O
SERMÃO DO MONTE
O sermão do monte apresenta
princípios éticos e morais pertinentes ao reino do Messias? Que relação há
entre a degradação moral do gênero humano e os princípios anunciados por Jesus?
O sermão do monte é um conjunto de normas e princípios de cunho ético e moral?
É um estatuto do reino de Cristo? Basta comportar-se segundo alguns princípios
éticos e morais que o homem terá direito ao reino dos céus?
E Jesus, vendo a
multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus
discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
( Mt 5:1 -11)
Há várias teorias que tentam
explicar o sermão do monte.
Para alguns estudiosos o
sermão do monte é um 'evangelho' exclusivo do reino de Jesus. Outros
compreendem que o sermão apresenta princípios éticos e morais pertinentes ao
reino do Messias. Geralmente fazem um comparativo entre a degradação moral do
gênero humano e os princípios anunciados no sermão.
Diante das análises e de
algumas contradições, ficam as questões: O sermão do monte é um conjunto de
normas e princípios de cunho ético e moral? É um estatuto do reino de Cristo?
Basta praticar o que Jesus anunciou e o homem terá direito ao reino dos céus?
Para compreendermos a mensagem
de Jesus, é necessário observarmos alguns versículos do Antigo Testamento e a
dinâmica do aprendizado da Escritura naquela época. Dentre vários versículos
destacamos:
"Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo SENHOR, o escudo do teu socorro, e a espada da tua majestade; por isso os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás sobre as suas alturas" ( Dt 33:29 );
"Provai,
e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele confia" ( Sl
65:4 );
"Bem-aventurado aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus átrios" ( Sl 34:8 );
"Bem-aventurado
o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos
aplanados" ( Sl 84:5 ).
Sobre a dinâmica do
aprendizado do povo judeu, destacamos:
Vários livros do Antigo Testamento fazem referência à bem-aventurança. Dentre eles o livro de Provérbios e o livro dos Salmos são os que mais fazem referências as bem-aventuranças. Estes livros do Antigo Testamento eram lidos constantemente nas sinagogas, e mesmo aqueles que não sabiam ler conheciam de cor algumas das citações, entre elas as que envolviam a ideia da bem-aventurança.
É importante lembrar que
naquela época um livro era caríssimo, e o povo não tinha acesso ou não sabiam
ler, o que fortalecia a necessidade de memorizar o que era lido. Eles dependiam
da leitura no templo para ouvirem trechos da lei, dos profetas e dos cânticos.
O livro de Provérbios e os Cânticos dos Salmos auxiliavam em muito no processo
de memorização.
Outra característica dos
textos que fazem referência a bem-aventurança é a conexão com o nome do Deus de
Israel. No Antigo Testamento a idéia da bem-aventurança decorre do favor de
Deus para com os homens.
Um mestre sempre se assentava
para ensinar e Jesus assentou sobre o monte cercado pelos seus discípulos e
pela multidão. A multidão ao ver que Jesus se assentou, cercou-lhe ansiosa para
ouvir o discurso.
Jesus havia percorrido toda a
Galiléia curando os enfermos, ensinando nas sinagogas e pregando o evangelho. A
notícia de suas ações percorria todas as cidades. Uma grande multidão vinda de
várias cidades o seguia ( Mt 4:25 ).
Vendo Jesus a grande multidão subiu a um monte e assentou-se ( Mt 5:1 ); os seus discípulos aproximaram-se e ele passou a ensiná-los!
Vendo Jesus a grande multidão subiu a um monte e assentou-se ( Mt 5:1 ); os seus discípulos aproximaram-se e ele passou a ensiná-los!
Há muito tempo que o povo
ouvia falar das bem-aventuranças prometidas nas escrituras, mas a situação era
de opressão e miséria.
A fama de Jesus havia criado
uma expectativa na multidão, e quando Jesus falou sobre a bem-aventurança,
materializou-se a esperança dos ouvintes. Anos após anos os pais anunciavam aos
filhos uma época de alegria plena, mais ainda não tinham experimentado da
alegria prometida por Deus.
O sermão do monte iniciou-se
com uma mensagem de alegria a um povo oprimido e sem esperança. Jesus apresenta
uma esperança viva, porém, o discurso endurece logo em seguida. O povo esperava
refrigério e segurança nesta vida. Esperavam um Messias que os libertasse da
escravidão política.
Qual a mensagem Jesus
transmitiu ao povo no sermão do monte? Sobre que alegria Jesus falou? Que
esperança foi transmitida? A alegria prometida dependia do cumprimento de mais
normas e regras?
Conheça um pouco mais sobre
este importante sermão!
"Bem-aventurados
os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus"
As pessoas ao ouvirem: "Bem-aventurados...",
logo fizeram conexão com algumas das citações bíblicas. Será que Ele comentará
um dos Provérbios? Será que ele citou Salmos? Ou a abordagem dele será extraída
da lei?
A bem-aventurança é um tema
que prendeu a atenção dos ouvintes de Jesus e em nossos dias ainda cria
expectativa nos leitores. Afinal, quem não quer ser bem-aventurado?
Quando Jesus complementa: "Bem-aventurados OS POBRES..." a mensagem toca ainda mais os ouvintes. Esta seria uma mensagem inesquecível, pois tocou a emoção do povo: "Será uma revolução social? É agora que alcançaremos a hegemonia política e a paz prometida?".
Quando Jesus complementa: "Bem-aventurados OS POBRES..." a mensagem toca ainda mais os ouvintes. Esta seria uma mensagem inesquecível, pois tocou a emoção do povo: "Será uma revolução social? É agora que alcançaremos a hegemonia política e a paz prometida?".
A promessa de alegria aos
pobres é plenamente compreensível, mas o que entender do qualificativo
adicionado ao substantivo pobre? "Bem-aventurados os pobres de
espírito...". Quem são os pobres de espírito?
Jesus estava rodeado de pobres
de várias cidades circunvizinhas. Se a mensagem fosse somente: 'bem-aventurados
os pobres', ela seria aceita e ovacionada pela multidão! Jesus teria
conquistado os seus ouvintes e mais seguidores. Mas, como um povo que
professava 'a melhor' religião, com princípios éticos e morais intocáveis e que
se consideravam filhos de Abraão poderia aceitar ou reconhecer ser um 'pobre de
espírito'?
Como alguém observador da lei
reconheceria a condição de pobreza espiritual?
No Antigo Testamento não
consta o conceito 'pobre de espírito'. Mas, Aquele que representava uma
esperança de mudança na condição do povo, apresenta um novo conceito e uma
necessidade de reconhecer uma condição que caracteriza os pecadores ou os
incircuncisos. Como um filho de Abraão poderia reconhecer que era pobre de
espírito?
Jesus completou a frase: "...porque
deles é o reino dos céus". Muitos se perguntaram: De quem é o reino dos
céus? Dos pobres de espírito?
Além do mais, o povo estava a
procura de curas, de pães, de peixes, de um reino terreno, mas Jesus estava
falando de um outro reino: do reino dos céus!
Onde fica este reino? O que é
o reino dos céus?
Para responder essas perguntas
devemos observar a mensagem que foi anunciada desde o nascimento de Cristo: "E,
naqueles dias, apareceu João batista pregando no deserto da Judéia, e dizendo:
Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" ( Mt 3:1 -2); "Desde
então começou Jesus a pregar, e a dizer: arrependei-vos, porque é chegado o
reino dos céus" Mt 4: 17.
Verifica-se que o reino dos
céus diz da pessoa de Cristo, como profetizou Isaias e reafirmou João Batista: "Porque
este é o anunciado pelo profeta Isaias, que disse: Voz do que clama no deserto:
Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas" ( Mt 3:3 ).
Quando Jesus disse: "Bem-aventurados
os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus", Ele não estava
denunciando a moral do povo. Ele não estava apregoando um reino humano ( Jo
18:36 ). Também não estava em busca de uma melhoria na condição socioeconômica
do povo ( Jo 12:8 ). Antes Jesus estava se apresentando ao povo por parábolas.
Com a sua mensagem, Jesus
expôs ao povo que Ele é o acesso ao reino dos céus, e que todos aqueles que
reconhecessem que eram pobres de espírito, estes seriam bem-aventurados.
Àqueles que reconhecessem a precária condição espiritual que se encontravam,
pertenciam o reino dos céus, que é Cristo. Eles precisavam reconhecer que eram
necessitados espiritualmente.
Enquanto queriam pão, Jesus
estava apresentado o pão vivo que desceu dos céus. Enquanto buscavam um reino,
Jesus estava lhes abrindo a porta do reino dos céus. A relutância em aceitar a
condição de necessitados espiritualmente persistiu até mesmo entre os
discípulos que criam nele: "Responderam eles (os judeus que criam nele):
somos descendentes de Abraão, e jamais fomos escravos de ninguém" ( Jo
8:31 -33).
Eles acreditavam estar
abastados espiritualmente por serem descendentes de Abraão. Ao se auto
proclamarem como filhos de Abraão, os judeus estavam cônscios de que eram
filhos de Deus ( Jo 8:41 ). Ser filho de Abraão para eles era o mesmo que ter a
filiação divina. Por isso João Batista disse que das pedras Deus poderia fazer
filhos para si. Em razão desta crença os judeus não admitiam que eram escravos
de ninguém, uma vez que se admitissem ser escravos, era o mesmo que admitir que
alguém havia conquistado o próprio Deus ( Jo 8:33 ).
"Bem-aventurados
os que choram, porque eles serão consolados"
O sermão prossegue: "Bem-aventurados
OS QUE CHORAM...". A bem-aventurança depende da emoção humana? O choro
como consequência direta de uma emoção humana concede o favor de ser consolado?
Não! A ideia apresentada neste
versículo complementa a anterior.
O choro denota a condição de
impotência frente a questões impossíveis. Após reconhecer a condição de
miserabilidade espiritual, a reação do homem é o choro.
A única ação de um miserável é
o choro, e serão consolados!
Para que o abatido seja
consolado, é preciso que habite com alguém que lhe arranque da miséria: "Porque
assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo:
Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito,
para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos
contritos" ( Is 57:15 ; Sl 51:17 ).
Compare:
"Bem-aventurados os
pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" ( Mt 5:3 ).
"...como
também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos
abatidos, e para vivificar o coração dos contritos" ( Is 57:15 ).
O salmista quando pedia perdão
ao Senhor disse: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um
espírito reto" ( Sl 51:10 ).
Quem haveria de consolar os
que choram? Os que choram serão consolados por Aquele que tem o reino dos céus.
É Ele que enxugará todas as lágrimas!
A resposta está em Isaias: "O
espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar
boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a
proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; A apregoar
o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos
os tristes" ( Is 61:1 -2).
"Bem-aventurados
os mansos, porque eles herdarão a terra"
A mensagem de Jesus
possivelmente formou um impasse na mente dos ouvintes: Moisés, o homem mais
manso da terra não conseguiu herdar a terra, como herdar a terra se os ouvintes
não se consideravam maiores que Moisés "E era o homem Moisés mui manso,
mais do que todos os homens que havia sobre a terra" ( Nm 12:3 ).
Se Moisés, considerado um dos
homens mais manso da terra, não conseguiu herdar a terra, qual a intenção de
Jesus ao declarar que os mansos são felizes?
Mas a pergunta persiste: Quem
são os mansos? Qual é a terra a se herdar?
"E os
mansos terão gozo sobre gozo no SENHOR; e os necessitados entre os homens se
alegrarão no Santo de Israel" ( Is 29:19 ).
"Os mansos
comerão e se fartarão; louvarão ao SENHOR os que o buscam; o vosso coração
viverá eternamente" ( Sl 22:26 ).
"Mas os
mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundancia de paz" ( Sl 37:11
).
À exemplo do Antigo Testamento
as bem-aventuranças decorre do Senhor de Israel, mas, como alcançar tamanha
alegria e ainda herdar a terra? E qual terra?
Jesus é a resposta: "Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e
encontrareis descanso para as vossas almas" ( Mt 11:29 ).
"Bem-aventurados os
mansos, porque eles herdarão a terra;"
"....aprendei
de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as
vossas almas"
Observe a relação entre os
dois versículos: aqueles que se deixarem instruir por Jesus, o Mestre por
excelência, estes serão felizes por alcançar o prometido, descanso para as
almas. Estes serão bem-aventurados por alcançar o prometido: a promessa de
herdar a terra equivale ao descanso para a alma para aqueles que se deixarem
instruir.
Quando Jesus falou
'bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra', não foi com o
intuito de concitar os ouvintes a que tivessem uma personalidade semelhante ou
superior a de Moisés.
A mansidão que Jesus faz
referência não é comportamental, antes é a mansidão vinculada ao coração, ou a
nova natureza do homem. Após o homem aprender de Jesus haverá uma transformação
na natureza do homem, e estes receberão a plenitude de Cristo, e serão
semelhantes a Ele: mansos e humildes de coração ( Cl 2:10 ).
Quando Jesus afirmou que os
mansos herdarão a terra, Ele não fez referência a elementos deste mundo, mas ao
descanso preparado por Deus. A 'terra' representa um lugar de descanso que Deus
preparou para os que aprenderem daquele que é por excelência manso de coração "Ora,
nós, os que temos crido, entramos no descanso..." ( Hb 4:3 -10).
A terra prometida no Antigo
Testamento estava atrelada a idéia de descanso, e no Novo Testamento a
referência a terra diz de coisas melhores: do descanso de Deus. Aqueles que
aprenderem com Cristo, estes terão descanso para as suas almas.
Aquele que encontra descanso
para a sua alma em Cristo não receberá como herança um torrão de terra, antes
será herdeiro de novos céus e nova terra "Mas nós, segundo a sua promessa,
aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça" ( 2Pe 3:13 ).
O apóstolo Pedro ao referir-se
aos mansos de coração, não fala do homem natural, mas daquele homem que não
conseguimos visualizar, aquele 'encoberto no coração', do homem regenerado, que
possui um incorruptível traje de um espírito manso e quieto "Mas o homem
encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que
é precioso diante de Deus" ( 1Pe 3:4 ).
O que é precioso diante de
Deus? O que possui valor para com Deus? Segundo o apóstolo Paulo o que tem
valor, o que tem virtude diante de Deus, é o ser uma nova Criatura: "Porque
em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim
a fé que opera pelo amor" ( Gl 5:6 ); "Porque em Cristo Jesus nem a
circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova
criatura" ( Gl 6:15 ).
Como a fé 'vem pelo ouvir', e
o 'ouvir pela palavra de Deus', quando Jesus diz que devemos aprender dele, é porque
o seu ensino produz fé que faz os seus ouvintes alcançar uma nova vida com
direito a ser herdeiro com Cristo. Como Cristo descansou de suas obras, como
herdeiros de Deus, os de novo gerado alcançam a bem-aventurança.
Através da regeneração o homem
adquire a natureza de Cristo, ou seja, é gerado segundo Deus um novo homem em
verdadeira justiça e santidade, características pertinentes a pessoa de Cristo.
Somente através do novo nascimento o homem torna-se humilde e manso de coração.
"Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos"
Percebe-se que Jesus não
estava se referindo à justiça que é administrada nos tribunais dos homens! A
abordagem de Jesus em momento algum teve objetivos político. Jesus não estava
preocupado com os problemas atrelados as injustiças sociais. Jesus não estava
promovendo mais uma obra de caridade.
Em momento algum Jesus expôs
os princípios anunciados pela teologia da libertação em que a prática de
justiça esteja atrelada a transformações de ordem econômicas, social e
políticas. Em momento algum Jesus demonstra que a bem-aventurança dependa de
transformações sociais ou que se fundamenta nas relações sociais.
Jesus não estava promovendo
diretamente a prática da fraternidade, o equilíbrio nas relações no exercício
do poder ou incentivando a partilha de bens no intuito de equilibrar a
distribuição de riquezas.
Não! O sermão do monte trata
de questões eminentemente espirituais.
Se Jesus estivesse promovendo
a solidariedade humana como requisito para se alcançar a verdadeira alegria,
ele não teria protocolado um veemente protesto aos seus ouvintes: "Porque
vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo
nenhum entrareis no reino dos céus" ( Mt 5:20 ).
Você já observou o conceito dos
fariseus e dos escribas frente a multidão? Para o povo os fariseus e os
escribas eram o que a sociedade tinha de melhor. Porém, a análise de Cristo é
diferente: "Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas
interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade" ( Mt 23:28 ).
Os religiosos pareciam justos,
mas a natureza deles era incompatível com a divina: estavam plenos de iniquidade.
Como seria possível as obras
dos ouvintes de Jesus alcançar uma posição maior em relação aos fariseus e
saduceus? Como entender o ter fome e sede de justiça? Onde os ouvintes de Jesus
encontrariam fartura de justiça?
Se conseguirmos responder a
estas perguntas, estaremos bem próximo de entender todos os conceitos
apresentados por Jesus no sermão do monte.
Jesus não se ocupou em
estabelecer um novo padrão de conduta para os seus ouvintes. Também não foi
oferecido felicidade e alegria com base nas emoções e motivações humanas.
A felicidade do homem neste
mundo envolve outros aspectos e não está vinculado ao que Cristo apregoou no
sermão do monte "Porque quem quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie
a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano. Aparte-se do mal, e
faça o bem; Busque a paz, e siga-a" ( 1Pd 3:10 -11).
Se alguém procura a felicidade
deste mundo, basta seguir o que disse o apóstolo Pedro, ao citar o ( Sl 34:12
-14). Basta ter uma vida correta diante da sociedade que o homem terá uma vida
tranqüila e sossegada em muitos aspectos.
O que Jesus oferece através
das bem-aventuranças vai além das perspectivas humanas e não se refere a este
mundo. A missão de Jesus é resgatar os pobres de espírito, sem qualquer
referência aos valores humanos, personalidade, caráter, moral, etc. Todos estes
elementos sofrem transformações ao longo do tempo, e difere de sociedade para
sociedade.
Os valores de hoje são
totalmente diferentes dos valores de cem anos atrás. O caráter e a moral
sofreram transformações e se adequou a sociedade moderna. Se a salvação
estivesse apoiada nestas questões circunstanciais, qual seria o padrão correto
de conduta nestes séculos de história da igreja?
Jesus não apoiou a sua
doutrina no homem ou em seus méritos. A doutrina de Jesus não faz acepção de
pessoas, de condição social, de épocas ou de cultura. A mensagem de Jesus é a
mesma para os pobres e para os ricos. Ambos precisam reconhecer a miséria
espiritual que se encontram.
Todos os homens precisam
arrependerem-se e o primeiro passo está em reconhecer a condição de miséria
espiritual e a necessidade de socorro divino. Todos os homens estavam mortos em
delitos e pecados, sem qualquer distinção entre eles.
A próxima bem-aventurança
anunciada por Jesus encera um desejo de mudança. Diante da condição de miséria
espiritual, quando o homem reconhece a sua real condição, resta somente o
choro, e a obra a ser realizada para mudar este quadro fica na dependência de
Deus.
Aqueles que se deixam instruir
por Jesus, o manso e humilde de coração, livram-se da condição de miséria
espiritual conforme foi apregoado tempos depois "Jesus dizia, pois, aos
judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente
sereis meus discípulos. E conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará" ( Jo 8:31 -32).
"Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos"
Ainda persistem as perguntas: Como ter fome e sede de justiça? Onde encontrar fartura de justiça? A resposta para estas perguntas nos fará compreender melhor os conceitos apresentados por Jesus no sermão do monte.
"Ó VÓS, todos
os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde,
comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho
naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a
vossa alma se deleite com a gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim;
ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua,
dando-vos as firmes beneficências de Davi" ( Is 55:1 -3).
O paradoxo perdura: Diante de
uma multidão faminta e sedenta Jesus declara que aqueles que têm fome e sede
são felizes. As necessidades básicas dos ouvintes de Jesus eram evidentes.
Porém, Jesus não se atem a problemática social. O fato de não ser tolerante às
injustiças sociais não aproxima o homem de Deus. Promover projetos de cunho
social não é o caminho que conduz aos céus.
Em um mundo em crise social,
econômica, política, familiar, etc, as pessoas desejam mudanças urgentes e
clamam por justiça, mas esta 'fome' e 'sede' de justiça não é a que traz a
verdadeira felicidade. A mensagem do evangelho não coaduna com a teologia da
libertação.
Somente os pobres de espírito
têm sede e fome de justiça. Os 'ricos' espirituais são aqueles que se consideram
justos diante de Deus. São aqueles que se justificam por meio de suas ações
diante dos homens.
Os pobres nada têm neste mundo
para sentirem-se seguros, mas eles terão o reino dos céus. Somente os pobres de
espírito sentem fome e sede de justiça, e em Deus serão fartos. Aquele que
concede o reino dos céus é justo e justificador, e somente ele pode satisfazer
o que é exigido pela sua justiça.
O profeta Isaías há muito
tempo anunciou aos pobres que bastavam vir e comprar o melhor que se podia
oferecer: vinho e leite. Que convite! Que alegria! Os pobres foram convidados a
terem o que as suas posses não podiam arrematar.
Porém, o profeta protesta: "Porque
gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o produto do vosso trabalho naquilo
que não pode satisfazer?" ( Is 55:2 ). A quem o profeta se referia?
Aqueles que consideravam não ter sede e fome! Aqueles que consideravam ter
trabalhado o bastante para satisfazer as suas necessidades. Estes trabalharam
em vão.
Os pretensos ricos estavam
gastando naquilo que não podia satisfazer a necessidade essencial do homem.
Mas, de que maneira os pobres
de espírito podem saciar a fome e a sede? A resposta é bem simples: "Ouvi-me
atentamente... Inclinai os vossos ouvidos...". Simples assim ser abastado
de justiça? É isso que o profeta Isaías disse: Todos que ouvirem atentamente a
palavra de Deus, estes comerão o que é bom, o melhor! O que pode fazer deleitar
a alma.
Qual é o deleite da alma? O
que a palavra de Deus pode suprir? "Ouvi, e a vossa alma viverá". Se
o homem tem sede e fome de justiça, ela será saciada a partir do momento que se
obter da vida que há em Deus. Só após tornar participante da natureza divina o
homem estará abastado de justiça.
Não é o trabalho do homem que
satisfaz a necessidade da alma. Não é doações, não é pratos de sopas, não é
reconhecendo os erros do dia-a-dia, não é fazendo sacrifícios que o homem irá
satisfazer a necessidade primária da criatura de Deus.
O que satisfaz a necessidade
dos homens é o fruto do trabalho de Deus: "Ele verá o fruto do trabalho da
sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo,
justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si" ( Is
51:11 ).
O fruto do trabalho do servo
do Senhor se resume em conhecimento. Conhecimento é transmitido através da
palavra! O trabalho do Senhor é realizado por meio da sua palavra, e todos que
participarem do fruto oferecido terão nova vida.
Após aprender daquele que é
humilde e manso de coração "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim,
que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas
almas" ( Mt 11:29 ), o homem encontrará descanso e o verdadeiro alimento
para a alma.
Cristo não estava preocupado
com a miséria socioeconômica do povo. A falta de moradia não era a causa ou a
bandeira do evangelho. O evangelho social não estava em voga no discurso do
Messias.
Cristo levou a iniquidade de
todos nós, mas é o conhecimento transmitido por Ele que nos justifica. Ou seja,
quando Paulo diz que a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus, nada
mais é do que aprendermos com Aquele que é manso e humilde de coração.
Através do conhecimento
adquirido vem a fé, e por meio da fé podemos agradar a Deus. Após adquirir vida
através da palavra de Deus, adquirimos um espírito manso, somos justificados,
ou seja, declarados justos diante de Deus.
Não é o caráter do homem que é
transformado. O homem não recebe uma moral 'nova' ao adquirir o conhecimento do
Santo. Antes, o homem tem o seu ser criado novamente em verdadeira justiça e
santidade ( Ef 4:24 ), e a sua alma alcança descanso no Bom Pastor.
Aqueles que entram por Cristo
haverão de entrar, sair e achar pastagem. Estes estão de posse do descanso
prometido por Deus ( Jo 10:9 ; Sl 23).
Através do evangelho de Cristo
o homem descobre a justiça de Deus ( Rm 1:17 ). Ao se alimentar das promessas
contidas no evangelho, o homem alcança maravilhosa fé que provem de Deus e
passa a ter vida dentre os mortos.
O ladrão na cruz foi
justificado ao refugiar-se em Cristo após reconhecer a sua miséria. Ele não
tentou agarrar-se a vida aqui, mas implorou pela futura ( Mt 10:39 ). Talvez
aquele homem nunca desejasse a justiça dos homens. Talvez ele sempre fosse um
excluído da sociedade. Mas, um único encontro com a justiça de Deus revelada
aos homens foi o suficiente para que um pobre de espírito obtivesse a vida
eterna.
Jesus continuou a falar da
necessidade em se ter fome e sede de justiça em contraste com a situação dos
fariseus e saduceus "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a
dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus" ( Mt
5:20 ).
Somente aqueles que se
alimentam da palavra de Deus têm em si a justiça maior, que ultrapassa em muito
a dos fariseus. Basta o homem reconhecer a sua pobreza espiritual que Deus não
negará o alimento necessário que produz nova vida "Porque, assim como
desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a
fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim
será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia,
antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei" ( Is
55:10 -11).
Para os homens, os fariseus e
os escribas representavam o que a sociedade tinha de melhor, mas a análise de
Cristo é diferente: "Assim também vós exteriormente pareceis justos aos
homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade" (
Mt 23:28 ).
Só em Cristo é possível obter
a justiça que vem de Deus. Após ser justificado por meio de Cristo o homem
obtém o direito de entrar no reino dos céus.
"Bem-aventurados
os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia"
Por que os misericordiosos alcançarão misericórdia? É uma das qualidades que devemos ter? Jesus estava incentivando o perdão entre os seus ouvintes? Se não demonstramos misericórdia aos nossos semelhantes não obteremos da misericórdia de Deus?
A misericórdia aqui prometida
não refere-se a misericórdia que devemos oferecer aos nossos semelhantes. Ser
compassivo com o próximo não habilita ninguém a receber a misericórdia divina.
A experiência demonstra que ao sermos cordiais com os nossos semelhantes
teremos uma vida melhor nesta terra, mas isto não significa que obteremos
misericórdia de Deus porque exercermos misericórdia.
Só é bem-aventurado aquele que
alcança a misericórdia divina, pois toda bem-aventurança advém de Deus. Porém,
tal bem-aventurança não esta condicionada ao comportamento humano.
Daí surge à questão: Como ser
misericordioso para alcançar misericórdia? Se com Deus não barganha?
O que Jesus ensinou não se
compara aos ensinamentos budistas, espiritualistas, etc. Jesus não falou na
reciprocidade necessária ao tratamento humano. Ele não se ocupa em tratar de
questões comportamentais como o fazem as várias religiões pelo mundo.
Jesus está tratando desde o
início do sermão de questões exclusivamente espirituais e este versículo não é
exceção: Observe este salmo: "Bem-aventurado aquele cuja transgressão é
perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não
imputa maldade, e em cujo espírito não há engano" ( Sl 32:1 -2).
Ser misericordioso é condição
que decorre do novo nascimento, onde o justificado passa a ser semelhante a
Cristo. Tal semelhança não se manifesta na conduta, mas decorre da nova
natureza.
Todo aquele que é instruído
por Jesus passa a ser manso e humilde de coração; aquele que se alimenta dos ensinos
de Cristo passam a ser fartos de Justiça, pois são criados em verdadeira
justiça e santidade; aqueles que recebem de Deus misericórdia, passam a
condição de misericordiosos.
A misericórdia de Deus é
demonstrada em perdão. Deus não imputa maldade àqueles que são alvos de sua
misericórdia. Como? O salmista responde:
"Bem-aventurado
aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto"
Quem é bem-aventurado? A resposta é aquele! Aquele quem? O transgressor, o pecador! Se o transgressor, o pecador, é quem recebe a dádiva de Deus, percebe-se que o salmista fala do velho homem. O homem precisa de perdão, mas para isso a velha natureza precisa ser coberta na morte com Cristo.
O transgressor é alvo do
perdão divino desde que seja satisfeita uma condição da retidão e da justiça
divina: a alma que pecar, esta morrerá! Ou seja, se você é pecador só cessará
do pecado após morrer com Cristo. Este é o novo e vivo caminho que nos foi
aberto pelo corpo de Cristo.
O versículo citado acima
aponta para o homem não regenerado.
"Bem-aventurado
o homem a quem o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há
engano"
O homem cuja transgressão é perdoada, após receber o perdão, estará na condição apresentada neste verso: O Senhor não lhe imputará maldade, e em seu espírito não haverá engano, visto que foi de novo criado, segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade.
Estes dois versículos apontam
duas situações distintas de um mesmo homem. Bem-aventurado é o homem:
a)
cujo pecado é coberto, e;
b)
cujo espírito não há engano. Este é o novo homem e aquele o velho homem.
O novo homem gerado em Cristo
não tem maldade a ser imputada. Se tivesse, é certo que seria imputada, pois
Deus não tem o culpado por inocente. Só o novo homem não possui engano ou
falsidade em sua natureza.
Quando o apóstolo Paulo
recomenda aos cristãos serem misericordiosos, ele está abordando questões comportamentais
pertinentes aos cristãos, mas o tema não é o mesmo apresentado por Jesus "Antes
sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos
outros, como também Deus vos perdoou em Cristo" ( Ef 4:32 ).
Agora, quando Cristo diz:
"Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso"
( Lc 6:36 ), ele está falando do mesmo tema apresentado na bem-aventurança. O
homem é bem-aventurado quando alcança a filiação divina. As condições
necessárias para que o homem seja verdadeiramente misericordioso só é possível
àquele que Deus recebe por filho.
Observe o que Jesus ensinou: "E,
levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os
pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes
fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque
haveis de rir. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos
separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do
Filho do homem. Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso
galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas";
Porém aos abastados
espiritualmente diz: "Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa
consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, os
que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis. Ai de vós quando todos os
homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos
profetas";
E Jesus passa a alertar os
seus ouvintes:
"Mas a vós,
que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam;
Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir
numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a
túnica recuses; E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não
lho tornes a pedir. E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma
maneira lhes fazei vós, também";
Observe que é impossível ao
homem alcançar o padrão de comportamento descrito acima, mas é plenamente
possível a qualquer homem o comportamento descrito abaixo?
"E se
amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos
que os amam. E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis?
Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais
tornar a receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos
pecadores, para tornarem a receber outro tanto";
Jesus recomenda um novo padrão
de comportamento aos seus ouvintes?: "Amai, pois, a vossos inimigos, e
fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e
sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e
maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. Não
julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados;
soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida
e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com
que medirdes também vos medirão de novo";
A nova forma de comportamento
demonstra que o homem está de posse da filiação divina. As questões
comportamentais não levam o homem a alcançar a filiação divina, mas quando se
alcança a filiação por meio de Cristo, o homem terá em si as condições
necessárias para ter um comportamento a altura de sua nova condição.
Quando Jesus disse: "Sede,
pois, misericordiosos..." o que realmente ele recomendou? A resposta
encontra-se na parábola: "E dizia-lhes uma parábola: Pode porventura o
cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova? O discípulo não é superior a seu
mestre, mas todo o que for perfeito será como o seu mestre. E por que atentas
tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está
no teu próprio olho? Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o
argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu
olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para
tirar o argueiro que está no olho de teu irmão";
Jesus recrimina os lideres
religiosos judeus: eles eram cegos guiando uma multidão de cegos. Qualquer um
que aprendesse com um fariseu, o máximo que alcançaria era ser um fariseu.
A perfeição que alguém poderia
alcançar aprendendo de um fariseu seria: "... exteriormente pareceis
justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de
iniqüidade" ( Mt 23:28 ).
"Porque não há boa árvore
que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece
pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se
vindimam uvas dos abrolhos. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o
bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da
abundância do seu coração fala a boca"
Por meio de parábolas Jesus
evidência um princípio pertinente ao evangelho: só é possível um homem produzir
o bem a partir do momento que ele estiver ligado a oliveira, que é Cristo.
Aquele que não está em Cristo
obrará o mal sempre, e aquele que em Cristo estiver produzirá segundo a espécie
da sua boa árvore, o bem. A transformação que se opera na natureza transbordará
além do coração. O homem poderá tirar o bem do bom depósito.
"E por que
me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? Qualquer que vem a mim
e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante:
É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pós
os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente
naquela casa, e não a pode abalar, porque estava fundada sobre a rocha. Mas o
que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra,
sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a
ruína daquela casa".
Toda obra que o homem edifica
se não estiver alicerçada em Cristo, nada representa para Deus. O exemplo da
árvore e da casa alicerçada versa sobre os mesmos princípios.
"Bem-aventurados
os limpos de coração, porque eles verão a Deus"
Observe que após a segunda
bem-aventurança ocorreu uma mudança sutil na composição do texto. No início do
sermão Jesus destaca a necessidade daqueles que são bem-aventurados: pobres e
que choram. Ele destacou a necessidade e o que alcançaram: o reino dos céus e o
serem conciliados.
Deste ponto em diante Jesus
passou a destacar a nova condição daqueles que já haviam alcançado o reino dos
céus e estavam consolados. Jesus passa a descrever os bem-aventurados como
mansos, misericordiosos, puros de coração, pacificadores, etc.
Só é possível ver a Deus
quando se está limpo de coração, e a palavra de Deus tem esta função, remover
todas as impurezas. Por meio da palavra do evangelho os discípulos estavam
limpos. De igual forma, todos quantos ouvirem do evangelho e crerem em Cristo
também estão limpos: "Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho
falado" ( Jo 15:3 ).
Quem são os limpos de coração?
Como alcançar esta condição?
Os limpos de coração são
aqueles que ouviram e aprenderam de Cristo, que é manso e humilde de coração.
Os limpos de coração são aqueles que alcançaram a condição de filhos de Deus,
uma vez que morreram com Cristo e ressuscitaram com Ele uma nova criatura.
O novo homem é criado através
do poder de Deus que o evangelho contém, e por meio desta nova criação o homem
passa a ter um novo espírito e um novo coração, limpo de impurezas ( Rm 1:16 ;
Jo 1:12 -13). Estes são os Regenerados.
Alguém pode questionar: Como é
possível ver a Deus? João responde: "Deus nunca foi visto por alguém. O
Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou" ( Jo 1:18 ).
Aqueles que são instruídos por
Cristo verão a Deus, pois estão completamente lavados peal palavra do
evangelho.
"Bem-aventurados
os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus"
Jesus dá outro título aos
bem-aventurados: pacificadores!
Quem são, e o que é ser um
pacificador? Seriam aqueles que repudiam a guerra? Não!
Os pacificadores são aqueles
que levam as boas novas de paz. Àqueles que anunciam que Deus está em Cristo
reconciliando consigo mesmo o mundo! Estes são os pacificadores "Isto é,
Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus
pecados; e pós em nós a palavra da reconciliação" ( 2Co 5:19 ).
Aqueles que cumprem o ide de
Jesus, estes são os pacificadores. Jesus, o Filho de Deus foi enviado ao mundo
para proclamar a palavra da verdade: "O Espírito do Senhor DEUS está sobre
mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a
restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a
abertura de prisão aos presos" ( Is 61:1 ).
Todos quantos recebem a
mensagem do evangelho também são comissionados a levar as boas novas de
salvação. Além da incumbência maravilhosa de anunciar o evangelho o Cristão é
agraciado com a filiação divina.
Somente os filhos de Deus, os
de novo nascido, podem levar a semente da palavra da verdade. Isto porque eles
são nascidos da semente incorruptível, e o que anunciam, o fruto dos lábios,
contém a semente incorruptível.
"Bem-aventurados
os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos
céus"
A missão dos pacificadores não é fácil. Eles sofrerão perseguições, mas o reino dos céus pertence a eles.
A perseguição é por causa da
justiça de Deus expressa no evangelho. Os bem-aventurados não serão perseguidos
por questões humanas, mas por causa da mensagem de Cristo, que é a justiça de
Deus aos homens "Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus,
tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em
Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há
diferença" ( Rm 3:21 ).
O motivo da perseguição dos
pacificadores é por causa de Cristo, a justiça de Deus aos homens.
"Bem-aventurados sois vós, quando vos
injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha
causa"
Jesus para de falar das bem-aventuranças ao apontar para os seus discípulos.
Os discípulos deveriam
entender que eram bem-aventurados quando sofressem injurias e perseguições. É
uma alegria ser participante das aflições de Cristo.
Através das bem-aventuranças
Jesus estava se apresentando ao povo, visto que todas elas fluem de Cristo. Em
Cristo está estabelecida a alegria dos povos e das nações.
Mesmo quando perseguido e
injuriado o bem-aventurado é bem-aventurado: a felicidade transcende desta vida
para a eterna. Estevão se alegrou ao ver a face do Senhor!
Não são as perseguições ou as
agruras desta vida que tornam um homem bem-aventurado. Problemas fazem parte do
cotidiano. A bem-aventurança decorre do evangelho de Cristo, pois Cristo é que
concede aos homens a condição de alegria em Deus.
Após anunciar as beatitudes,
Jesus demonstrou que somente os seus seguidores alcançam a verdadeira
felicidade "Bem-aventurado sois vós..." ( Mt 5:11 ).
A verdadeira alegria pertence
aqueles que, por causa de Cristo, haveriam de ser perseguidos e injuriados
"Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos" ( 1Tm 3:12 ).
Todos quantos estiverem em
Cristo serão perseguidos, mas, além de estarem de posse das bem-aventuranças,
deveriam exultar por causa do galardão guardado nos céus. Que privilegio e que
alegria! Ser perseguido como foram perseguidos os profetas do passado e ainda
ter direito a um grande galardão guardado nos céus (v. 12)!
Cristo declara que os seus
seguidores, além de serem bem-aventurados e de possuírem galardões guardados
nos céus, também são o sal da terra.
Em que aspecto os seguidores
de Jesus são o sal da terra? Os seguidores de Cristo conservam o padrão das sãs
palavras do evangelho. Mediante a ação do Espírito Santo os cristãos guardam-na
em bom depósito ( 2Tm 1:13 ).
A palavra de Deus é alimento
que dá vida aos homens, e os seguidores de Cristo também desempenham a função
do sal: torna agradável ao paladar (ouvidos) o alimento (evangelho).
O cristão quando anuncia o
evangelho não está fazendo a 'obra' de Deus, como alguns pensam realizar.
A obra de Deus é a de conceder
vida, e vida em abundância, e homem algum realizará está obra, que é exclusiva
de Deus "Por isso, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas
Deus, que dá o crescimento" ( 1Co 3:7 ).
Não foi dado aos seguidores de
Cristo fazer a obra que é realizável somente por Deus "Que faremos para
executarmos as obras de Deus?" ( Jo 6:28 ).
Os seguidores de Cristo podem
se oferecer como libação sobre o sacrifício, mas nunca realizarão a obra de
Deus "E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço
da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós" ( Fl 2:17 ).
Os bem-aventurados são sal por
ter a função de dar sabor agradável, o que torna agradável aos homens a
mensagem do evangelho.
O apóstolo Paulo preocupou-se
muito com estes aspectos ao pedir que orassem por ele "Orai também
juntamente por nós, para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de
falarmos do ministério de Cristo, pelo qual estou preso. Orai para que o
manifeste como devo fazer" ( Cl 4:3 -4).
Os cristãos devem andar em
sabedoria para os que estão de fora, aproveitando bem cada oportunidade para
proclamar o evangelho. Para isso a palavra do Cristão deve ser temperada com
sal! Qual palavra deve ser temperada? A palavra (mensagem) do evangelho.
O andar do cristão, ou a
resposta conveniente são elementos que 'temperam' a palavra do evangelho aos
que são de fora.
O apóstolo Pedro faz
referência aos bem-aventurados e a perseguição em decorrência do evangelho:
"Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo,
para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo
nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa
o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas
quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão,
ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; Mas, se padece
como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte" (
1Pe 4:13 -16).
Caso o cristão não desempenhe
a função do sal, com que se há de salgar? Todos quantos se dizem seguidores de
Cristo devem estar cônscios de sua condição. Se o cristão não desempenhar o
papel para qual foi comissionado, resta ser lançado fora e servirá de pasto aos
homens.
O cristão deve ter muito
cuidado para não confundir: 'ser pisado pelos homens' e o 'ser bem-aventurado
por sofrer perseguições'. Quando os cristãos são perseguidos por causa do
evangelho é bem-aventurado, mas, haverá aqueles que padecem por se intrometer
em negócios alheios, etc.
O Cristão é a luz do mundo,
pois é filho da Luz "Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais
filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se
deles" ( Jo 12:36 ). Os discípulos eram luz no Senhor, visto que, creram
em Cristo.
Sendo luz no mundo, isto
indica que, tal qual Jesus é, os discípulos o eram neste mundo "...
porque, qual ele é, somos nós também neste mundo" ( 1Jo 4:17 ).
A função dos seguidores de
Cristo é a de conceder luz ao mundo (casa) que está em trevas.
Os seguidores de Jesus
tornam-se luz, por serem nascidos da Luz (regeneração). Agora, na condição de
filhos da luz, os nascidos de novo devem comportar-se como filhos "Porque
noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no SENHOR; andai como filhos da
luz" ( Ef 5:8 ).
Quem é nascido de novo deve
comportar-se de modo digno da vocação para qual foi chamado, ou seja, não deve
portar-se como andam os outros gentios ( Ef 4:1 e 17).
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MINISTÉRIO PALAVRA VIVA
ANO XIX