos para discernir nossa própria ignorância!
I.
1. Para começar com o
próprio grande Criador. Quão surpreendentemente pouco nós conhecemos sobre
Deus! Quão pequena parte de sua natureza, nós conhecemos de seus atributos
essenciais! Que concepção nós podemos formar de sua Onipresença? Quem é capaz
de compreender Deus, nesse e em todas os lugares? Como ele preenche a imensidão
do espaço? Se os filósofos, ao negarem a existência do vácuo, apenas quisessem
dizer que não há espaço vazio de Deus, que todos os pontos do espaço infinito é
cheio de Deus, certamente, nenhum homem poderia chamar isso à questão. Mas,
ainda que o fato seja admitido, o que é Onipresença ou ubiqüidade? O homem não
é mais capaz de compreender isso, do que alcançar o universo.
2. A Onipresença ou a imensidade de Deus,
Sir Isaac Newton esforçou-se para ilustrar através da forte expressão,
denominando o espaço infinito de "O Sensório da Divindade". E os
mesmos ateus não tiveram escrúpulos para dizer, "Todas as coisas estão
cheia de Deus": Apenas equivalente com suas próprias declarações: "Eu
não encho céus e terra? - diz o Senhor". Quão maravilhosamente o salmista
ilustra isso! "Para onde eu devo fugir da tua presença? Se eu subir ao
céu, tu estás lá: Se eu vou para o inferno, tu também estás. Seu eu levo as
asas da manhã, e permaneço, nas partes mais remotas do mar, mesmo lá, tua mão
me encontra, e tua mão direita me segura". "Mas, nesse meio tempo,
que concepção podemos formar tanto de sua eternidade, quanto de sua imensidade?
Tal conhecimento é muito maravilhoso para nós: Nós não podemos alcançar isso".
(Salmo 139:7-10) "Para onde me irei, do teu
Espírito, ou para onde fugirei de tua face? Se subir ao céu, tu ai
estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também; se tomar as asas da alva,; se habitar nas
extremidades do mar; até ali a tua mão me guiará, e tua destra me susterá"
3. O segundo atributo
essencial de Deus é a eternidade. Ele existe, antes de todo o tempo. Talvez,
mais propriamente, pudéssemos dizer: Ele existe, desde o sempre, para o
sempre. Mas o que é eternidade? Um renomado autor diz que a eternidade Divina "é
a concepção imediata, inteira e perfeita, da vida que nunca tem fim".
Mas quão mais sábio nós ficamos, por causa dessa definição? Nós sabemos disso,
tanto quanto sabíamos antes! "A concepção imediata, inteira e
perfeita!". Quem pode conceber o que isso significa?
4. Se, realmente, Deus
tinha estampado (como alguns têm mantido) uma idéia de si mesmo, em toda alma
humana, nós devemos, certamente, ter entendido alguma coisa desse, assim como,
de outros atributos; já que não podemos supor que ele tivesse imprimido em nós
uma idéia falsa, ou imperfeita de si mesmo; mas a verdade é que nenhum homem
encontrou, ou encontra agora, qualquer idéia estampada em sua alma. O pouco que
nós sabemos de Deus (exceto o que nós recebemos por inspiração do Espírito
Santo), nós não reunimos de qualquer impressão interior, mas, gradualmente,
adquirimos, exteriormente. "As coisas invisíveis de Deus", se elas
são conhecidas, afinal, "são conhecidas das coisas que são feitas";
não do que Deus tem escrito em nossos corações, mas do que Ele tem escrito, em
todas as suas obras.
5. Daí, então; das
suas obras, particularmente, das suas obras de criação, nós podemos aprender o
conhecimento de Deus. Mas não é fácil conceber o quão pouco nós sabemos mesmos
desses. Para começar com aqueles que estão á uma certa distância: Quem sabe
quão distante o universo se estende? Quais são os limites dele? As estrelas da
manhã podem dizer, aquelas que cantaram juntas, quando as linhas dele foram
esticadas para fora, quando Deus disse: "Seja essa tua circunferência, ó
mundo!" Mas as estrelas fixas têm escondido, totalmente, dos filhos do
homem, tudo o mais. E o que nós sabemos das estrelas fixas? Quem pode dizer o
número delas? Mesmo essa pequena porção delas que, pela sua luz misturada nós
denominamos "via Láctea?". E quem sabe o uso delas? Elas são muitos
sóis que iluminam seus respectivos planetas? Ou elas apenas auxiliam nisso,
(como o Sr. Hutchinson supõe), e contribuem, de alguma maneira desconhecida,
para a circulação perpétua da luz e espírito? Quem sabe o que são os cometas?
Eles são planetas não completamente formados? Ou planetas destruídos por uma
conflagração? Ou eles são corpos de uma natureza totalmente diferente, do qual
nós podemos formar nenhuma idéia? Quem pode nos dizer o que é o sol? O seu uso nós sabemos: mas quem sabe de que
substância ele é composto? Não, nós ainda não somos capazes de determinar, se
ela é fluida ou sólida! Quem sabe a distância precisa do sol a terra? Muitos
astrônomos são persuadidos de que se trata de centenas de milhões de milhas;
outros, que é apenas oitenta e seis milhões, embora, geralmente, considerada
noventa. Mas, igualmente, grandes homens dizem que é não mais do que cinqüenta;
algum deles, que é doze milhões: Por último, chega o Dr. Rogers, e demonstra
que são, justos, dois milhões e novecentas mil milhas! Tão pouco nós sabemos,
até mesmo, dessa luminária gloriosa, o olho e alma do mundo menor! E, do mesmo
modo, tanto quanto dos planetas que o circundam; sim; de nosso planeta, da lua.
Alguns, realmente, descobriram: Rios e montanhas em seu globo iluminado;
sim, destacaram todos os mares e continentes delas! Mas, afinal, nós sabemos
quase nada do assunto. Nós temos nada mais do que meras conjecturas incertas
concernentes ao mais próximo dos corpos celestes.
6. Mas vamos para as coisas que estão mais
perto de casa, e inquirir o conhecimento que nós temos delas. Quanto nós
conhecemos desse corpo maravilhoso, a luz? Como ela é trazida até nós? Ela flui
num fluxo continuado do sol? Ou o sol impele as partículas, próximo à sua
órbita, e assim, por diante, até a extremidade de seu sistema? Novamente: A luz
gravita ou não: Ela atrai ou repele outros corpos? Ela está sujeita às leis
gerais, as quais prevalecem em todos os assuntos? Ou ela é um corpo "siu
generis", completamente, diferente de todos os outros assuntos? É o mesmo com o fluído elétrico, e outros
controlam seu curso? Porque o vidro é capaz de ser mudado para tal ponto, e não
mais além? Centena de mais perguntas poderiam ser feitas sobre esse assunto,
que nenhum homem vivente pode responder.
7. Mas, certamente,
nós entendemos o ar que respiramos, e que nos envolve de todos os lados. Por
essa admirável propriedade de elasticidade, ele é a fonte geral da natureza.
Mas a elasticidade é essencial para o ar, e inseparável dele? Não; já foi
provado, por inúmeros experimentos, que o ar pode ser fixado, ou seja, despido
de sua elasticidade, e produzido e restaurado a ela novamente. Entretanto, ele
não é, por outro lado, elástico, do que quando ele é conectado com fogo
elétrico. E não é esse fogo elétrico ou etéreo, a única elasticidade
verdadeiramente essencial na natureza? Quem sabe por qual poder o orvalho,
chuva, e todos os outros vapores sobem e caem no ar? Nós podemos considerar o
fenômeno deles princípios comuns? Ou devemos nós mesmos concluir, com o recente
autor engenhoso, que esses princípios são extremamente insuficientes; e que
eles não podem ser considerados, racionalmente, a não ser sobre os princípios
de eletricidade?
8. Vamos, agora,
descer para a terra, que nós pisamos, e que Deus tem, peculiarmente, dado aos
filhos dos homens. Os filhos dos homens entendem isso? Suponha que o globo
terrestre tenha sete ou oito mil milhas, em diâmetro, quanto disso, nós
sabemos? Talvez, uma milha ou duas de
sua superfície: Quão longe a arte do homem penetrou. Mas quem pode informar-nos
o que pode ser encontrado abaixo da região das pedras, metais, minerais e
outros fósseis? Essa é apenas uma crosta fina, que suporta uma proporção muito pequena
do todo. Quem pode nos instruir com respeito às partes internas do globo? Do
que essas consistem? Há um fogo central, um grande reservatório, o qual não
apenas supre aos vulcões, mas também contribuem (embora não saibamos como) para
o maturativo de gemas e metais; sim, e talvez, para a produção dos vegetais e o
bem-estar de animais também? Ou está a grande profundeza ainda contida nas
entranhas da terra? Um abismo central de águas. Quem viu? Quem pode dizer? Quem
pode dar uma satisfação sólida para o inquiridor racional?
9. Quanto da mesma
superfície do globo é ainda extremamente desconhecida para nós! Quão pouco, nós
sabemos das regiões polares, norte e sul, da Europa ou Ásia! Quão pouco dessas
vastas regiões, dos confins da África ou América! Bem menos, nós sabemos o que
está contido no mar amplo. O grande abismo, que cobre a parte maior do globo. A
maioria de suas cavidades é inacessível para o homem, de modo que nós não
podemos dizer como elas são providas. Quão pouco nós sabemos dessas coisas sobre
a terra firme, que cai diretamente sob nossa observação! Considerem mesmo os
mais simples metais e pedras: Quão, imperfeitamente, nós estamos familiarizados
com a maturidade e propriedades deles! Quem sabe o que é que distingue os
metais de todos os outros fósseis? É respondido: "Eles são mais
pesados". Muito verdadeiro; mas qual é a causa de eles serem mais pesados?
Qual a diferença específica entre metais e pedras? Ou entre um metal e outro?
Entre ouro e prata? Entre lata e chumbo? Ainda é tudo mistério para os filhos
dos homens.
10. Continuemos com o
reino dos vegetais. Quem pode demonstrar que a seiva, em qualquer vegetal,
executa uma circulação regular através de suas artérias, ou que ela não faz
isso? Quem pode indicar a diferença específica entre uma espécie de planta e
outra? Ou a conformação e disposição, peculiar e interna, de suas partes
componentes? Sim, que homem vivente compreende, completamente, a natureza e
propriedades de qualquer uma planta debaixo do céu?
11. Com respeito aos
animais: Os animais microscópicos, assim chamados, são realmente
animais, ou não? Se eles são; eles não são, essencialmente, diferentes de todos
os outros animais no universo, não requerendo alimento, não gerando ou sendo
gerados? Eles não são animais, afinal, mas, meramente, partículas inanimadas de
matéria, num estado de fermentação? Quão totalmente ignorante é a maioria dos
homens mais sagazes, tocando o assunto da criação no seu todo! Mesmo a criação
do homem. No livro do Criador, certamente, estavam todos nossos membros
escritos, "os quais, dia a dia foram formados, quando ainda nenhum deles
existia": Mas de que modo foi o primeiro gesto comunicado para o "punctum
saliens?" Quando, e como, foi o espírito imortal adicionado ao barro
inconsciente? É tudo mistério. E nós podemos apenas dizer: "Eu estou
extraordinariamente, e maravilhosamente feito".
12. Com respeito aos
insetos, muitas são as descobertas que têm sido recentemente feitas. Mas quão
pouco ainda é tudo isso que foi descoberto, em comparação ao que se desconhece!
Quantos milhões deles, por sua miudeza extrema, escapam totalmente de nossas
investigações. E, de fato, as partes minúsculas dos maiores animais iludem
nossas diligências extremas. Nós temos um conhecimento mais completo dos peixes
do que temos dos insetos? A grande parte, se não a maior parte dos habitantes
das águas estão, totalmente, ocultos de nós. É provável, que as espécies de
animais marinhos sejam, tão numerosas, quanto as dos animais terrestres. Mas
quão poucos deles são conhecidos para nós! E quão poucos sabemos dessa minoria.
Com pássaros nós estamos um pouco mais familiarizados: mas, na verdade, é muito
pouco ainda. Porque, de muitos, nós, mal e mal, sabemos alguma coisa mais, do
que sua forma exterior. Algumas poucas propriedades óbvias, de outros,
principalmente dos que freqüentem nossas casas. Mas não temos um conhecimento
completo e adequado mesmo desses. Quão pouco nós sabemos de nossos animais! Nós
não sabemos, por qual motivo, temperamentos e qualidades diferentes, surgem; não
apenas, nas diferentes espécies deles, mas nos indivíduos da mesma espécie;
sim, e, freqüentemente, naqueles que nascem dos mesmos pais, do mesmo macho, e
fêmea animal. Eles são meras máquinas? Então, eles são incapazes de prazer ou
dor. Não, eles podem não ter sentido algum; eles não vêem, nem ouvem; nem
sentem o paladar, nem o odor. Tão pouco, eles podem, agora, lembrar-se ou
mover-se, a não ser se forem impulsionados exteriormente. Mas tudo isso, como é
mostrado, diariamente, é bem ao contrário, afinal.
13. Bem; mas, se nós
conhecemos nada mais, nós conhecemos, pelo menos, a nós mesmos? Nossos corpos e
almas? O que é nossa alma? É um espírito, nós sabemos. Mas o que é um espírito?
Aqui nós estamos completamente bloqueados. E onde a alma habita? Na glândula
pineal; no cérebro todo; no coração; no sangue; em alguma parte particular do
corpo, ou (se alguém pode entender esses termos) "tudo em tudo", e em
toda parte? Como a alma é unida ao corpo? Qual é o segredo, a corrente
imperceptível que os une? Pode o mais sábio dos homens dar uma resposta
satisfatória a qualquer uma dessas questões simples? Ó quão pouco conhecemos,
mesmo no que concerne a toda criação de Deus?
1. Mas nós estamos mais familiarizados com
suas obras de providência, do que com sua obra de criação? É um dos primeiros
princípios da religião, que seu reino impere sobre tudo? De maneira que nós
podemos dizer com confiança? "O, Senhor, nosso Governador, quão excelente
é o teu nome sobre toda a terra!". É um conceito infantil, para supor que
o acaso governa o mundo, ou tem alguma parte no governo dele: Não, nem mesmo,
nessas coisas que, para o olho comum, parecem ser, perfeitamente, casuais.
"A sorte está lançada à mão; mas o poder de dispor disso é de Deus".
Nosso abençoado Mestre, ele mesmo tem colocado esse assunto além de qualquer
dúvida possível: "Nem mesmo um pardal", disse ele, "cai ao chão,
sem a vontade do Pai que está nos céus": "Sim", (para expressar
a coisa mais fortemente ainda) "até mesmo os cabelos de sua cabeça são
todos numerados".
2. Mas, embora nós
sejamos bem informados dessa verdade geral, a de que todas as coisas são
governadas pela providência de Deus; (a mesma linguagem do orador pagão, Deorum
moderamine cuncta geri) "tratando da maneira como Deus governa tudo",
quão espantosamente pouco, nós sabemos das particularidades contidas sob essa
idéia! Quão pouco, nós entendemos de sua conduta divina, tanto com respeito às
nações, ou famílias, ou indivíduos! Há alturas e profundidades em tudo isso em
que nosso entendimento pode, de forma alguma, penetrar. Nós podemos
compreender, a não ser uma pequena parte de seus métodos, agora; o restante nós
devemos saber, daqui por diante.
3. Até mesmo, com
respeito á nações inteiras; quão pouco, nós compreendemos dos procedimentos providenciais
de Deus para com elas! Quais nações inumeráveis, no mundo oriental uma vez
floresceram, para o terror ao redor delas, e estão agora varridas da face da
terra; e a sua lembrança pereceu com elas! Nem foi ao contrário no mundo
ocidental. Na Europa também, nós lemos sobre muitos reinos amplos e poderosos,
dos quais apenas os nomes restaram: As pessoas desapareceram, e são como se
nunca tivessem existido. Mas por que isso tem agradado ao Todo-Poderoso
Governador do mundo varrê-los fora, com a vassoura da destruição, nós não
sabemos; esses que os sucederam são, muitas vezes, pouco melhor do que eles
mesmos.
4. Mas, não é apenas
com respeito às antigas nações, que as administrações providenciais de Deus são
extremamente incompreensíveis para nós. As mesmas dificuldades ocorrem agora.
Nós não podemos responder pelos procedimentos presentes com os habitantes da
terra. Nós sabemos que "o Senhor ama todo homem, e sua misericórdia é
sobre toda as suas obras". Mas nós não sabemos como reconciliar isso com
suas decisões divinas. Até hoje, não está a maior parte da terra repleta de
escuridão e habitações cruéis? Em que condição, em particular, está o largo e
populoso Império Indo-Europeu! Quantas centenas de milhares dessas pobres e
tranqüilas pessoas têm sido destruídas, e suas carcaças deixadas como esterco
para a terra! Em que condição (embora eles não tenham malfeitores ingleses lá)
estão as incontáveis ilhas no Oceano Pacífico! Quão pequenas são suas condições
sobre esses lobos e ursos! E quem se preocupa, seja com suas almas ou seus
corpos? Mas o Pai de toda a humanidade não se preocupa com eles? Ó, mistério da
providência!
5. E quem se preocupa
com os milhares, miríades, se não milhões, de africanos miseráveis? Rebanhos
inteiros destas pobres ovelhas (seres humanos; seres racionais!) não são,
continuamente, conduzidos, para serem comercializados, e vendidos como gado, na
escravidão mais vil, sem qualquer esperança de libertação, a não ser através da
morte? Quem se preocupa com esses homens
proscritos, os bem conhecidos africanos? É verdade, que um escritor,
recentemente, tem tomado as dores deles para representá-los, como pessoas
respeitáveis: Mas por que motivo, é difícil dizer; já que ele mesmo permite
(como um exemplo da cultura deles), que os intestinos crus de ovelhas e outros
gados sejam, não apenas, algumas das comidas escolhidas para eles, mas também o
ornamento de seus braços e pernas; e (um exemplo da religião deles). que o
filho não seja considerado um homem até que ele bata em sua própria mãe, quase
à morte; e que, quando seu pai envelhece, ele o confina em uma pequena
choupana, e o deixa lá, para morrer de fome! Ó, Pai, das misericórdias!
Essas são as obras de tuas próprias mãos, a compra, através do sangue de teu
Filho?
6. Quão pouco melhor é
tanta a condição civil, quanto a religiosa dos pobres índios americanos! Ou
seja, os poucos miseráveis que ainda restam deles: porque em algumas
províncias, nenhum deles foi deixado para respirar. Na Espanha, quando os
cristãos lá chegaram, havia três milhões de habitantes. Escassos, doze mil
deles ainda sobrevivem hoje em dia. E em que condição eles estão, ou os outros
índios, que ainda estão esparramados acima e abaixo, nos domínios do Continente
Americano do Sul ou do Norte? Religião
eles não têm; nem adoração pública de qualquer espécie! Deus não está em todos
os seus pensamentos. E a maioria deles não tem governo civil, afinal; nem leis;
nem magistrados; mas todo homem faz o que é direito aos seus próprios olhos.
Entretanto, eles estão decrescendo, diariamente; e, muito provavelmente, em um
século ou dois, não restará um deles.
7. Entretanto, os
habitantes da Europa não estão, nessa condição tão deplorável. Eles estão em
uma condição de civilização; eles ainda têm leis úteis, e são governados por
magistrados; eles têm religião; eles são cristãos. Eu temo, se eles são
chamados cristão ou não, já que muitos deles não têm religião. E o que dizer
dos milhares habitantes da Lapônia, Finlândia, Samoa, e os da Groelândia? Na
verdade, de todos aqueles que vivem nas latitudes norte? Eles são tão
civilizados, quanto uma ovelha ou um boi? Compará-los com cavalos, ou quaisquer
de nossos animais domésticos, isso poderia dar a eles muita honra! Acrescente a
esses, miríades de selvagens humanos que estão tremendo de frio, entre as neves
da Sibéria, tanto quanto, se não, em número maior, aqueles que estão
perambulando, acima e abaixo, nos desertos da Tartária. Acrescente milhares
sobre milhares de poloneses e moscovitas; e os assim chamados cristãos da
Turquia, na Europa. E não só "Deus ama" esses, "mas deu seu
Filho, seu único Filho, para que eles não perecessem e tivessem a vida eterna?
Então, por que eles são assim?" Ó, maravilha sobre todas as maravilhas!
8. Não há, igualmente,
alguma coisa misteriosa nos propósitos divinos, com respeito ao próprio
Cristianismo? Quem pode explicar por que o Cristianismo não se espalha tanto
quanto o pecado? Por que esse medicamento não é enviado a todos os lugares onde
a enfermidade é encontrada? Mas, ai de mim! Não é: "O som dele" não
adentrou ainda "em todas as terras". O veneno é difundido sobre todo
o globo, mas o antídoto não é conhecido, pela sexta parte dele! Não! E como é
que a sabedoria e bondade de Deus permitem que o próprio antídoto seja, tão
gravemente, adulterado, não apenas nas regiões de Catolicismo Romano, mas em
quase todas as partes do mundo cristão? Tão adulterado, por serem misturados,
freqüentemente, com ingredientes desnecessários ou venenosos, que ele acaba
retendo nada, ou, quando muito, apenas uma pequena parte de sua virtude
original. Sim! Ele tem sido, assim adulterado, por muitas dessas mesmas
pessoas, enviadas para ministrá-lo; de tal maneira, que ele acrescenta, dez
vezes mais malignidade, às enfermidades, às quais ele foi designado para curar!
Em conseqüência disso, há, bem menos, misericórdia ou verdade encontradas, no
meio cristão, do que no meio pagão! Ao contrário, tem sido afirmado, e eu temo
que, verdadeiramente, que muitos dos assim chamados cristãos são bem piores do
que os pagãos que os rodeiam: são mais devassos, e mais abandonados a todo tipo
de maldade; não temendo a Deus, nem ao homem! Ó, quem pode compreender isso! Será que aquele que é o ainda mais poderoso, do que o
mais poderoso dos homens, vê isso?
9. Igualmente incompreensível para nós são
os planos divinos, com respeito às famílias, em particular. Nós não podemos,
afinal, compreender, por que é que para alguns ele ergue riqueza, honra e
poder, e, nesse meio tempo, permite que outros vivam privações e aflições?
Alguns, maravilhosamente, prosperam, em tudo que eles têm na mão, e o mundo
aflui sobre eles; enquanto outros, com todo seu trabalho e labuta, podem,
escassamente, conseguir o pão de cada dia. E, talvez, prosperidade e aplauso
continuem com os primeiros, até a morte deles; enquanto, os últimos, beberão o
copo da adversidade, até o fim de suas vidas, mesmo que nenhuma razão exista
para nós que justifique, tanto a prosperidade de um, quanto a adversidade do
outro.
10. E quão pouco, nós sabemos dos
propósitos divinos, com respeito aos indivíduos. Por que uma grande quantidade
desses homens é deixada, na Europa, e nos lugares ermos da América; por que
alguns nascem de ricos e nobres, e outros, de pais pobres; por que o pai e mãe,
de um, são fortes e saudáveis; e, os de outro, são fracos e doentes; em
conseqüência disso, ele arrasta uma existência miserável, todos os dias de sua
vida, exposto às necessidades, dores e milhares de tentações, das quais ele não
encontra caminho para escapar? Quantos existem que, em sua própria infância,
foram restringidos, por tais relações, de tal maneira, que eles parecem não ter
chance (como alguns dizem), nem possibilidade de serem úteis a si mesmos ou a
outros? Por que eles são emaranhados, nessas conexões, antes mesmo de suas
próprias escolhas? Por que pessoas nocivas são colocadas, no caminho deles, sem
que eles saibam, de que maneira, eles podem escapar delas? Por que as pessoas
úteis são ocultadas de suas vistas, ou arrebatadas deles, no momento em que
eles mais precisam? Meu Deus! Quão insondáveis são os teus julgamentos e
deliberações! Muito profundos, para serem penetrados, por nossa razão; e, os
meios, para executar tais deliberações, não são, para serem reconhecidos pela
nossa sabedoria!
III.
1. Nós somos capazes
de procurar saber sobre as obras da graça, mais do que sobre as obras da
providência? Nada é mais certo do que "sem santidade, nenhum homem verá ao
Senhor". Então, por que a vasta maioria da humanidade, até onde, nós
podemos julgar, pôs fim a todos os meios, e todas as possibilidades de
santidade, até mesmo do útero de quem a gerou? Por exemplo: Qual a
possibilidade que existe dos africanos, neozelandeses, ou dos habitantes da
Nova-Zâmbia saberem, alguma vez, o que a palavra santidade significa? Ou,
conseqüentemente, de alguma vez, obtê-la? Mas alguém pode dizer: "Ele
pecou, antes de ele ter nascido, em uma condição pré-existente. Assim sendo,
ele foi colocado aqui, em uma situação tão desfavorável. É apenas mera
misericórdia que eles possam ter uma segunda chance". Eu respondo: Supondo-se
que exista tal condição pré-existente, isso que você chama de segunda chance
não é realmente uma chance, afinal. Tão logo, ele nasce, ele fica,
absolutamente, no poder de seus pais e relações, selvagens; e que, pela mesma
origem de raciocínio, educam-no, na mesma ignorância, ateísmo, e barbaridade,
que eles mesmos. Ou seja, se ele não tem possibilidade de alguma outra educação
melhor, que chance ele tem, então? Do momento em que ele nasce, até o momento
em que ele morre, ele parece estar sob a necessidade terrível de viver na
completa descrença e iniqüidade. Mas como é isso? Como esse pode ser o caso de
tanto milhões de almas que Deus criou? Tu não és o Deus "de todos os
confins da terra, e dos que permanecem nos amplos mares?".
2. Eu espero que possa
ser observado que, se isso evoluir para uma objeção contra a revelação, essa
será uma objeção que se coloca completamente contrária à religião natural,
tanto quanto à religião revelada. Se isso fosse, conclusivo, poderia nos
conduzir, não ao Deismo, mas ao Ateísmo claro. Não só concluiria contra a
revelação cristã, mas contra a existência de Deus. E, ainda eu não vejo como
nós podemos evitar a força disso, a não ser resolvendo tudo na sabedoria
insondável de Deus, junto com a convicção mais profunda de nossa ignorância e
inabilidade de penetrar em seus desígnios.
3. Mesmo entre nós,
que somos muito mais favorecidos do que esses, e aos quais foram confiados os
oráculos de Deus, cuja palavra é uma lanterna para nossos pés, e luz, em todos
os nossos caminhos, existem ainda muitas circunstâncias, em Seus desígnios, as
quais estão acima de nossa compreensão. Nós não sabemos por que ele permitiu
que nós seguíssemos, em nossos próprios caminhos, tanto tempo, antes de sermos
convencidos do pecado. Ou, por que ele fez uso desse ou daquele instrumento,
dessa ou daquela maneira. E, milhares de circunstâncias atenderam o processo de
nossa convicção, a qual nós não compreendemos. Nós não sabemos por que ele
permitiu que nós permanecêssemos, tanto tempo, antes que ele revelasse seu
Filho em nossos corações; ou por que essa mudança, da escuridão para a luz, foi
acompanhada com tais e tais circunstâncias particulares.
4. Não há dúvida da
prerrogativa peculiar de Deus para reter o "tempo e momento certo, em seu
próprio poder". E nós não podemos dar razão alguma, por que, que de duas
pessoas, sedentas por salvação, uma é presentemente levada, ao favor de Deus, e
a outra é deixada pranteando, por meses ou anos. Por que, tão logo, uma clama a
Deus, é respondida, e preenchida de paz e alegria, em acreditar; e a outra, que
busca por ele, pelo que parece, com a mesma sinceridade e seriedade, ainda
assim, não pode encontrá-lo, ou alguma consciência de seu favor, por semanas,
meses, ou anos. Nós sabemos muito bem, que isso, possivelmente, não pode ser
devido a algum grau absoluto, consignando, que, antes mesmo de ter nascido, uma
pessoa seja conduzida para a glória, e a outra para o fogo eterno; mas nós não
sabemos a razão para isso: É suficiente que Deus saiba!
5. Há, igualmente,
grande variedade, na maneira e tempo de Deus conceder sua graça santificada,
por meio da qual, ele capacita seus filhos a dar a Ele todo seu coração, e do
que, nós não podemos, de modo algum, prestar contas. Nós não sabemos por que
ele a concede, sobre alguns, antes que eles peçam por ela (alguns exemplos
inquestionáveis, do qual nós temos visto); sobre outros, alguns poucos dias
depois que eles buscaram; e ainda permite que outros crentes esperem, por ela,
talvez, vinte, trinta, ou quarenta anos; não, e outros, até poucas horas, ou
mesmo minutos, antes que seus espíritos retornem a ele. Por causa das várias
circunstâncias também, que atendem o cumprimento daquela grande promessa,
"eu irei circuncidar teu coração, para amar o Senhor teu Deus, com todo o
teu coração, e com toda a tua alma", Deus, indubitavelmente, tem razões;
mas essas razões são geralmente ocultas dos filhos dos homens. Mais uma vez:
alguns desses, que são capacitados para amar a Deus, com todo o coração deles,
e com toda a sua alma, retém a mesma benção, sem interrupção alguma, até que
sejam levados ao seio de Abraão; outros, não a retém, embora eles não estejam
conscientes de que afligiram o Espírito Santo de Deus. Isso nós também não
podemos entender: Nesse lugar, "nós não conhecemos a mente do
Espírito".
Diversas lições valiosas nós podemos aprender da consciência profunda
de nossa própria ignorância. Primeiro,
a lição da humildade; não
"pensar, em nós mesmos"; particularmente, com respeito ao nosso
entendimento, "maior, do que nós devíamos considerar"; mas
"pensar, sobriamente"; estando, completamente, convencido de que não
é suficiente, de nós mesmos, ter um pensamento bom; já que nós podemos estar
sujeitos a tropeços, em cada passo, a errar, todo o momento de nossas vidas, não
fosse o que nós temos, "a unção do Espírito Santo", que habita
"conosco"; não fosse Ele que conhece o que há no homem, socorrer
nossas enfermidades; e que "há um espírito, no homem, que traz
sabedoria", e a inspiração do Espírito Santo que "traz entendimento".
Disso, nós podemos aprender, em Segundo
Lugar, a lição da fé, da
confiança em Deus. A convicção plena de nossa própria ignorância nos ensina a
confiar, completamente, em sua sabedoria. Pode nos ensinar (o que não é sempre
tão fácil, como alguém poderia conceber) a confiar no Deus invisível, muito
além, do que se nós pudéssemos vê-lo! O que pode nos assistir, no aprendizado
dessa lição difícil, é "subjugar" nossa própria
"imaginação" (ou melhor, raciocínio, como a palavra,
propriamente, significa); "subjugar todas as coisas que o exalte contra o
conhecimento de Deus, e traga para a escravidão todo pensamento de obediência a
Cristo". Há, até o momento, duas grandes obstruções, na nossa formação de
um julgamento correto dos desígnios de Deus, com respeito ao homem. O primeiro,
é que existem fatos inumeráveis, relacionados a todos os homens, os
quais não sabemos, ou podemos saber. Eles estão, no momento, oculto de nós, e
escondidos de nossa busca, pela escuridão impenetrável. O outro é que nós não podemos ver os
pensamentos dos homens, mesmo quando nós conhecemos suas ações. Além do
que, não conhecendo suas intenções; nós podemos apenas julgar, de
maneira equivocada, as atitudes exteriores deles. Conscientes disso, "não
julgar coisa alguma antes do tempo" concernente aos planos divinos Dele;
até que Ele possa trazer para a luz "as coisas ocultas da escuridão",
e manifeste "os pensamentos e intenções do coração". Da consciência
de nossa própria ignorância, nós podemos aprender, em Terceiro Lugar, a lição da resignação. Nós podemos ser instruídos a dizer, todo o tempo,
e em todas as instâncias, "Pai, não como eu desejo; mas como tu
desejas". Essa é a última lição que nosso abençoado Senhor (como homem)
aprendeu, enquanto ele estava na terra.
Ele não pode ir mais alto, do que, "Não como eu desejo, mas como tu
desejas", até que ele curvou sua cabeça e liberou a alma. Deixe-nos
também, proceder, em conformidade com sua morte, para que possamos conhecer
completamente, o "poder de sua ressurreição!".