quinta-feira, 26 de julho de 2012

SERMÃO DE JOHN WESLEY - EXPANSÃO DO EVANGELHO


A Expansão Geral do Evangelho

John Wesley



'Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte; porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar'. (Isaías 11:9)





1. Em que condição está o mundo, no momento! Como a escuridão, as trevas intelectuais, ignorância, com vício e miséria, presentes sobre ele, cobrem a face da terra! Da investigação cuidadosa feita com infatigáveis esforços, por nosso engenhoso conterrâneo, Sr. Brerewood; (que viajou por uma grande parte do mundo conhecido, com o objetivo de formar um julgamento mais exato), supondo-se que o mundo esteja dividido em trinta partes; dezenove delas são ateus declarados, tão completamente ignorantes de Cristo, quanto se Ele nunca tivesse vindo ao mundo:Seis das partes restantes são Maometanos declarados: De modo que apenas cinco em trinta são tanto quanto nominalmente cristãos!



2. E que seja lembrado que, desde que este cálculo foi feito, muitas nações novas foram descobertas; inúmeras ilhas, particularmente no Mar do Sul, larga e bem habitada: Mas, por que? Pelos ateus do tipo mais comum; muitos deles inferiores às bestas do campo. Se eles comem homens ou não (o que, na verdade, eu não possa encontrar algum fundamento suficiente para acreditar), eles certamente matam tudo que lhes cai nas mãos. Eles são, portanto, mais selvagens do que os leões; que matam não mais criaturas do que seja necessário para satisfazer sua fome no momento. Veja a real dignidade da natureza humana! Aqui ela aparece em sua pureza genuína, não poluída, se por aqueles 'corruptores gerais, reis', ou pelo menor traço de religião!



O que Abbe Raynal [Guillaume-Thomas-Francois Raynal (1713-1796). O "Abbe Raynal," escritor francês, que nasceu em  Saint- Geniez em Rouergue em 12 de Abril de 1713. Filósofo e Historiador Político. Entre os objetos de seus mais ferozes ataques estava a Inquisição e os métodos europeus de colonização -- tradutora] iria dizer disto?



3. Um pouco, e não mais que um pouco, acima dos pagãos na religião, estão os Maometanos. Mas quão longe e amplamente esta ilusão miserável tem se espalhado sobre a face da terra! De tal maneira, que os Maometanos são consideravelmente maiores em número (na proporção de seis para cinco) do que os cristãos. E por todos os relatos que têm alguma pretensão de autenticidade, esses também, em geral, são extremamente estranhos a toda a religião verdadeira, como seus irmãos quadrúpedes; tão destituídos de misericórdia, como os leões e tigres; tanto desistiram da luxúria brutal, quanto dos touros ou cabras. De modo que eles são, na verdade, uma desgraça para a natureza humana, e uma praga a todo que estão sob seu jugo de ferro.



4. É verdade que uma escritora notável (Lady Mary Wortley Montague) dá uma característica muito diferente deles. Com a mais fina fluência de palavras; da maneira mais elegante de linguagem, ela se esforça para lavar o etíope branco. (*) Ela os representa como muitos graus acima dos cristãos; como alguns dos povos mais amáveis no mundo; como possuídos de todas as virtudes sociais; como alguns dos mais aperfeiçoados dos homens. Mas eu não posso, de maneira alguma, receber seu relato: eu não posso confiar em sua autoridade. Eu acredito que esses ao redor dela tinham exatamente tanta religião quanto a admiradora deles tinha, quando ela foi admitida no nas partes interior do Grande Harém do Lorde. Não obstante, portanto, todo que tal testemunha faz ou pode dizer em favor deles, eu creio que os turcos, em geral, são pouco melhores, se algum, afinal, do que a generalidade dos pagãos. 



[Lady Mary Woethley (1689-1762) introduziu na Inglaterra a prática turca de inoculação da varíola, em crianças sadias, com o objetivo de conferir imunidade. Embora esse crédito tenha sido dado a Edward Jenner (1749-1823) -- tradutora].



[(*) Fábula traduzida por George Fyler Townsend: O Etíope. -- O comprador de um servo negro foi persuadido de que a cor de sua pele surgiu da sugeira contraída, através da negligência de seus primeiros mestres. Ao trazê-lo para casa, ele recorreu a todos os meios para limpá-lo e sujeitou o homem a incessantes esfregões. O servo pegou uma gripe severa, mas ele nunca mudou sua cor ou compleição – O que é inato irá se fixar à carne. – tradutora]



5. E poucos, se algum, afinal, melhores do que os turcos são os cristãos nos domínios turcos, mesmo os melhores deles; aqueles que vivem na Morea, ou estão espalhados, para cima e para baixo na Ásia. Os mais numerosos corpos de georgianos, cristãos mengrelianos, são um aforismo de reprovação aos próprios turcos; não apenas por sua ignorância deplorável, mas por sua total, estúpida, e bárbara religião.



6. Dos mais autênticos relatos, que nós podemos obter dos cristãos sulistas, aqueles na Abissínia, e das Igrejas nordeste, sob a jurisdição do Patriarca de Moscou, nós temos razão para temer que muitos estão na mesma condição, ambos com respeito ao conhecimento e religião, que aqueles na Turquia. Ou, se aqueles na Abissínia são mais civilizados, e têm uma maior porção de conhecimento, ainda assim, eles não parecem ter alguma religião mais do que tanto os Maometanos quanto os pagãos.



7. As igrejas ocidentais parecem ter a primazia sobre todas essas em muitos aspectos. Elas têm abundantemente mais conhecimento: Elas têm formas de adoração mais bíblica e mais racional. Ainda assim, dois terços delas estão envolvidas nas corrupções da Igreja de Roma; e a maioria destas familiarizada com tanto a teoria, quanto a prática da religião. E com respeito àqueles que são chamados de Protestantes, ou Reformados, qual familiaridade eles têm com ela? Coloque os Papistas e Protestantes; francês e inglês, juntos, a parte principal de uma e de outra nação; e que tipo de cristãos eles são? Eles são 'santos, assim como Ele que os chamou é santo?'. Eles estão preenchidos com a 'retidão, a paz, e a alegria no Espírito Santo?'. Existe neles 'aquela mente que também estava em Jesus Cristo?'. E eles 'caminham, como Cristo também caminhou?'. Não, eles estão tão longe disto, quanto o inferno dos céus!



8. Tal é o presente estado da humanidade em todas as partes do mundo! Mas quão espantoso é isto, se existe um Deus no céu, e se seus olhos estão sobre toda a terra! Será que Ele pode menosprezar a obra de suas próprias mãos? Certamente, este é um dos maiores mistérios debaixo do céu! Como é possível reconciliar isto com tanto a sabedoria, quanto a bondade de Deus? E o que pode trazer tranqüilidade à uma mente zelosa, sob tão melancólica perspectiva? O que, a não ser a consideração de que as coisas não serão sempre assim; que um outro cenário será inaugurado? Deus será zeloso de sua honra: Ele irá levantar e manter sua própria causa. Ele irá julgar o príncipe deste mundo, e destruí-lo de seu domínio usurpado. Ele dará a seu Filho 'os ateus para sua herança, e as partes mais extremas da terra para sua possessão'. 'A terra deverá ser preenchida com o conhecimento do Senhor, assim como as águas cobrem o mar'. O conhecimento amoroso de Deus deverá cobrir a terra; deverá preencher cada alma do homem, produzindo santidade e felicidade uniformes e ininterruptas.



9. 'Impossível', alguns homens dirão, 'sim, a maior de todas as impossibilidades, é a de que podemos ver um mundo cristão; sim, uma nação cristã, ou uma cidade! Como essas coisas podem ser?'. Sobre uma suposição, de fato, não apenas toda a impossibilidade, mas toda a dificuldade desaparece. Apenas supondo que o Altíssimo aja irresistivelmente, e a coisa é feita; sim, com a mesma facilidade de quando 'Deus disse, Haja luz, e houve luz'.  Mas, então, o homem não existiria mais: Sua natureza interior estaria mudada. Ele não mais seria um agente moral, não mais do que o sol, ou o vento; já que ele não mais seria dotado de liberdade, -- um poder de escolha, ou uma autodeterminação: conseqüentemente, ele não mais seria capaz de virtude ou vicio, de recompensa ou punição.



10. Mas colocando de lado este grosseiro modo de desfazer o nó que nós não somos capazes de desatar, como todos os homens podem se tornar santos e felizes, enquanto continuam sendo homens? Enquanto eles ainda desfrutam, ambos do entendimento, afeições, e a liberdade que são essenciais a um agente moral? Parece existir um caminho claro e simples de remover esta dificuldade, sem nos emaranharmos em algumas indagações engenhosas e metafísicas. Uma vez que Deus é Único, então a obra de Deus é uniforme em todas as épocas. Nós não podemos, então, conceber como ele irá operar nas almas dos homens, nos tempos vindouros, considerando como Ele opera agora, e como Ele forjou nos tempos passados?



11. Pegue um exemplo disto, e tal exemplo, no qual você não poderá facilmente ser enganado. Você sabe como Deus forjou em sua própria alma, quando Ele primeiro o capacitou a dizer, 'A vida que eu agora vivo, eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou, e deu a si mesmo por mim'. Ele não desprezou seu entendimento, mas o iluminou e fortaleceu. Ele não destruiu quaisquer de suas afeições; elas ficaram mais vigorosas do que antes. Menos do que tudo, Ele não lhe tirou sua liberdade; seu poder de escolher o bem ou o mal: Ele não o forçou; mas, sendo assistido pela Sua graça, você, assim como Maria, escolheu a melhor parte. Exatamente assim, Ele assistiu cinco em uma casa para fazer aquela escolha feliz; cinqüenta ou cinco mil em uma cidade; e muitos milhares em uma nação; -- sem despojar, de algum deles, a liberdade que é essencial a um agente moral. 



12. Não que eu negue que existam casos isentos, nisto. O poder esmagador da graça salvadora, durante um tempo, operou tão irresistivelmente quanto a luz caiu dos céus. Mas eu falo da maneira geral de Deus de operar, da qual eu conheço inumeráveis exemplos; talvez, mais nestes cinqüenta anos passados, do que alguém na Inglaterra ou na Europa. E, com respeito, até mesmo, a esses casos isentos; embora Deus trabalhe irresistivelmente, durante algum tempo, ainda assim, eu não acredito que exista alguma alma humana, na qual Deus operou irresistivelmente em todos os tempos. Mais do que isto, eu estou completamente persuadido de que não existe. Eu estou persuadido de que não existem homens vivos que tenham, tantas vezes, resistido ao Espírito Santo', e tornado nulo 'o conselho de Deus, contra si mesmos'. Sim, eu estou persuadido que cada filho tem tido, ao mesmo tempo, 'vida e morte colocadas diante dele'; vida eterna e morte eterna; e tem, em si mesmo, o voto decisivo. Também verdadeiro é aquele renomado dizer de Santo Austin (um dos mais nobres que ele alguma vez afirmou): 'Ele que nos fez, sem nós mesmos, não irá nos salvar sem nós mesmos'. Agora, da mesma maneira, como Deus converteu tantos para si mesmo, sem destruir sua liberdade, Ele pode, indubitavelmente, converter todas as nações, ou o mundo todo; e é tão fácil para Ele converter o mundo, quanto uma alma individual.



13. Vamos observar o que Deus já tem feito. Entre cinqüenta ou sessenta anos atrás, Deus ergueu alguns jovens, na Universidade de Oxford, para testificar essas grandes verdades, que eram, então, pouco atendidas: -- que sem a santidade, nenhum homem veria ao Senhor; -- que esta santidade é a obra de Deus, quem opera em nós tanto o querer quanto o fazer; -- que Ele faz isto, de seu bom prazer, meramente pelos méritos de Cristo; -- que esta santidade é a mente que estava em Cristo; nos capacitando a caminhar, assim como Ele também caminhou; -- que nenhum homem pode ser assim santificado, até que ele seja justificado; -- em que nós somos justificados pela fé somente. Essas grandes verdades, eles declararam em todas as ocasiões, em privado ou em público; tendo nenhum objetivo, a não ser promover a glória de Deus, e nenhum desejo, a não ser salvar almas da morte.



14. De Oxford, onde primeiro apareceu, a pequena levedura se espalhou mais e mais amplamente. Mais e mais, viu a verdade, como ela está em Jesus, e a recebeu no Seu amor. Mais e mais, encontrou 'redenção, através do sangue de Jesus, até mesmo, o perdão dos pecados'. Eles nasceram novamente do Seu Espírito, e foram preenchidos, com a retidão, a paz, e a alegria, no Espírito Santo. Mais tarde, espalha-se para todas as partes da terra, e algo pequeno transforma-se em milhares. Espalha-se, então, na Grã-Bretanha Norte e Irlanda; e poucos anos depois, para dentro de Nova York, Pensilvânia, e muitas outras províncias na América, mesmo tão grande, quanto Terra Nova e Nova Escócia. De modo que, embora, a princípio, este 'grão de semente de mostarda' fosse 'o menor de todas as mentes'; ainda assim, em poucos anos, ele se tornou 'uma árvore larga, e produziu grandes ramos'.



15. Geralmente, quando essas verdades, justificação pela fé, em particular, foram declaradas em alguma grande cidade, depois de alguns dias, ou semanas, lá, de repente, se reuniu uma grande congregação, -- não em um lugar afastado, mas em Londres, Bristol, Newcastle-upon-Tyne, em particular, -- um violento e impetuoso poder que, como vento poderoso ou temporal ameaçador, fez, então, os opositores todos fugirem.



E isto continuou, com intervalos mais curtos ou mais longos, por diversas semanas ou meses. Mas, gradualmente diminuiu, e, então, a obra de Deus foi conduzida, por graus moderados; enquanto que o Espírito concedeu, ao irrigar a semente que tinha sido semeada; ao confirmar e fortalecer aqueles que tinham crido, que sua influência infundisse, secretamente, renovando-se, como orvalhos silenciosos. E esta diferença, em sua maneira usual de trabalhar foi observável, não apenas na Grã-Bretanha e Irlanda, mas em cada parte da América, do Sul ao Norte, onde quer que a palavra de Deus chegasse com poder.



16. Assim sendo, não é altamente provável que Deus irá levar sua obra, da mesma maneira, como Ele começou? Que Ele irá levá-la, eu não posso duvidar; por mais que Lutero possa afirmar, que um avivamento da religião nunca dura mais que uma geração, -- que é, de trinta anos; (considerando que o presente avivamento já continua acima de cinqüenta anos), ou, não obstante os profetas do mal possam dizer: 'Tudo chegará ao fim, quando os primeiros agentes forem removidos'. É muito provável, então, que haverá um grande abalo; mas eu não posso me persuadir a pensar que Deus tem forjado tão gloriosa obra, para deixá-la submergir e morrer em poucos anos. Não: Eu confio que isto é apenas o começo de uma obra ainda maior; o alvorecer 'da glória dos últimos dias'.



17. E não é provável que Ele irá levar sua obra, da mesma maneira que Ele começou? Primeiro, expandindo-na, neste ou naquele lugar, para que possa haver uma abundância, uma torrente de graça; e, assim, em algumas outras ocasiões específicas, que 'o Pai reservou em seu próprio poder': Mas, em geral, parece que o reino de Deus não 'virá com contemplação'; mas silenciosamente aumentará, onde quer que ele se estabeleça, e se espalhará de coração para coração, de casa em casa, de cidade em cidade, de um reino para outro. Ele não pode se espalhar, primeiro, através das províncias restantes, então, através das ilhas da América do Norte; e, ao mesmo tempo, da Inglaterra para a Holanda, onde já existe um trabalho abençoado em Utrecht, Harlem, e muitas outras cidades? Provavelmente, ele irá se espalhar desses para os Protestantes na França; para aqueles na Alemanha, e aquelas na Suíça; então para a Suécia, Dinamarca, Rússia, e todas as outras nações Protestantes na Europa.



18. Nós não podemos supor que a mesma levedura da pura e imaculada religião, do conhecimento e amor de Deus, experimental; de santidade interior e exterior, irá, mais tarde, se espalhar para os Católicos Romanos, na Grã-Bretanha, Irlanda, Holanda; na Alemanha, França, Suíça; e em todas as outras regiões, onde os Papistas e Protestantes vivem misturados e usualmente conversam uns com os outros? Não será, então, fácil para a sabedoria de Deus traçar um caminho para a religião, na vida e poder dela, dentro dessas regiões que são meramente Papistas; como a Itália, Espanha e Portugal? E ela não pode ser gradualmente difundida dessas para todas que são chamadas pelo nome de Cristo, nas várias províncias da Turquia, na abissínia; sim, e nas partes mais remotas, não apenas da Europa, mas da Ásia, África e América?



19. E, em cada nação, debaixo do céu, nós podemos razoavelmente acreditar que Deus irá observar a mesma ordem que Ele tem dado, desde o começo do Cristianismo, 'Eles todos deverão conhecer a mim, diz o Senhor'; não do maior para o menor (esta é aquela sabedoria do mundo que é tolice para Deus); mas 'do menor para o maior'; para que o louvor não possa ser de homens, mas de Deus. Antes do fim, mesmo os ricos deverão entrar no reino de Deus. Junto com eles, entrarão o grande, o nobre, o honrado; sim, os soberanos, os príncipes, os reis da terra. Por último, o sábio e culto, os homens de engenhosidade, os filósofos, serão convencidos de que eles são tolos; serão 'convertidos, e se tornarão como as criancinhas', e 'entrarão no reino de Deus'.



20. Então, aquela graciosa promessa deverá ser consumada na casa de Israel; a Israel espiritual, "Eu colocarei minhas leis nas mentes deles, e escreverei em seus corações: E serei para eles um Deus, e eles serão para mim, meu povo. E todo homem ensinará ao seu próximo; e cada homem a seu irmão, dizendo: 'Eu conheço o Senhor': Porque eles deverão me conhecer, do maior para o menor. Porque eu seria misericordioso para os iníquos, e dos seus pecados e suas iniqüidades não mais me lembrarei". Então, 'os tempos da renovação' universal 'virão da presença do Senhor'. O grande 'Pentecoste virá completamente', e 'os homens devotos, em todas as nações, debaixo do céu', mesmo que distantes umas das outras, 'serão preenchidos com o Espírito Santo'; e 'continuarão firmes na doutrina apostólica, e na camaradagem, e no repartir o pão, e nas orações'; eles 'comerão sua carne', e farão tudo que eles tiverem que fazer, 'com alegria e singeleza de coração. Grande graça estará sobre eles todos'; e eles serão 'todos de um só coração e uma só alma'. A conseqüência natural e necessária disto será a mesma que foi no começo da Igreja Cristã: 'Nenhum deles irá dizer que quaisquer que sejam as coisas que ele possui lhe pertencem; mas terão todas as coisas em comum. Nem existirá entre eles alguém que necessite: Porque os que tiverem posses de terras e casas irão vendê-las; e a distribuição será feita a todo homem, de acordo com sua necessidade'. Todos os seus desejos, portanto, e paixões, e temperamentos terão um só molde; enquanto todos estiverem fazendo a vontade de Deus na terra, assim como ela é feita nos céus. Todas 'as suas conversas serão temperadas com sal' e 'ministrarão a graça aos que ouvem'; vendo que não será tanto eles que falarão, 'mas o Espírito do Pai que falará neles'. E não haverá 'raiz de amargura brotando', quer para corromper ou perturbá-los: Não haverá Ananias ou Safira, para trazer de volta a praga do amor ao dinheiro em meio deles: Não haverá parcialidade; nenhuma 'viúva negligenciada na ministração diária'. Conseqüentemente, não existirá tentação para algum pensamento murmurante, ou palavra indelicada, de um contra o outro, enquanto eles todos foram de um só coração e alma. E apenas o amor instrua o todo.



21. A grande pedra de tropeço, estando, assim, felizmente, removida do caminho, ou seja, das vidas dos cristãos, os maometanos irão olhar para eles com outros olhos, dando atenção às suas palavras. E como as palavras destes serão revestidas com a energia divina, atendidas com a demonstração do Espírito, e do poder, aqueles que temem a Deus, logo irão tomar conhecimento do Espírito, por meio do qual os cristãos falam. Eles 'receberão com mansidão a palavra enxertada', e produzirão frutos com amor. Partindo deles, a levedura logo se espalhará para aqueles que, até então, não tinham o temor de Deus, diante dos olhos. Observando os 'galhofeiros cristãos', como eles costumam denominá-los, terem mudado a natureza deles; tornando-se sóbrios, moderados, justos, benevolentes; e isto, apesar de todas as provocações ao contrário; por admirarem suas vidas, eles certamente serão conduzidos a considerar e abraçar a doutrina deles. E, então, o Salvador dos pecadores irá dizer, 'A hora é chegada; eu glorificarei meu Pai: Eu buscarei e salvarei o rebanho que estava vagueando nas montanhas escuras. Agora eu me vingarei do meu inimigo, e arrancarei a presa dos dentes do leão. Eu recuperarei para mim as épocas perdidas: Eu reivindicarei a compra de meu sangue'. Assim, Ele seguirá na grandeza de Suas forças, e todos os seus inimigos fugirão diante Dele. Todos os profetas das mentiras desaparecerão, e todas as nações que os seguiram deverão conhecer o grande Profeta do Senhor, 'poderoso na palavra e ação'; e 'honrará o Filho, assim como eles honram o Pai'.



22. E, então, a grande pedra de tropeço, sendo removida, também das nações pagãs, o mesmo Espírito se derramará sobre eles; até mesmo aqueles que permanecem nas partes mais extremas do mar. Os pobres selvagens americanos não mais perguntarão, ''Por que os cristãos são melhores do que nós?' -- Quando eles vêem a sua prática firme da temperança universal, e da justiça, misericórdia, e verdade. Os ateus malabarianos [de Malabar, na Índia] terão não mais espaço para dizer, 'Cristão toma minha mulher: Cristão bebe muito: Cristão mata o homem! Cristão diabólico! Eu não cristão!'. Antes, vendo quão longe, os cristãos excederam seus próprios compatriotas, em tudo quanto é amoroso e de bom relato, eles irão adotar uma linguagem muito diferente, e dizer, 'Cristão-Anjo!'. As vidas santas dos cristãos serão um argumento que eles não saberão como resistir: vendo que os cristãos firmemente e uniformemente praticam o que é de acordo com a lei escrita em seus próprios corações; seus preconceitos irão rapidamente desaparecer, e eles receberão alegremente 'a verdade, como ela está em Jesus'.



23. Nós podemos razoavelmente acreditar que as nações pagãs que estão misturadas com os cristãos, essas que limitam as nações cristãs, e têm um intercurso constante e familiar com eles, serão algumas das primeiras que aprenderão a adorar a Deus em espírito e verdade; aquelas, por exemplo, que vivem, no continente da América, ou nas ilhas, e têm recebido colônias da Europa. Tais são igualmente todos esses habitantes das Índias orientais que estão em contato com qualquer uma das colônias cristãs. A essas, podem ser acrescentadas numerosas tribos de tártaros, as partes atéias da Rússia, e os habitantes da Noruega, Finlândia, e Lapônia. Provavelmente, essas serão seguidas por aquelas das nações mais distantes, com as quais, os cristãos negociam; às quais eles irão conceder o que é de um valor infinitamente maior do que as pérolas da terra, ou o ouro e prata. O Deus do amor irá, então, preparar seus mensageiros, e abrir caminho nas regiões polares; nas mais profundas reentrâncias da América, e no interior das partes da África; sim, no coração da China e Japão, com as cidades anexas a elas. E 'o som deles' irá, então, 'seguir em frente, para todas as terras, e suas vozes, até os confins da terra!'.



24. Mas uma considerável dificuldade ainda permanece: Existem muitas nações pagãs no mundo que não têm intercurso, quer, através de comércio, ou alguns outros meios, com os cristãos de qualquer tipo. Tais são os habitantes de numerosas ilhas no Mar do Sul, e provavelmente, em todos os largos braços do oceano. Agora, o que deverá ser feito a esses pobres proscritos? 'Eles deverão crer', diz o Apóstolo, 'naquele a quem eles nunca tinham ouvido? E como eles deveriam ouvir, sem um pregador?'. Você pode acrescentar: 'E como eles pregarão, a menos que sejam enviados?'. Sim, mas Deus não é capaz de enviá-los? Ele não pode levantá-los, por assim dizer, dessas pedras? E Ele, alguma vez, necessitou de meios para enviá-los? Não: Existissem outros meios: Ele poderia 'tirá-los de Seu Espírito', como ele fez com Ezequiel. 'Então o Espírito me levantou, e ouvi por detrás de mim uma voz de grande estrondo, que dizia: Bendita seja a glória do Senhor, desde o seu lugar' (Ezequiel 3:12). Ou, através de Seu anjo, como com Felipe, e os fez descer para onde agradou a Ele. 'Mas um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai em direção do sul, pelo caminho que desce de Jerusalém a Gaza, o qual está deserto'.(Atos 8:26). Sim, Ele pode se certificar de milhares de caminhos para o homem tolo desconhecido. E ele certamente o fará: Porque céu e terra passarão; mas Sua palavra permanecerá: Ele dará 'a parte mais extrema da terra, para a possessão de Seu Filho'.



25. E assim, também, toda Israel deverá ser salva. Porque 'a ignorância tem acontecido a Israel', como o grande Apóstolo observa  em (Romanos 11:25-30), até que a plenitude dos 'gentios haja sobre eles'. Então, 'o Libertado,r que apareceu em Sião, desviará as iniqüidades de Jacob'. 'Deus agora os firmou na descrença, para que Ele pudesse ter misericórdia para com todos'.  Sim, e Ele terá misericórdia sobre toda a Israel, quando der a eles todas as bênçãos temporais, juntamente com todas as bênçãos espirituais. Porque esta é a promessa: 'Porque o Senhor teu Deus te reunirá de todas as nações, para onde o Senhor teu Deus te espalhou. E Ele irá trazer-te para a terra que teus antepassados possuíram, e tu deverás possuí-la também. E o Senhor teu Deus irá circuncidar teu coração, e o coração de tua semente, no amor do Senhor teu Deus, com todo teu coração, e com toda tua alma'. (Deuteronômio 30:3). Novamente: 'Eu os ajuntarei de todas as regiões, para onde eu os dirigi: E os trarei novamente para este lugar, e farei com que eles habitem seguramente: E darei a eles um coração, e um caminho, para que eles possam temer a mim para sempre. Eu colocarei o temor de mim, em seus corações, para que eles não se separem de mim. E os fixarei nesta terra, seguramente, com todo meu coração e com toda minha alma'. (Jeremias 21:37). E novamente: 'Eu o tirarei de entre os pagãos, e o tirarei de todas as regiões, e o trarei para sua própria terra. Então, eu irei borrifar água limpa sobre você, e você ficará limpo: Eu o limparei de toda sua sujidade, e de todos os seus ídolos; E você habitará na terra que eu dei aos seus antepassados, e você será meu povo, e eu serei o teu Deus (Ezequiel 36:24). 



26. Naqueles dias, todas aquelas gloriosas promessas feitas à Igreja Cristã serão executadas, e não serão restritas a esta ou aquela nação, mas incluirão todos os habitantes da terra. 'Eles não causarão dano, nem destruição em todos os meus montes santos'. (Isaías 11:9) 'A violência não mais será ouvida em tua terra, devastação, nem destruição dentro de tuas fronteiras; mas tu chamaras tuas muralhas de Salvação, e teus portões de Louvor'. Tu serás rodeado de todos os lados com salvação, e todos que atravessarem teus portões louvarão a Deus. 'O sol não mais deverá ser tua luz, através do dia; nem a lua fornecerá a ti luminosidade: Mas o Senhor será para ti a luz eterna, e teu Deus e tua glória'.  A luz do sol e da lua será tragada, na luz do semblante do Senhor, brilhando sobre ti. 'Teu povo também deverá ser todo justo… a obra de minhas mãos, para que eu possa ser glorificado'. 'Como a terra produzirá seu embrião, e o jardim fará com que as coisas que são semeadas nele brotem; assim o Senhor Deus fará com que a retidão e o louvor brotem diante de todas as nações (Isaías 60:18 em diante; e 61:11 em diante)



27. Esta eu entendo ser a resposta; sim, a única resposta completa e satisfatória que pode ser dada, para a objeção contra a sabedoria e bondade de Deus, tomada do presente estado do mundo. Não será sempre assim: Essas coisas são permitidas apenas por um tempo, através do grande Governador do mundo, para que ele possa tirar um bem imenso e eterno deste mal temporário. Esta é a mesma chave que o próprio Apóstolo nos dá nas palavras acima citadas: 'Deus os permitiu na descrença, para que Ele tivesse misericórdia sobre todos'. Na visão deste evento glorioso, quão bem podemos clamar, 'Ó, a profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, quanto do conhecimento de Deus!', embora, por um tempo, 'seus julgamentos fossem insondáveis, e seus caminhos inescrutáveis.' (Romanos 11:32-33). É suficiente que nós estejamos seguro deste único ponto, de que todos esses males transitórios desaparecerão; e haverá um final feliz; e que a 'misericórdia, primeira e última, irá reinar'.  Todos as pessoas preconceituosas poderão ver que o Senhor está renovando a face da terra: E nós temos forte razão para esperar que a obra que Ele começou, Ele irá levar para o dia do Senhor Jesus; que Ele nunca irá cessar esta obra abençoada de seu Espírito, até que Ele tenha cumprido todas as suas promessas; até que ele coloque um ponto final no pecado, e miséria, e enfermidade, e morte; e restabeleça a santidade e felicidade universal, e faça com que todos os habitantes da terra cantem juntos, 'Aleluia, o Senhor Deus Onipotente reina!'. 'Bênção, e glória, e sabedoria, e honra, e poder, e força, serão junto ao nosso Deus para sempre e sempre!' (Apocalipse 7:12).



[Editado por Syl Hunt IV, estudante na Northwest Nazarene College (Nampa, ID), com correções de George Lyons para Wesley Center for Applied Theology.]


terça-feira, 24 de julho de 2012

ESTUDO BÍBLICO - HUMILDADE CRISTÃ

 Humildade cristã

Os discípulos discutiam entre si quem era o maior entre eles, em sua jornada de volta a Cafarnaum (Marcos 9:34 e Lucas 9:46) (evidentemente não reconheciam que fosse Pedro, como quer a tradição romana). Vieram então ao Senhor e perguntaram "Quem é o maior no Reino dos céus?"
Entrevemos já aqui a possibilidade de ambição e mesmo partidarismo entre eles. Tinham ainda muito que aprender, e estavam presos aos interesses e padrões que conheciam no mundo.
Para ilustrar o que ia lhes ensinar, o Senhor chamou a si um menino e o colocou entre eles. Era ainda muito pequeno, pois Marcos nos diz que Ele o tomou em seus braços. Assim também o pecador arrependido ouve o Seu chamado e vem humildemente para receber a Sua proteção.
O Senhor Jesus então assegurou aos Seus discípulos que, quem deles não se convertesse e se tornasse como criança, jamais entraria no Reino dos céus. Esse é o primeiro passo para a salvação da alma de todo o pecador, sem o qual não terá entrada no céu, muito menos terá alguma posição exaltada no Seu reino.
A conversão consiste numa mudança completa de rumo, a negação de si mesmo e o recebimento de Cristo como seu Salvador e Senhor. É o que chamamos o "novo nascimento", que o Senhor explicou ao fariseu Nicodemos (João 3:1-21) um novo nascimento espiritual.
Tornar-se como criança não quer dizer que um adulto deve passar a agir com infantilidade, abandonando a seriedade adquirida pela sua experiência. Nem é pensar como criança, voltando à ingenuidade.
A virtude existente numa criança à qual o Senhor se referia era a sua humildade. Humildade não é considerada pelo mundo como uma virtude, ao contrário, os humildes são colocados para trás e espezinhados. São os menos importantes em nossa sociedade, os menos respeitados, os menos influentes.
Os humildes do mundo são destinados a servir os demais, não a tomar posições de comando.
O Senhor acrescentou que "quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus". Mais tarde, Ele diria aos Seus discípulos "O maior dentre vós será vosso servo."
No âmbito espiritual, os valores se invertem, pois quem mais serve aos outros é o maior de todos. Ficou assim respondida a pergunta feita pelos discípulos.
Não sabemos ao certo se todos os discípulos já haviam se convertido. Judas Iscariotes provou pela sua ação mais tarde que ele não havia. Mas todo o pecador tem que se humilhar, reconhecer a sua culpa de pecado diante de Deus, e receber o perdão que lhe é dado gratuitamente por fé no Senhor Jesus.
Com isso ele começa uma nova vida, como uma criança, aprendendo da Palavra de Deus, e dos mestres que são mais experientes, a crescer no conhecimento de Cristo. A bagagem intelectual que tinha antes passa a ter pouco valor, mas tudo aquilo do que dispõe deve ser colocado a serviço do Senhor.
Na igreja de Deus os de maior autoridade são os que mais servem: os que estão na direção de uma igreja local (chamados presbíteros, bispos ou anciãos) estão ali para servir, "apascentar o rebanho" (1 Pedro 5:2,3), os demais, que têm uma função dentro da igreja, são chamados "diáconos", que se traduz como "servo", ou "mensageiro".
Em seguida, o Senhor comentou sobre a espécie de tratamento que é dado a um menino como aquele: pode ser uma acolhida, ou pode ser um tropeço.
O menino era ainda indefeso, inexperiente, dependente dos mais velhos, e precisava ser ensinado. É a mesma situação inicial do pecador que se converte e começa uma vida nova em Cristo. Tendo se humilhado para nascer de novo pela fé, o novo crente precisa de tanto apoio, ensino, proteção e encorajamento quanto uma criança. É uma fase muito vulnerável em suas vidas. Portanto, o Senhor Jesus continuou a usar do mesmo paralelismo para as duas situações.
Ele declarou que, qualquer que receber em Seu nome uma pessoa como aquela criança, estará recebendo a Ele. É uma séria advertência para não desprezarmos os novos convertidos.
O novo convertido não só precisa, mas merece muito mais da nossa atenção do que aqueles que se acham adultos, bem instruídos e convencidos. A ajuda que lhe dermos vale como se fosse para o próprio Senhor Jesus, tal a importância que o Senhor lhe dá.
Por outro lado, para quem fizer tropeçar um novo crente no Senhor Jesus, seria preferível amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar.
Fazer tropeçar é conduzir ao pecado, ou de qualquer outra maneira prejudicá-lo em sua nova vida. A figura da pedra de moinho enfatiza o mal cometido, pois:
  • A pedra era tão grande e pesada que precisava ser movimentada por animal de carga, como um asno.
  • Afogar era uma punição usada pelos gentios, nunca pelos judeus, para quem o mar era um lugar perigoso e afogamento era uma morte das mais trágicas.
Não há nada pior do que destruir a inocência de uma criança, e conduzi-la ao pecado. É como espalhar uma doença contagiosa de propósito.
No mundo o pecado existe, e as tentações para se cometer o pecado estão por toda a parte. São inevitáveis e nada se pode fazer para impedi-los ou evitar que as crianças ou crentes novos sejam expostos a eles. Mas outra coisa é ser o próprio agente de corrupção para provocar a queda desses pequenos. É preferível mutilar-se, se com isso ele puder evitar cometer tal ofensa.
Para Deus, esses pequenos humildes são tão importantes, que os seus anjos nos céus estão sempre "vendo a face" do nosso Pai celeste. A expressão "vendo a face" era comum, e derivava do protocolo dos monarcas antigos, onde somente os cortesãos, ministros e as pessoas mais importantes podiam se aproximar da pessoa do rei. Também os anjos dos humildes pequeninos têm esse privilégio de se chegarem bem perto de Deus Pai.
Finalmente, o Senhor Jesus contou uma parábola para ilustrar o amor de Deus para com o pecador perdido, cujo pecado foi perdoado e que, submisso, agora está gozando da proteção de Deus.
A ilustração demonstra que um pastor de ovelhas acaba ficando mais contente com uma ovelha que se perdeu e que ele acabou encontrando, do que com todas as outras noventa e nove do seu rebanho.
A alegria não foi porque a ovelha se perdeu e lhe deu oportunidade de ir procurá-la, é claro, mas sim porque ela foi achada. Assim também Deus não deseja que ninguém entre os seus pequeninos se perca. A parábola nos ensina várias coisas a respeito do amor de Deus:
  • É individual. Havia noventa e nove ovelhas em segurança, mas o pastor procurou uma só que estava perdida. Deus não se satisfaz até que o último perdido é recolhido para Si.
  • É paciente. A ovelha pode se perder tolamente, mas o pastor ainda arrisca sua vida para acha-la. O pecador pode ser tolo, sendo culpado pela sua própria situação, mas Deus ainda o ama.
  • É ativo. O pastor não esperou que a ovelha voltasse, mas foi procurá-la. Deus mandou seu Filho para buscar e salvar os perdidos.
  • É de regozijo. Só houve alegria do pastor, sem recriminações à ovelha. Deus apaga nossos pecados e só permanece alegria.
  • É protetor. O pastor procurou e salvou a ovelha. O amor de Deus salva o homem da pena, do poder e finalmente da presença do pecado, tornando-o vencedor.
  • 2008
  • Ministério Palavra Viva


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Obras da Carne e Frutos do Espírito Santo

Obras da Carne & Frutos do Espírito Santo


“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é: caridade (amor), gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei.” Gl 5.19-23

Nenhum trecho da Bíblia apresenta um mais nítido contraste entre o modo de vida do crente cheio do Espírito e aquele controlado pela natureza humana pecaminosa do que 5.16-26. Paulo não somente examina a diferença geral do modo de vida desses dois tipos de crentes, ao enfatizar que o Espírito e a carne estão em conflito entre si, mas também inclui uma lista específica tanto das obras da carne, como do fruto do Espírito.


OBRAS DA CARNE.


“Carne” (gr. sarx) é a natureza pecaminosa com seus desejos corruptos, a qual continua no cristão após a sua conversão, sendo seu inimigo mortal (Rm 8.6-8,13; Gl 5.17,21). Aqueles que praticam as obras da carne não poderão herdar o reino de Deus (5.21). Por isso, essa natureza carnal pecaminosa precisa ser resistida e mortificada numa guerra espiritual contínua, que o crente trava através do poder do Espírito Santo (Rm 8.4-14; ver Gl 5.17).


As obras da carne (5.19-21) incluem:
(1) “Prostituição” (gr. pornéia), i.e., imoralidade sexual de todas as formas. Isto inclui, também, gostar de quadros, filmes ou publicações pornográficos (cf. Mt 5.32; 19.9; At 15.20,29; 21.25; 1Co 5.1). Os termos moichéia e pornéia são traduzidos por um só em português: prostituição.
(2) “Impureza” (gr. akatharsia), i.e., pecados sexuais, atos pecaminosos e vícios, inclusive maus pensamentos e desejos do coração (Ef 5.3; Cl 3.5).

(3) “Lascívia” (gr. aselgeia), i.e., sensualidade. É a pessoa seguir suas próprias paixões e maus desejos a ponto de perder a vergonha e a decência (2Co 12.21).


(4) “Idolatria” (gr. eidololatria), i.e., a adoração de espíritos, pessoas ou ídolos, e também a confiança numa pessoa, instituição ou objeto como se tivesse autoridade igual ou maior que Deus e sua Palavra (Cl 3.5).

(5) “Feitiçarias” (gr. pharmakeia), i.e., espiritismo, magia negra, adoração de demônios e o uso de drogas e outros materiais, na prática da feitiçaria (Êx 7.11,22; 8.18; Ap 9.21; 18.23).
(6) “Inimizades” (gr. echthra), i.e., intenções e ações fortemente hostis; antipatia e inimizade extremas.
(7) “Porfias” (gr. eris), i.e., brigas, oposição, luta por superioridade (Rm 1.29; 1Co 1.11; 3.3).
(8) “Emulações” (gr. zelos), i.e., ressentimento, inveja amarga do sucesso dos outros (Rm 13.13; 1Co 3.3).
(9) “Iras” (gr. thumos), i.e., ira ou fúria explosiva que irrompe através de palavras e ações violentas (Cl 3.8).
(10) “Pelejas” (gr. eritheia), i.e., ambição egoísta e a cobiça do poder (2Co 12.20; Fp 1.16,17).
(11) “Dissensões” (gr. dichostasia), i.e., introduzir ensinos cismáticos na congregação sem qualquer respaldo na Palavra de Deus (Rm 16.17).
(12) “Heresias” (gr. hairesis), i.e., grupos divididos dentro da congregação, formando conluios egoístas que destroem a unidade da igreja (1Co 11.19).

(13) “Invejas” (gr. fthonos), i.e., antipatia ressentida contra outra pessoa que possui algo que não temos e queremos.
(14) “Homicídios” (gr. phonos), i.e., matar o próximo por perversidade. A tradução do termo phonos na Bíblia de Almeida está embutida na tradução de methe, a seguir, por tratar-se de práticas conexas.
(15) “Bebedices” (gr. methe), i.e., descontrole das faculdades físicas e mentais por meio de bebida embriagante.
(16) “Glutonarias” (gr. komos), i.e., diversões, festas com comida e bebida de modo extravagante e desenfreado, envolvendo drogas, sexo e coisas semelhantes.

As palavras finais de Paulo sobre as obras da carne são severas e enérgicas: quem se diz crente em Jesus e participa dessas atividades iníquas exclui-se do reino de Deus, i.e., não terá salvação (5.21; ver 1Co 6.9).


O FRUTO DO ESPÍRITO.

(3) “Paz” (gr. eirene), i.e., a quietude de coração e mente, baseada na convicção de que tudo vai bem entre o crente e seu Pai celestial (Rm 15.33; Fp 4.7; 1Ts 5.23; Hb 13.20).
(4) “Longanimidade” (gr. makrothumia), i.e., perseverança, paciência, ser tardio para irar-se ou para o desespero (Ef 4.2; 2Tm 3.10; Hb 12.1).
(5) “Benignidade” (gr. chrestotes), i.e., não querer magoar ninguém, nem lhe provocar dor (Ef 4.32; Cl 3.12; 1Pe 2.3).
(6) “Bondade” (gr. agathosune), i.e., zelo pela verdade e pela retidão, e repulsa ao mal; pode ser expressa em atos de bondade (Lc 7.37-50) ou na repreensão e na correção do mal (Mt 21.12,13).
 (7) “Fé” (gr. pistis), i.e., lealdade constante e inabalável a alguém com quem estamos unidos por promessa, compromisso, fidedignidade e honestidade (Mt 23.23; Rm 3.3; 1Tm 6.12; 2Tm 2.2; 4.7; Tt 2.10).
(8) “Mansidão” (gr. prautes), i.e., moderação, associada à força e à coragem; descreve alguém que pode irar-se com eqüidade quando for necessário, e também humildemente submeter-se quando for preciso (2Tm 2.25; 1Pe 3.15; para a mansidão de Jesus, cf. Mt 11.29 com 23; Mc 3.5; a de Paulo, cf. 2Co 10.1 com 10.4-6; Gl 1.9; a de Moisés, cf. Nm 12.3 com Êx 32.19,20).

(9) “Temperança” (gr. egkrateia), i.e., o controle ou domínio sobre nossos próprios desejos e paixões, inclusive a fidelidade aos votos conjugais; também a pureza (1Co 7.9; Tt 1.8; 2.5).
O ensino final de Paulo sobre o fruto do Espírito é que não há qualquer restrição quanto ao modo de viver aqui indicado. O crente pode — e realmente deve — praticar essas virtudes continuamente. Nunca haverá uma lei que lhes impeça de viver segundo os princípios aqui descritos.

Ministério Palavra Viva

sábado, 14 de julho de 2012

Estudo - A enfermidade na vida do crente


C E P A

MINISTÉRIO PALAVRA VIVA

“A enfermidade na vida do crente”

Is 38. 1 - 8

A lição desta semana traz um tema que tem dado margem a muitas interpretações e, por isso mesmo, gerado muitos equívocos: a doença na vida do crente. Os debates envolvem a sua origem, a convivência com ela e a possibilidade de cura. Em cada um desses subtemas, deparamos com diversos questionamentos.

A origem das enfermidades

Rm6.23 cf.Gn3.19

Uma discussão milenar no seio da Igreja é sobre a origem das enfermidades. Há quem diga que toda doença tem origem no pecado, outros afirmam que a doença não tem nenhuma relação com o pecado. De certa forma, a primeira afirmação não está errada, porque as enfermidades só entraram no mundo por ocasião da queda do ser humano no pecado (Gn 3). As doenças surgiram a partir daí. Mas isso não significa que toda doença seja resultado/ castigo de algum pecado cometido além do original.

Também não devemos ir ao outro extremo. No exemplo bíblico citado pelo autor, Jesus nega que a cegueira de um homem que ele e os discípulos encontraram no caminho tivesse origem em algum pecado, do cego ou dos pais dele (Jo 9.1-3). Mas isso não significa que não haja doença contraída dessa forma, ou seja, como consequência do pecado . Essa realidade parece não ter mudado na era da Igreja, pois em 1Coríntios 11.29,30, Paulo declara: “O que come e bebe indignamente [a ceia do Senhor] come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disso, há entre vós muitos fracos e doentes…”.  “Como resultado da falta de julgamento próprio, alguns dos membros da igreja de Corinto [...] foram acometidos por males físicos [...]. Uma vez que não julgaram o pecado em sua vida, o Senhor teve de tomar medidas disciplinares”.

Você pode sugerir esta discussão aos alunos: se uma pessoa contrai uma doença venérea como resultado de sua vida pregressa ou de um caso extraconjugal, isso é doença causada pelo pecado ou uma doença “natural”, ainda que originada num contexto pecaminoso?

Há doenças que fazem parte do processo de provação divina, como é evidente no caso de Jó. Os adeptos das teologias triunfalistas não aceitam de modo algum essa possibilidade. Não podem entender que algo negativo possa resultar num bem. Talvez nunca tenham lido a história de José do Egito ou o texto de Romanos 8.26-28. Não está claro se o caso de Timóteo, citado pelo autor, se encaixa nessa categoria.

O caso de Jó também é comprovadamente de origem maligna, mas não de possessão demoníaca. Mas é fato que os demônios podem deixar suas vítimas doentes. Pesquise comentários sobre os textos de Marcos 9.17 e Lucas 13.10-17, citados como exemplo pelo autor.

As doenças da vida moderna

Os três males citados pelo autor (depressão, síndrome do pânico e doenças psicossomáticas) podem acometer os crentes em Cristo. Eu mesmo ainda estou me recuperando de uma depressão. Enquanto vivermos neste mundo, estaremos sujeitos aos seus males. Pesquise com cuidado as doenças mencionadas e apresente alguns exemplos à classe. Talvez você mesmo ou alguns de seus alunos já tenham sido vitimados por elas.

O que fazer diante da dor e sofrimento

Certas correntes teológicas “não aceitam” a doença. Outras descreem da cura divina. O tema da cura também é complexo. Na Bíblia, vemos pessoas curadas instantaneamente por intervenção divina (Mt 12.15; At 28.8). Há pessoas que servem a Deus com fidelidade, mas vivem doentes. É o caso de Timóteo, citado anteriormente. E olhe que ele tinha amigos como o apóstolo Paulo e conhecia outros gigantes da fé do Novo Testamento! No Antigo Testamento, Eliseu realizou milagres extraordinários, mas morreu doente (2Rs 13.14). A cura ou ausência de cura depende de fatores como a origem da doença e a fé de quem repreende a doença ou do próprio doente (At 3.6; 5.14-16). Consulte bons comentários bíblicos para poder apresentar argumentos sólidos sobre cada caso.

                                   Recomendamos:

Comentário Bíblico do Antigo e Novo Testamento

Earl D. Radmacher – Ronald B. Allen –H. Wayne House

Concordância Bíblica Exaustiva Joshua

Editora Central Gospel


quarta-feira, 4 de julho de 2012

JESUS NÃO É UMA MARCA



JESUS NÃO É UMA MARCA

A evangelização na era do consumo tem muito do discurso do marketing – mas a Igreja não pode oferecer o Evangelho como bem de consumo

A marca Jesus é uma das mais conhecidas e rentáveis do mundo. O nome do Filho de Deus acompanha a humanidade há dois milênios, resistiu a toda sorte de crises – da opressão romana no início da Era Cristã ao comunismo, das trevas da Idade Média ao ateísmo filosófico do século 19 – e é a razão da fé de pelo menos 2 bilhões de pessoas. Seus ensinos e as frases que disse em seu ministério terreno – como o genial “Dai a César o que é de César” ou o inquietante “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra” – fazem parte dos mais diversos casos de marketing.

Mas são justamente as estratégias empregadas na propagação do Evangelho que têm causado mais controvérsia. Esta é a questão que se levanta quando pesamos os métodos de evangelismo público por parte de igrejas marcadas pela cultura ocidental, saturadas pelo marketing.

Ora, qualquer secundarista sabe que marketing pode ser definido como todas as atividades que ajudam empreendedores a identificar e moldar o desejo de seu alvo, os consumidores – e, então, satisfaze-los mais do que seus competidores o fazem. Isso geralmente envolve pesquisas de mercado, análise das necessidades do cliente, e, então, decisões estratégicas sobre design de produtos, preços, promoções, propaganda e distribuição.

A Igreja enfrentou – e enfrenta – questões inevitáveis por escolher manter o evangelismo pessoal e testemunho público em uma sociedade marcada por uma cultura consumista. A primeira questão é: Será que devemos transformar em artigo de mercado a Igreja e a mensagem de Cristo? Podemos usar técnicas de marketing no cumprimento do “Ide” de Jesus?

Temos condições de mudar o meio sem afetar a mensagem? Ou será que o próprio meio do marketing mancha nossa pregação, fazendo-nos resistir até o último suspiro a toda acomodação à nossa cultura de consumo?

Parece evidente que, a menos que nos abstenhamos de toda forma de evangelismo, o marketing é inevitável. Se ele é a linguagem da nossa cultura, os cristãos devem ter fluência nele, da mesma forma que os missionários transculturais precisam dominar o idioma dos povos aonde vão atuar.

O marketing é apenas a última encarnação dos clássicos modelos evangelísticos, como a persuasão e o exemplo de vida. Por esta perspectiva, o erro estaria em fazer um marketing da Igreja de forma pobre, o que a faria parecer menos do que ela é – como uma marca indesejável – para um público de não cristãos. Deve-se ter em mente, também, que o marketing tem um problema: às vezes, ele leva as pessoas a fazer exatamente o oposto do desejado.

Conflitos com a vida cristã – Em outros termos, as pessoas que respondem ao marketing eclesiástico encaram Jesus como uma mercadoria. Este é o primeiro e grande problema, pois isso é blasfêmia: nós estamos falando sobre o Logos encarnado, e não sobre uma logo. Por outro lado (caso blasfêmia não seja o suficiente…),  isso deveria nos preocupar pelo problema que traz para o discipulado. O consumismo não é apenas um fenômeno social – é espiritual. Ele vem dos hábitos e comportamentos espirituais que conflitam com as práticas particulares da vida cristã.

Existem vários conflitos desta natureza, mas quatro se destacam como mais arriscados:

1. “Você é o que você compra” versus  senhorio de Cristo – Em uma sociedade consumista, a identidade das pessoas vem do elas consomem. O principal foco de uma sociedade consumista é o consumidor – o que é essencial. Marcas comerciais não fazem nada para abalar essa auto-suficiência fundamental; na verdade, elas dependem disso. A dinâmica é simples – nós pagamos pelo privilégio de algumas marcas porque gostamos do que elas fazem por nós. Em contrapartida, as marcas estão bastante satisfeitas em receber nosso dinheiro. Consumidores espirituais, portanto, haverão de se aproximar da Igreja com o mesmo narcisismo com o qual se aproximam das demais marcas, com questionamentos como: “O que estou expressando a meu respeito, caso eu compre a marca Jesus?”; ou “Como o cristianismo completará a visão que eu tenho de mim mesmo?”.

A implicação teológica disso é: eu pertenço a mim mesmo. Sou meu próprio projeto, meu próprio produto. Essa é uma terrível rejeição à glória que deve ser dada a Deus como Criador. O perigo está no fato de que a Igreja passa, com isso, a transformar rapidamente o Evangelho em mera ferramenta de preenchimento pessoal. Pregações e evangelismo que enfatizam apenas os benefícios de se tornar um crente apresentam uma mensagem não muito diferente das propagandas que falam sobre as vantagens de determinados modelos de carros, por exemplo. Essa atitude prejudica o crescimento dos discípulos rumo a uma vida centrada em Deus e no próximo. Sim, a vida cristã traz plenitude para além da imaginação; mas ela vem apenas quando buscamos a Deus mais do que a nós mesmos. Aqueles que vêm à igreja esperando satisfações de mercado e procurando apenas salvar sua vida não encontrarão nem uma coisa nem outra.

2. Descontentamento versus a suficiência de Cristo – Embora o consumismo prometa plenitude pessoal, os ciclos econômicos dependem inteiramente de um descontentamento contínuo. No fundo, o consumismo não se trata apenas de comprar um produto novo, mas sim, de adquirir esse produto para que você se sinta novo. As pessoas que trabalham com o marketing sabem disso e planejam seus produtos de tal forma que o consumidor sempre é levado a desejar o novo que está por vir, o último modelo do que já tem.

Consumidores descontentes também carregam uma armadilha espiritual semelhante. Inicialmente, nossa busca perpétua por conforto e felicidade, na verdade, aniquila-se toda chance de satisfação de nossos desejos.

O prazer de comprar um novo produto ou serviço, na verdade, durará pouco tempo. Logo vai embora – e o pior é que imediatamente depois, passamos a desejar algo novo. Em seguida – e esta é uma questão perversa –, nós não conseguimos lidar com desconforto.

Como consumidores, buscamos novos produtos quando percebemos os primeiros sinais de irritação. Como as clinicamente identificáveis dependências de compras, esse é um espantoso indicador de uma cultura decadente.

A maioria das pessoas, nos mais diversos lugares, não tem o luxo de lutar por vidas livres do sofrimento e da dor. Evidentemente, termos todas as nossas necessidades sempre supridas é precisamente o oposto do que o discípulo deve experimentar. Paulo mostra uma indiferença quanto às circunstâncias da própria vida, sentimento que era fruto de sua maturidade espiritual: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.

Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez. Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.11-13).

A questão levantada pelo apóstolo não é que veremos todas as nossas necessidades prontamente assistidas, mas que, fazendo de Jesus o Senhor de fato de nossas vidas, precisaremos cada vez de menos coisas para termos satisfação completa. O discipulado, presente na comunidade cristã, tem como objetivo satisfazer com uma só coisa: o senhorio de Cristo em sua vida.

3. O relativismo das marcas versus o senhorio de Cristo – Um bom profissional do marketing busca formar um tipo de pessoa que se identifica tanto com sua marca que passa a considerar algo inimaginável a possibilidade de viver sem ela. Em se tratando de valores, esse tipo de entusiasmo parece indicar uma superioridade das marcas na vida de alguém.

Entretanto, subjacente a esse fanatismo pelas marcas, está o relativismo inerente no consumismo. Uma marca de celular não é inerentemente melhor do que a concorrente, embora produtos do gênero precisem ter certa dose de competição técnica. Uma delas pode até fazer um melhor trabalho de capturar as mentes e os corações; todavia, dizer que determinado logo é melhor do que outro é tão ridículo quanto afirmar que os moradores do Rio de Janeiro são melhores do que os moradores de São Paulo.

Melhores por quais padrões? Para ser honesto, as marcas comunicam coisas diferentes umas das outras. No mercado americano de automóveis, Mercedes representa luxo, enquanto  Honda expressa confiança. Ambas, porém, fazem o que devem fazer em termos de qualidade.

Portanto, a superioridade de uma sobre a outra está única e exclusivamente na cabeça do consumidor.

O consumidor que compra nosso marketing fará de Jesus sua marca escolhida, e o zelo resultante dessa escolha parecerá fé apaixonada. Aparências nos desapontam. Uma fé genuinamente apaixonada está enraizada em quem Cristo de fato é. Um zelo pela marca, por sua vez, está centrado na própria pessoa, pois a superioridade de uma marca sobre a outra depende tão somente do entusiasmo do seu devoto.

O zelo existente mascara a arbitrariedade da escolha. Entretanto, a escolha por Cristo não é arbitrária. Se um consumidor descontente com uma marca de TV escolhe outra, a primeira perde e a segunda ganha. Mas se uma pessoa deixa de escolher a Cristo para servir a outros deuses – ou a deus algum –, Cristo não é nem um pouco diminuído.
Consumidores espirituais não têm porque achar que o cristianismo não é uma opção entre muitas. Entretanto, a santidade na vida de uma igreja é um grande testemunho do contrário.

A igreja revela a supremacia de Cristo em um mundo que nega seu poder quando ama o que não é amado, perdoa o imperdoável, promove reconciliações aparentemente impossíveis e faz a perseverança triunfar sobre as dificuldades.

4. Fragmentação versus unidade de Cristo – A chave para o sucesso no marketing é a segmentação: dividir determinada população em grupos identificáveis por suas preferências relacionadas ao consumo. Trata-se de uma análise demográfica. Um profissional do marketing pode olhar para as contas mensais de uma pessoa, ou apenas para o CEP de seu endereço e descobrir coisas importantes para acerca de seu perfil de consumo.

As segmentações nos chamados nichos de mercado permitem aos marqueteiros concentrar suas mensagens em públicos mais restritos, tornando-as mais eficazes. Isso tem permitido que o ser humano do século 21 com capacidade de consumo possa viver praticamente alocado dentro de suas preferências.

Vivemos em bairros residenciais com pessoas que se parecem conosco, vamos a igrejas cujos membros têm perfil social semelhante ao nosso, passeamos com companheiros que têm os mesmos gostos que nós. Tudo isso contribui para relutarmos contra a vida em contextos nos quais as pessoas não são como nós.

Isso, é claro, é um problema para a Igreja. A unidade cristã é um valor bíblico inegociável. Pense na oração de Jesus em João 17, na exortação de Paulo aos filipenses para que fossem um com a mente de Cristo, ou na metáfora da Igreja como o corpo de Cristo, com diferentes membros igualmente importantes em suas funções.

Como Paulo afirmou em Gálatas 3.28, a unidade de Cristo rompeu todas as principais diferenças da sociedade romana: de tribo, classe e gênero. Com efeito, nenhuma identidade importa tanto quanto a identidade cristã.

Precisamos, portanto, estar atentos para as infiltrações da segmentação do marketing nas nossas igrejas. Isso tem provocado duas inaceitáveis consequências: igrejas extremamente homogêneas representando tendências consumistas e, na outra ponta, pequenos grupos homogêneos dentro de grandes igrejas.

Ambas as tendências tendem a nos separar dos que nos parecem “diferentes” e a nos levar uma comunhão restrita por padrões sociais, culturais, etários ou até mesmo étnicos – ou seja, caímos no nicho eclesiástico. Certamente foi a isso que Paulo referiu-se como “conformação com este século”, citada em Romanos 12.2.

O consumismo veio para ficar. Hábitos como autocriação, descontentamento, relativismo e fragmentação se tornarão mais dominantes nos próximos anos. Essa é a forma que a economia global e as transações comerciais julgam ser interessante.

Não podemos derrotar nossa realidade; podemos, sim, viver de forma fiel em meio a esse contexto. Para isso, é fundamental nos lembrarmos da natureza da Igreja de Cristo. Em todas as épocas, cristãos têm lutado para defini-la; é uma tarefa difícil porque é a única instituição divina e humana ao mesmo tempo.

A Igreja é como uma família, um reino, uma organização social, uma reduto de vida, de companheirismo e – para os nossos dias – um mercado. O problema se instaura quando procuramos definir a Igreja como um todo a partir de apenas um de seus aspectos. Ou seja, tratando-a como um mercado que tem uma marca a ser vendida. Se tratarmos o Evangelho como um produto, não estaremos levando aqueles que não crêem a pensar na cruz como apenas mais um logo?

Nós também precisamos entender, porém, que, não importa o que façamos, o consumismo inevitavelmente estará presente na forma pela qual as pessoas veem a Igreja em nossa sociedade. Toda nossa comunicação da Palavra de Deus será encarada como um marketing; toda exposição dos conteúdos do Evangelho será tida como um produto.

E o evangelismo será visto como uma venda. Nada há que possamos fazer para mudar esse contexto. Há ainda mais razões para desafiarmos as expectativas. Consumidores espirituais virão às nossas igrejas como vão às vitrines das lojas nos shoppings, procurando um produto que combine com suas preferências.

Eles desejarão isso porque consumir é a única salvação que eles conhecem. Trarão todos os seus recursos e terão grande dificuldade em entender a graça de Deus, porque não conseguem conceber algo que não pode ser comprado.

Eles virão à nossa vitrine buscando o que querem, da mesma forma como fizeram aqueles que foram a Jesus, em seus dias, buscando comprar seus produtos – os milagres que operava. Naquela época, eles estavam procurando por um mestre, um homem louco, um profeta ou revolucionário, e – no fim – por um cadáver. Hoje, eles estão buscando uma marca espiritual.

Nos dias de Jesus na Terra, quem o procurou encontrou um Messias vivo e um Senhor. Eles encontraram o Deus pelo qual nem mesmo estavam procurando. A pergunta que nos cabe, hoje, é se aqueles que o buscam hoje haverão de achá-lo no que se chama de corpo de Cristo, chamado para transformar o mundo – e se, procurando algo novo para comprar, serão surpreendidos por Deus.