sexta-feira, 29 de junho de 2012

SERMÃO DE JOHN WESLEY - JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ


JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

John Wesley



"Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça". (Romanos 4:5)

 1. Como um pecador pode ser justificado diante de Deus, o Senhor e Juiz de todos, não é uma questão de importância comum a todo filho do homem. Ela contém o alicerce de toda nossa esperança, visto que, enquanto estamos em inimizade com Deus, não pode haver paz verdadeira, nem alegria sólida, quer no tempo ou na eternidade. Que paz pode existir lá, enquanto nosso próprio coração nos condena; e muito mais, Ele que é "maior do que nosso coração, e sabe todas as coisas?".  Que alegria sólida, seja neste mundo ou no vindouro, enquanto "a ira de Deus habita sobre nós?".


2. E, ainda assim, quão pouco esta importante questão tem sido entendida! Que noções confusas muitos têm com respeito a ela! Na verdade, não apenas confusas, mas freqüentemente extremamente falsas; contrárias à verdade, como a luz da escuridão; noções absolutamente inconsistentes com os oráculos de Deus, e com toda a analogia da fé. E desta forma, errando, concernente ao próprio alicerce, eles não podem possivelmente construir nelas; pelo menos, não "ouro, prata, ou pedras preciosas", que resistiriam, quando testados, através do fogo; mas apenas "feno e restolho", que nem são aceitáveis para Deus, nem de proveito para o homem.

3. Com o objetivo à justiça, tanto quanto me cabe, à vasta importância do assunto, salvar, aqueles que buscam a verdade na sinceridade, das "vãs disputas e rivalidades de palavras"; clarear a confusão de pensamento, por meio das quais, muitos têm sido conduzidos, e dar a eles as concepções verdadeiras e justas deste grande mistério da santidade, eu me esforçarei para mostrar:



I.                   Qual o alicerce geral de toda a doutrina da Justificação.

II.                O que é a justificação.

III.             Quem são aqueles que são justificados.

IV.             Em que condições eles são justificados.



I


Em Primeiro Lugar, eu vou mostrar qual o alicerce geral de toda esta doutrina da justificação.


1. Na imagem de Deus o homem foi feito, santo como ele que o criou é santo; misericordioso, como o Autor de tudo é misericordioso; perfeito, como seu Pai no céu é perfeito. Como Deus é amor, então o homem, habitando no amor, habita em Deus, e Deus no homem. Deus o fez para ser uma "imagem de sua própria eternidade"; um retrato incorruptível do Deus da glória. Ele era, portanto, puro, como Deus é puro, de toda mancha de pecado. Ele não conhecia o mal, de nenhum tipo ou grau, mas era interior e exteriormente desprovido de pecado e imaculado. Ele "amou o Senhor seu Deus com todo seu coração, e com toda sua mente, e alma e força".

 2. Ao homem correto e perfeito, Deus deu a lei perfeita, para a qual ele requereu completa e perfeita obediência. Ele requereu completa obediência em todos os pontos, e isto para ser executado, sem qualquer interrupção, do momento em que o homem se tornou uma alma vivente, até o momento que seu julgamento terminasse. Nenhuma redução fora feita para quem não atingiu o objetivo, e proveu totalmente para toda boa palavra e obra. 

3. Para a completa lei do amor que estava escrita em seu coração (contra a qual, talvez, ele não poderia pecar diretamente), pareceu bom à soberana sabedoria de Deus, adicionar uma lei concreta: "Tu não deverás comer do fruto da árvore que cresce no meio do jardim"; anexando esta penalidade nela: "No dia em que comeres dela, tu certamente morrerás".

4. Tal, então, era o estado do homem no Paraíso. Através do amor gratuito, e imerecido de Deus, ele era santo e feliz: Ele conhecia, amava, e desfrutava de Deus, que é, em essência, vida eterna. E nesta vida de amor, ele continuaria para sempre, se ele continuasse a obedecer a Deus em todas as coisas; mas, se ele O desobedecesse, de algum modo, ele perderia todo o direito. "Neste dia", diz Deus, "tu certamente morrerás".

5. O homem desobedeceu a Deus. Ele "comeu da árvore, da qual Deus ordenou, dizendo: não deverás comer dela". E neste dia, ele foi condenado pelo julgamento reto de Deus. Então, também a sentença a respeito do que ele foi advertido antes, começou a tomar lugar sobre ele. Do momento em que ele testou daquele fruto, ele morreu. Sua alma morreu; foi separada de Deus; separada de Deus, a alma não teria mais vida do que o corpo tem, quando separado da alma. Seu corpo, igualmente tornou-se corruptível e mortal; de modo que a morte, então, tomou lugar nisto também. E já sendo morto no espírito, morto para Deus, morto no pecado, ele apressou-se para a morte eterna; para a destruição tanto de seu corpo, quanto de sua alma, no fogo que nunca deverá se extinguir.

6. Assim, "através de um homem o pecado entrou no mundo, e a morte, através do pecado. E então, a morte passou para todos os homens"; estando contida nele que foi o pai comum e representante de todos nós. Assim, "através da ofensa de um", todos estão mortos; mortos para Deus; mortos no pecado; habitando no corpo corruptível e mortal, brevemente a ser dissolvido, e sob a sentença da morte eterna. Assim como, "através da desobediência de um homem", todos "foram feitos pecadores", então, pela ofensa de um, "o julgamento veio sobre todos os homens para a condenação".  (Romanos 5:12 &c).

7. Neste estado estivemos, mesmo toda a humanidade, quando "Deus assim salvou o mundo; no que deu seu Unigênito Filho, para que não perecêssemos, mas tivéssemos a vida eterna". Na plenitude do tempo, Ele foi feito Homem; um outro Líder comum da humanidade; um segundo Pai geral e Representativo de toda a raça humana. E como tal, foi que Ele "carregou nossas aflições". "O Senhor colocando sobre Ele as iniqüidades de nós todos". Então, ele foi "ferido por nossas transgressões, e machucado por nossas iniqüidades"."Ele fez de Sua alma uma oferta pelo pecado": Ele derramou seu sangue pelos transgressores: Ele "carregou nossos pecados em seu próprio corpo no madeiro", para que, através de suas chicotadas, pudéssemos ser curados: E, através desta oblação de si mesmo, uma vez oferecida, ele redimiu a mim e toda a humanidade; tendo, por meio disto, "feito um sacrifício e penitência completos, perfeitos e suficientes pelos pecados de todo o mundo".

 8. Em consideração disto, de que o Filho de Deus "experimentou a morte por todo homem", Deus agora "reconciliou o mundo para si mesmo", não imputando a eles suas "transgressões" anteriores. E, assim, "como pela ofensa de um, o julgamento veio sobre todos, para condenar; do mesmo modo, através da retidão de um, o dom livre veio sobre os homens para a justificação". De maneira que, por causa de seu bem-amado Filho; do que fez e sofreu por nós, Deus agora concedeu, sob uma condição apenas (que Ele mesmo nos capacita também a executar), tanto o desistir da punição devida por nossos pecados; nos restabelecer em seu favor, e restaurar nossas almas mortas para a vida espiritual, quanto a garantia da vida eterna.

 9. Isto, portanto, é o alicerce de toda a doutrina da justificação. Através do pecado do primeiro Adão, que não foi apenas o pai, mas igualmente o representante de todos nós; não alcançamos o favor de Deus; tornamo-nos filhos da ira; ou, como o Apóstolo expressa isto, "o julgamento veio sobre todos os homens para a condenação". Da mesma forma, através do sacrifício pelo pecado, feito pelo Segundo Adão, como o Representante de todos nós, Deus é, deste modo, reconciliado para o mundo; fazendo com ele uma nova aliança; a condição clara disto, sendo uma vez cumprida, "não existe mais condenação" para nós, mas "somos justificados livremente pela Sua graça, através da redenção que está em Jesus Cristo".  



II

 1. Mas o que é ser "justificado?". O que é a "justificação?". Esta é a Segunda coisa que eu proponho mostrar. E é evidente do que já foi observado, que não é o verdadeiramente justo e reto. Esta é a "santificação"; que é, de fato, em algum grau, o fruto imediato da justificação; mas, não obstante, é um dom distinto de Deus, e de uma natureza totalmente diferente. Uma implica o que Deus faz por nós, através de seu Filho; a outra, o que ele opera em nós, através de seu Espírito. De maneira que, apesar de que algumas raras instâncias possam ser encontradas, em que o termo "justificado", ou "justificação" é usado em um sentido tão amplo, de maneira a incluir a "santificação" também; ainda assim, em uso geral, eles são suficientemente distinguidos um do outro, ambos através de Paulo e de outros escritores inspirados.

2. Nem este conceito forçado, de que a justificação é nos limpar da acusação, particularmente aquela de satanás, é facilmente demonstrável de algum texto claro dos santos escritos. Em todo o relato bíblico sobre este assunto, como colocado acima, nem aquele acusador, nem sua acusação parecer ser tomada, afinal. Na verdade, não se pode negar que ele seja o "acusador" dos homens, enfaticamente assim chamado. Mas, de modo algum, parece que o grande Apóstolo faz alguma referência a isto, mais ou menos, em tudo que ele escreveu no tocante à justificação, quer para os Romanos ou os Gálatas.

 3. É também muito mais fácil tomar por certo, do que provar de algum testemunho bíblico claro, que a justificação é nos limpar da acusação trazida contra nós pela lei: De qualquer forma, se esta maneira de falar, forçada e artificial, significar nem mais, nem menos do que isto, que nós transgredimos a lei de Deus, e por meio disto merecemos a condenação do inferno, Deus não impõe naqueles que são justificados a punição que eles mereceriam.


4. Menos do que tudo, a justificação implica que Deus seja enganado com respeito àqueles aos quais Ele justifica; que Ele pense que eles sejam, o que de fato eles não são; que Ele os considera de uma maneira diferente do que são. De modo algum isto implica que Deus julga concernente a nós, contrário à natureza real das coisas; que Ele nos considera mais do que realmente somos, ou nos acredita mais retos, quando somos pecaminosos. Certamente que não. O julgamento do todo sábio Deus é sempre de acordo com a verdade. Nem pode isto consistir sempre com sua sabedoria infalível, pensar que eu sou inocente; julgar que eu sou reto ou santo, porque outro é assim. Ele não pode mais, deste modo, confundir-me com Cristo, do que com Davi ou Abraão. Que algum homem a quem Deus deu entendimento, pese isto, sem preconceito; e que ele não possa deixar de perceber que tal noção de justificação nem é reconciliável com a razão, nem com as Escrituras.

 5. A noção bíblica clara da justificação é a absolvição, o perdão dos pecados. Por meio deste ato de Deus, o Pai; por causa do sacrifício expiatório feito, através do sangue de seu Filho, é que ele "demonstrou sua retidão (ou misericórdia) pela remissão dos pecados que são passados". Este é relato fácil, natural dela, dado por Paulo, através de toda esta Epístola. Assim, ele mesmo a explica, mais especificamente neste e no capítulo seguinte. Desta forma, nos versos seguintes, mas em um lugar, para o texto: "Abençoado são aqueles", diz ele, "cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são ocultos: Abençoado é o homem a quem o Senhor não imputará pecado". A ele que é justificado ou perdoado, Deus "não imputará pecado" à sua condenação. Ele não o condenará naquele relato, quer neste mundo ou no vindouro. Seus pecados, todos os seus pecados passados, em pensamento, palavra e feito, estão ocultos, estão apagados, e não deverão ser lembrados ou mencionados contra ele, não mais do que se eles não tivessem existido. Deus não infligirá naquele pecador o que ele mereceu sofrer, porque o Filho do seu amor sofreu por ele. E do momento em que somos "aceitos, através do Amado", "reconciliados para Deus, através de seu sangue", ele ama, e abençoa, e zela por nós para o bem, como se nós nunca tivéssemos pecado.

De fato, o Apóstolo, em um lugar parece estender o significado da palavra, muito mais além, onde ele diz: "não os ouvintes da lei, mas os fazedores da lei, deverão ser justificados". Aqui ele parece se referir à nossa justificação, para a sentença do grande dia. E assim, o próprio nosso Senhor, inquestionavelmente faz, quando ele diz: "Através de tuas palavras, tu deverás ser justificado"; provando por meio disto, que "para cada palavra inútil que os homens possam falar, eles deverão dar um relato naquele dia do julgamento". Mas, talvez, possamos dificilmente produzir uma outra instância do uso, por Paulo, da palavra naquele sentido remoto. No teor geral dos seus escritos, é evidente que não; e menos do que tudo, no texto diante de nós, que inegavelmente fala, não daqueles que já "terminaram seu curso", mas daqueles que estão exatamente agora "partindo", apenas começando "a corrida que se coloca diante deles".



III


1. Mas esta é a terceira coisa a ser considerada, ou seja: Quem são aqueles que são justificados? E o Apóstolo nos diz expressamente, os ímpios: "Ele (ou seja, Deus) justifica o ímpio"; o ímpio de todo o tipo e grau; e ninguém mais, a não ser o ímpio. Como "aqueles que são retos não necessitam de arrependimento", então, eles não necessitam de perdão. Apenas os pecadores têm alguma oportunidade para o perdão: O pecado apenas é que admita ser perdoado. Perdão, portanto, tem uma referência imediata com o pecado, e, neste aspecto, com nada mais. É para com nossa "iniqüidade", que o Deus perdoador é "misericordioso": É da nossa "iniqüidade", que Ele "não se lembra mais".

2. Isto parece não ser, afinal, considerado por aqueles que tão veementemente afirmam que um homem deva ser santificado, ou seja, santo, antes que ele possa ser justificado; especialmente, através de tais que afirmam que a santidade ou obediência universal deva preceder a justificação. (A menos que eles queiram dizer aquela justificação, do ultimo dia, que está totalmente fora da presente questão). Muito longe disto, que a própria suposição não é apenas completamente impossível (porque onde não existe amor a Deus, não existe santidade; e não existe amor a Deus, a não ser da consciência de seu amor por nós), mas também grosseiramente, e intrinsecamente absurda, e contraditória em si mesma. Porque não é um santo, mas um pecador que é perdoado, e sob a noção de um pecador. Deus não justifica o devoto; não aqueles que já são santos, mas o ímpio. Em que condição ele faz isto, será considerado rapidamente: mas o que quer que seja, ela não pode ser santidade. Afirmar isto é dizer que o Cordeiro de Deus tira apenas aqueles pecados que já foram tirados antes.

3. Então, o bom Pastor busca e salva apenas aqueles que já foram encontrados? Não: Ele busca e salva aqueles que estão perdidos. Ele perdoa aqueles que necessitam de sua misericórdia redentora. Ele salva da culpa do pecado (e, ao mesmo tempo, do poder); pecadores de todos os tipos, de todos os graus: homens que, até então, eram totalmente pecaminosos; nos quais o amor do Pai não estava: e, conseqüentemente, nos quais não habitava coisa boa; nada bom ou verdadeiramente de temperamento cristão, -- mas todos os tais que eram maus e abomináveis: o orgulho, ira, amor ao mundo – os frutos genuínos daquela "mente carnal" que é "inimiga contra Deus".

4. Esses que estão doentes, cujo peso dos pecados é intolerável, são aqueles que necessitam de Médico; esses que são culpados, e que gemem, sob a ira de Deus, são os que precisam de perdão. Esses que "já" estão "condenados", não apenas por Deus, mas também, através de suas próprias consciências, como por meio de milhares de testemunhas, de todas as suas iniqüidades, tanto em pensamento, palavra e obra, clamam por Aquele que "justifica o ímpio", através da redenção que está em Jesus; -- o incrédulo, e "aquele que não pratica as boas obras"; que não pratica coisa alguma que seja boa, que seja verdadeiramente virtuosa ou santa, mas apenas o que é mal continuamente, antes de ser justificado. Porque seu coração é necessariamente, essencialmente mal, até que o amor a Deus seja espalhado nele. E enquanto a árvore é corrupta, assim serão os frutos. "porque uma árvore má não produz frutos bons".

5. Se for objetado: "Mas um homem antes que seja justificado, pode alimentar o faminto, ou vestir o nu; e essas são boas obras"; a resposta é fácil: Ele pode realizar essas, até mesmo antes que seja justificado; e essas são, de certa forma, "boas obras"; elas são, estritamente falando, boas em si mesmas, ou boas aos olhos de Deus. Todas verdadeiramente "boas obras" (para usar as palavras de nossa igreja) "sucedendo a justificação"; e elas são, portanto, boas e "aceitáveis a Deus em Cristo", porque elas "brotam de uma fé viva verdadeira". Por uma paridade de motivo, todas as "obras feitas antes da justificação não são boas"; no sentido cristão; "visto que elas não brotam da fé em Jesus Cristo"; (embora elas possam brotar do mesmo tipo de fé em Deus); "sim, antes, porque aquelas que não são feitas como Deus tem desejado e ordenado que sejam feitas, não duvidamos" (por mais estranho que possa parecer a alguns) "que elas tenham a natureza do pecado".

6. Talvez, aqueles que duvidam disto não tenham considerado devidamente o peso do motivo que é aqui afirmado; porque nenhuma obra feita antes da justificação poderá ser verdadeira e propriamente boa. O argumento transcorre plenamente assim: --



·         Nenhuma obra que não seja feita, como Deus deseja e ordena que seja feita, é boa.

·         Mas nenhuma obra feita antes da justificação é feita, como Deus deseja e ordena a eles que seja feita.

·         Portanto, nenhuma obra feita antes da justificação é boa.

 A primeira proposição é auto-evidente; e a segunda, que nenhuma obra feita antes da justificação é feita como Deus deseja e comanda que seja feita, parecerá igualmente clara e inegável, se considerarmos apenas que Deus quer e ordena que "todas as nossas obras" possam "ser feitas na caridade"; (em ágape) no amor, naquele amor a Deus que produz amor a toda a humanidade. Mas nenhuma de nossas obras pode ser feita neste amor, enquanto o amor do Pai (de Deus como nosso Pai) não está em nós; e este amor não pode estar em nós, até que recebamos o "Espírito de Adoção, clamando em nossos corações, Aba, Pai". Se, portanto, Deus não 'justifica o ímpio', e ele que (neste sentido) "não faz boas obras",  então, cristo morreu em vão; então, não obstante sua morte, nenhuma carne viva poderá ser justificada.



IV


1. Mas em que termos, então, é justificado aquele que é completamente "pecaminoso", e até aquele momento, "não praticou as boas obras?". Em um único apenas: que é a fé: "Crer naquele que justifica o ímpio". E "ele que crê, não é condenado"; mas, "passa da morte para a vida". "Porque a retidão (ou misericórdia) de Deus é pela fé em Jesus Cristo, junto a todos e sobre todos aqueles que crêem: -- A quem Deus enviou para a expiação, através da fé em seu sangue; para que ele pudesse ser justo, e" (consistentemente com Sua justiça) "Justificador daquele que crê em Jesus": "Portanto, concluímos que um homem é justificado pela fé, sem as ações da lei"; sem a obediência prévia à lei moral, que, na verdade, ele não teria, até agora, como executar. Que a lei moral, e esta somente, que aqui está pretendida, aparece evidentemente das palavras que se seguem: "Nós tornamos a lei nula, através da fé? Deus proíbe: Sim. Nós estabelecemos a lei. Que lei estabelecemos pela fé? Não a lei ritual: Não a lei cerimonial de Moisés. De modo algum; mas a grande, e imutável lei do amor; do amor santo a Deus e ao nosso próximo".

2. A fé, em geral é a "elegchos", "evidência" ou "convicção" divina, sobrenatural, "das coisas que não são vistas"; não são reveladas, através de nossos sentidos corpóreos, como sendo tanto passado, futuro ou espiritual. A fé justificadora implica, não apenas a evidência ou convicção divina de que "Deus esteve em Cristo, reconciliando o mundo junto a Si mesmo"; mas a confiança e segurança certa de que Cristo morreu por "meus" pecados; de que Ele "me" amou, e deu a Si mesmo por "mim". E naquele momento, por mais que um pecador que assim crê, esteja na tenra infância, na força dos anos, ou quando ele está idoso e de cabelos grisalhos, Deus justifica aquele ímpio. Deus, por amor de seu Filho, perdoa e absolve aquele que tinha em si mesmo, até então, nenhuma coisa boa. Arrependimento, na verdade, Deus deu a ele antes; mas este arrependimento foi, nem mais nem menos, uma profunda consciência da falta de todo o bem, e da presença de todo o mal em si mesmo. E qualquer bem que ele tenha, ou faça, do momento em que ele crê em Deus, através de Cristo, a fé não é "descoberta", mas "produzida". Este é o fruto da fé. Primeiro, a árvore é boa, e, então, o fruto é também bom.

3. Eu não posso descrever a natureza desta fé, melhor do que nas palavras de nossa própria igreja: "O único instrumento da salvação" (do qual a justificação é um ramo) "é a fé; ou seja, a confiança e convicção verdadeiras de que Deus, tanto perdoou nossos pecados, quanto nos aceitou novamente em Seu favor, pelos méritos da morte e paixão de Cristo". -- Mas aqui nós devemos prestar atenção, que nós não hesitamos com Deus, através de uma fé inconstante e indecisa: Porque Pedro fraquejou na fé, quando veio até Jesus, por sobre as águas, ele correu o risco de afogar-se; assim nós, se ficarmos indecisos ou em dúvida, é de se temer que possamos afundar como Pedro o fez; não na água, mas no abismo sem fim do fogo do inferno". (Sermão sobre a Paixão)

"Portanto, tem uma fé segura e constante, não apenas aquela da morte de Cristo que é acessível a todo o mundo, mas a de que Ele fez um completo e suficiente sacrifício por 'ti'; uma perfeita limpeza de 'teus' pecados. De modo que tu possas dizer com o Apóstolo, que Ele amou a 'ti', e deu a si mesmo por 'ti'. Porque isto é fazer Cristo 'teu', e aplicar Seus méritos em 'ti mesmo'".  (sermão sobre o Sacramento, Primeira Parte)

4. Por afirmar que esta fé é o termo ou "condição da justificação", eu quero dizer, Primeiro, que não existe justificação sem ela."Ele que não crê já está condenado"; e por quanto tempo ele não crê, aquela condenação não pode ser removida, mas "a ira de Deus habita nele". Como "não existe outro nome debaixo do céu", do que o de Jesus de Nazaré; nenhum outro mérito, por meio do qual, um pecador condenado possa sempre ser salvo da culpa do pecado; então não existe outro caminho de obter a porção em seus méritos, do que "pela fé em seu nome". De maneira que, por quanto tempo estamos sem esta fé, somos "estranhos para a aliança da promessa"; somos "forasteiros da comunidade de Israel, e sem Deus no mundo". Quaisquer que sejam as virtudes (assim chamadas) que um homem possa ter, -- eu falo daqueles junto aos quais o Evangelho é pregado: porque "o que devo fazer para julgar aqueles que estão sem?" – quaisquer boas obras (então computadas), que ele possa fazer, serão de nenhum proveito; ele ainda é um "filho da ira", ainda está sob a maldição, até que creia em Jesus.

5. Fé, portanto, é a condição "necessária" da justificação; sim, e a "única" condição "necessária". Este é o Segundo ponto, cuidadosamente a ser observado; o de que, no mesmo momento, Deus dá à fé (uma vez que "ela é um dom de Deus"), ao "ímpio" que "não pratica as obras"; a "fé é conferida a ele como retidão". Ele não tem retidão, afinal, antecedente a isto, não tanto quanto retidão nula, ou inocência. Mas a "fé é imputada a ele, como retidão"; no mesmo momento em que ele crê. Não que Deus (como foi observado antes) pense que ele será o que ele não é. Mas como "ele fez Cristo ser pecado por nós", ou seja, tratado como um pecador; punido por nossos pecados; então, Ele reputou a nós retidão, do momento em que cremos nele: Ou seja, Ele não nos pune por nossos pecados; sim, nos trata como se fôssemos inocentes e retos.

6. Certamente, a dificuldade de reconhecer esta proposição, de que a "fé é a única condição da justificação", deve se erguer do não entendimento dela. Nós queremos dizer com isto, que ninguém é justificado; a única coisa que é imediatamente, indispensavelmente, e absolutamente requerida com o objetivo do perdão. Como, por um lado, embora um homem possa ter todas as coisas mais, sem a fé, ainda assim, ele não pode ser justificado; de maneira que, por outro, embora se suponha que ele necessite de tudo, ainda assim, ele tem fé, e ele não deixa de ser justificado. Suponha um pecador, de algum tipo ou grau, consciente de sua total iniqüidade, de sua completa inabilidade de pensar, falar, ou fazer algum bem, e na iminência do fogo do inferno; suponha que este pecador, desamparado, e desesperançado, atire-se totalmente na misericórdia de Deus em Cristo (o que, de fato, ele não pode fazer, a não ser pela graça de Deus); quem pode duvidar de que ele é perdoado naquele momento? Quem afirmará que algo mais é "indispensavelmente requerido", antes que aquele pecador possa ser justificado?

Agora, se sempre existiram tais instâncias, desde o começo do mundo (e não tem sido milhares e milhares de vezes?), segue-se plenamente que a fé é, no sentido acima, a única condição da justificação.

 7. Não se tornam vermes, medíocres, culpados, pecadores, os que recebem quaisquer bênçãos que eles desfrutam (da menor gota de água que refresca nossa língua, à imensidão de riquezas da glória na eternidade), da graça, do mero favor, e não do débito, perguntar a Deus as razões de sua conduta? Não é adequado para nós questionarmos "Aquele que não dá relato algum de seus caminhos"; exigir "por que Tu fazes da fé a condição; a única condição da justificação? Por que tu decretas que 'Aquele que crê', e ele apenas, 'deverá ser salvo?'". Este é o mesmo ponto no qual Paulo tão fortemente insiste, no novo Capítulo desta Epístola, a saber – Que os termos do perdão e aceitação devem depender, não de nós, mas "Dele que nos chamou"; que não existe "falta de retidão em Deus", em fixar Seus próprios termos, não de acordo com os nossos, mas de acordo com seu bom prazer; Aquele que pode merecidamente dizer: "Eu terei misericórdia para com aqueles com quem tenho misericórdia"; ou seja, aquele que crê em Jesus."De maneira, que não cabe a ele que deseja, ou que vai ao encalço, escolher a condição na qual ele encontrará aceitação; mas a Deus que mostra misericórdia"; que aceita nada, afinal, a não ser do seu próprio dom do amor gratuito; de sua bondade que o homem não merece."Portanto, ele terá misericórdia em quem ele terá misericórdia", ou seja: daqueles que acreditarem no Filho do seu amor; mas quanto aos que não crerem, "Ele endurecerá", deixados, por fim, para a dureza dos seus corações.

8. Um motivo, portanto, podemos humildemente conceber, de Deus fixar esta condição para a justificação -- "Se tu creres no Senhor Jesus Cristo, tu serás salvo" -- foi com o objetivo de "impedir o orgulho do homem". O orgulho já destruiu os próprios anjos de Deus, lançou abaixo "a terça parte das estrelas do céu". Foi igualmente, em grande medida, devido a isto, quando o tentador disse: "Vocês devem ser deuses", que Adão caiu de sua própria firmeza, e trouxe o pecado e a morte para o mundo. Foi, portanto, um exemplo da sabedoria notável de Deus, apontar tal condição de reconciliação para Ele e todas as suas posteridades, quando efetivamente os humilharia, e os rebaixaria ao pó. E tal é a fé. Ela é peculiarmente adequada para esta finalidade: Uma vez que ele veio a Deus, através desta fé, deve fixar seus olhos, sozinho em sua própria iniqüidade, em sua culpa e impotência, sem ter o mínimo cuidado com algum bem suposto em si mesmo; para qualquer virtude ou retidão que seja. Ele deve vir como um "mero pecador", interior e exteriormente autodestruído, e autocondenado, trazendo nada para Deus, a não ser incredulidade apenas, não advogando coisa alguma de si mesmo, a não ser o pecado e miséria. Assim é, e somente assim, quando sua "boca é fechada", e ele se coloca completamente "culpado diante" de Deus, que ele poderá "olhar junto a Jesus", como toda e única "expiação para seus pecados".  Assim somente, ele pode "ser encontrado Nele", e receber a "retidão que é de Deus, através da fé".

9. Tu, ímpio que ouves e lês estas palavras! Tu, pecador vil, desamparado, miserável! Eu te comprometo, perante Deus, o Juiz de todos, a ires até Ele, com toda a tua iniqüidade. Presta atenção, tu destróis tua própria alma, declarando, mais ou menos, tua retidão. Vá, tão completamente pecaminoso, culpado, destruído, merecendo e caindo no inferno; e tu, então, deverás encontrar favor aos olhos Dele, e saber que Ele justifica o pecador. Como tal, tu serás trazido junto ao "sangue que borrifa", como um pecador perdido, desamparado, e condenado. Assim, "olha para Jesus". Lá está "o Cordeiro de Deus", que "tira teus pecados!". Não advoga obra alguma, retidão alguma que sejam tuas! Nenhuma humildade, arrependimento, sinceridade! De modo algum. Isto seria, de fato, negar o Senhor que te comprou. Não: Declara simplesmente, o sangue da promessa, da redenção paga por tua alma orgulhosa, obstinada, pecadora. Quem és tu, que agora vês e sentes tanto tua iniqüidade interior quanto exterior? Tu és o homem! Eu quero a ti para meu Senhor! Eu "te" desafio a seres um filho de Deus, pela fé! O Senhor necessita de ti. Tu que sentes que és exatamente adequado para o inferno, és exatamente adequado para promover a glória Dele; a glória de Sua graça livre, justificando o pecaminoso, e aquele que não praticou as boas obras. Ó vem rapidamente! Crê no Senhor Jesus; e tu, até mesmo tu, serás reconciliado para Deus.
 

[Editado anonimamente no Memorial University of Newfoundland, com correções de George Lyons do Northwest Nazarene College (Nampa, Idaho) para Wesley Center for Applied Theology.]
















ESTUDOS - O DIA DE JESUS CRISTO


O DIA DE JESUS CRISTO



Irmãos, no que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com ele, nós vos exortamos" (2 Ts 2.1).

Em uma revista cristã alemã  texto excelente sobre "O Dia de Jesus Cristo", ou seja, sobre o arrebatamento (1 Ts 4.13-18), e  reproduzido como introdução a esta mensagem:

Arrebatados!

De repente, num breve e intenso momento, no instante mais feliz e esperado durante séculos pela Igreja de Jesus, o próprio Senhor que estará voltando chamará os Seus: Ele vai chamá-los dos vales silenciosos, das colinas banhadas de sol, dos cemitérios das aldeias, das profundezas dos mares, dos cenários de guerra, das selvas da Índia, das terras pantanosas da África, das ilhas dos mares longínquos. De qualquer lugar solitário onde Seus filhos tiverem morrido sofrendo a Seu serviço, eles ressuscitarão glorificados para ir ao encontro do seu Senhor. Os crentes que ainda estiverem vivos serão arrebatados ao encontro do Senhor nos ares. Que visão para olhos que choram! Que esperança para corações que aguardam! Que estímulo para realizar tarefas que já deveriam ter sido feitas há muito tempo!

Arrebatados! Quem consegue imaginar isso? Enquanto muitas pessoas estiverem ocupadas com seus afazeres, os cristãos irão ao encontro do seu Senhor. Talvez, enquanto estiverem ajoelhados em seu quarto, orando, eles serão arrebatados. Talvez serão arrebatados quando estiverem meditando em seus corações justamente sobre a Palavra de Deus que fala sobre a volta de Jesus! Enfermos, sofrendo pacientemente no leito da enfermidade, serão arrebatados e irão ao encontro do seu Senhor!

Devemos permanecer vigilantes, pois não sabemos a hora em que o Filho do Homem virá! Não sabemos a hora em que o Senhor chegará; mas também não sabemos de nenhuma hora em que Ele não possa vir! Isso ainda poderá demorar anos; ou poderá acontecer amanhã – e também pode acontecer ainda hoje.

Nas mensagens sobre o arrebatamento procuro mostrar que devemos fazer diferença entre o "Dia de Jesus Cristo" e o "Dia do Senhor". O "Dia de Jesus Cristo" é o dia da vinda do Senhor como Noivo para a Sua Igreja, Sua Noiva. Esse dia começará com o arrebatamento, que será seguido pelo julgamento diante do tribunal de Cristo e pelas bodas do Cordeiro. O "Dia do Senhor", ao contrário, será um tempo de juízos para o mundo ímpio e para Israel, por ter rejeitado o Filho de Deus (2 Ts 2.9-12). O "Dia do Senhor" começará depois do arrebatamento, desembocará na Grande Tribulação, terminando com o estabelecimento do reino de Cristo sobre a terra e com a restauração do povo judeu.

A seguir apresentamos uma breve distinção entre o "Dia de Jesus Cristo" para o arrebatamento e o "Dia do Senhor" para o estabelecimento do Seu reino:

1. O terrível juízo sobre os descrentes

Após o arrebatamento, a eficácia de Satanás, com todo poder, sinais e prodígios da mentira, atingirá o mundo incrédulo com todo o seu ímpeto. Então os homens colherão o que semearam. Todo o engano da injustiça se abaterá sobre os que não quiseram arrepender-se (Ap 9.20-21; 16.9-11), e eles não terão mais a chance de voltar atrás. Eles estarão perdidos e continuarão perdidos: "Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos" (2 Ts 2.9-10). Eles serão de tal modo dominados por uma poderosa força do engano, que toda a sua "segurança" consistirá da mais pura insegurança. E o pior será que eles nem o perceberão, porque estarão totalmente cegos e entregues à própria sorte: "É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira" (v.11). Eles serão julgados, e sua condenação consistirá em serem dominados pelo diabo na pessoa do anticristo. Por terem se deleitado com a injustiça e a mentira, eles serão entregues a essa mesma mentira e crerão nela: "a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça" (v.12).

2. A segurança eterna dos crentes

A seguir, o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, dirige-se aos crentes em 2 Tessalonicenses 2. Ele fala de uma maneira totalmente diferente e com outra entonação, fazendo com que os cristãos se sintam aliviados: "Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade" (v.13). Aqui temos certeza em lugar de incerteza, garantia ao invés de dúvida, consolo em lugar de desesperança. Paulo diz

– que ele pode dar graças pelos crentes;

– que eles são amados pelo Senhor;

– que eles são escolhidos por Deus, salvos e santificados pelo Espírito Santo;

– que eles creram na verdade em Jesus Cristo, e por isso não terão que passar pelo tempo da Tribulação como aqueles (vv. 9-12) que não aceitaram a verdade para serem salvos e que não creram na verdade.

Como Paulo podia ter tanta certeza e escrever de maneira tão positiva à igreja em Tessalônica? Porque ele sabia que Jesus tornou-se tudo para aqueles que crêem nEle. Paulo conhecia muito bem a verdade da Primeira Epístola aos Coríntios: "Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (1 Co 1.30). E ele também sabia da verdade expressa em Hebreus 10: "então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados" (Hb 10.9-10,14).

À Igreja aguarda a inimaginável glória de Jesus Cristo, o cumprimento da oração de Jesus: "Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo" (Jo 17.24). Isso será realizado no dia do arrebatamento, quando Jesus voltar conforme Sua promessa: "...voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também" (Jo 14.3).

Continuamos lendo em 2 Tessalonicenses 2.15-17: "Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. Ora, nosso Senhor Jesus Cristo mesmo e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna consolação e boa esperança, pela graça, consolem o vosso coração e vos confirmem em toda boa obra e boa palavra." Aqui aparecem novamente as palavras que sempre são usadas em conexão com o arrebatamento: firmeza, consolação e esperança (veja Jo 14.1; 1 Ts 4.13-18; 1 Co 15.58; 2 Ts 2.2). E tudo isso porque a Igreja creu nAquele que é o Único que pode salvar. O Senhor Jesus expressa da seguinte maneira o Seu consolo para aqueles que crêem nEle: "Porque o próprio Pai vos ama, visto que me tendes amado e tendes crido que eu vim da parte de Deus" (Jo 16.27).

3. Jesus Cristo conduz Sua Igreja para o alvo

Paulo escreve em Filipenses 1.6-7: "Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós..." (veja também Fp 3.20-21). Certamente o apóstolo Paulo também sabia das fraquezas dos filipenses. Mesmo assim, ele estava plenamente convicto de que o Senhor haveria de completar a obra começada também em suas vidas, e não excluiu ninguém dessa expectativa. Ele sabia que no dia do arrebatamento Deus não deixaria para trás nenhum de Seus filhos, mas alcançaria o alvo com todos eles. Certa vez o reformador Martim Lutero disse:

Por minha maldade e fraqueza inatas, tem sido impossível para mim satisfazer as exigências de Deus.

Se não pudesse crer que Deus me perdoa, por amor a Jesus, se não conseguisse acreditar que Ele apaga todas as minhas falhas e toda a minha incapacidade de alcançar Seu padrão, o que me faz chorar e lamentar todos os dias, tudo estaria acabado para mim!

Eu teria que desesperar, mas não o faço. Não me dependuro numa árvore, como Judas. Eu me enlaço nos pés de Cristo, como fez a pecadora. Embora eu seja pior do que ela, agarro-me ao meu Senhor.

Então Jesus dirá ao Pai: "Este pobre desesperado também terá que passar. Ele não cumpriu os Teus mandamentos, mas se agarra a mim, Pai! Eu morri também por ele. Deixe-o entrar!"

Esta é a minha fé!

Da nossa parte, não temos nenhuma capacidade natural que nos deixe perfeitamente preparados para o dia da volta de Jesus. Mas o apóstolo Paulo expressa com as seguintes palavras o que podemos e devemos fazer:

"...de maneira que não vos falte nenhum dom, aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Co 1.7-8).

"...olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus" (Hb 12.2; veja também 1 Ts 3.12-13).

Esse "olhar para o alto" é extremamente importante para um cristão. Pois, o pior que alguém pode fazer quando a água lhe chega ao pescoço é desanimar. Como exemplo vou contar um acontecimento verdadeiro com uma aplicação espiritual:

Olhar para cima

Certa vez um jovem marinheiro teve que subir ao mastro durante uma tempestade. As ondas levantavam o barco para alturas estonteantes e logo em seguida jogavam-no para profundezas abismais. O jovem marujo começou a sentir vertigens e estava quase caindo. O capitão gritou para ele: "Moço, olhe para cima!" De maneira decidida, o marinheiro desviou seu olhar das ondas ameaçadoras e olhou para cima. E esse olhar para o céu o salvou. Ele conseguiu subir com segurança e executar a sua tarefa.

Quando os dias de tribulação revolvem a nossa vida, quando as tempestades da vida nos confundem e os horrores do abismo se abrem diante de nós, nosso coração começa a tremer, e a alma sofre vertigens de medo e horror. Perdemos o equilíbrio e somos ameaçados de despencar. Entretanto, se desviarmos nosso olhar dos perigos e olharmos para o Ajudador, se buscarmos a face do Senhor em oração e agarrarmos a Sua poderosa mão, nosso coração se aquietará, receberemos força e paz para podermos executar as nossas tarefas em meio às tempestades e finalmente seremos vitoriosos.

4. A transformação na Sua imagem

Filipenses 3.20-21 fala dessa transformação: "Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas" (veja também Cl 3.3-4). A Bíblia dá aos filhos de Deus a garantia de que eles têm direito de cidadania no céu desde agora, enquanto ainda vivem sobre a terra. O céu não é um país estrangeiro, ele é nosso lar, nossa pátria. Ali os cristãos verdadeiros têm direito de habitar, ali estão inscritos os seus nomes (Lc 10.20). Todo filho de Deus é selado com o Espírito Santo e assim tem passagem livre e acesso à cidade edificada por Deus.

A Igreja de Jesus busca esse lar e anseia por essa morada celestial, esperando que seu Senhor volte de lá. A palavra grega "apekdechometha", que se encontra em Filipenses 3.20 e é traduzida por "aguardamos", no texto original expressa um forte anseio e uma intensa expectativa. Trata-se de um ardente anseio por um acontecimento que se crê ser iminente. O significado é "espichar o pescoço aguardando temerosamente para não perder o que se espera". Será que não nos tornamos muito negligentes em relação à nossa espera pela volta de Jesus?

Quando o Senhor Jesus voltar, Deus transformará nosso corpo humilde, fraco e débil, não em um corpo angelical, não em qualquer corpo de glória, mas "...para sermos conformes à imagem de seu Filho" (Rm 8.29). Se isso não estivesse escrito exatamente assim, não ousaríamos dizê-lo, nem teríamos coragem de pensar a respeito. Mas também em 1 João 3.2 é apresentada essa grandiosa verdade: "Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é" (veja também 2 Ts 2.14; 1 Co 15.43; 1 Ts 4.17).

5. Uma última exortação

É notável que Paulo diz primeiro em completa confiança: "Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus" (Fp 1.6), mas depois continua como se temesse alguma coisa: "...preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente" (Fp 2.16). Será que, em relação à eternidade, pode realmente haver algo que seja "em vão"? Ora, a salvação eterna nos está garantida, pois Jesus consumou a obra da reconciliação para todos os que crêem nEle. Mas em relação ao galardão ou à herança, e à posição que ocuparemos no céu, pode haver coisas que tenham sido "em vão". Paulo quer dizer com isso: se vocês não perseverarem na palavra da vida, se vocês não se preocuparem seriamente com o discipulado, com a maneira com que seguem ao Senhor, se Jesus não for sempre a mais alta prioridade em suas vidas – então todo o meu trabalho, todas as minhas instruções, minhas cartas, minhas exortações e minhas orações terão sido em vão. Para todos os filhos de Deus que não querem levar a sério o discipulado de Jesus haverá um amargo "em vão!"

Como será esse "em vão"? Sabemos que após o arrebatamento teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali tudo virá à luz, e ali a nossa vida será avaliada. Está escrito em 2 Coríntios 5.10: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo" (veja também 1 Co 4.5). A Bíblia nos adverte claramente acerca da possibilidade de ficarmos envergonhados: "Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda" (1 Jo 2.28).

Como será ficar "envergonhados na sua vinda" para aqueles que não seguiram a santificação? Penso que a respeito existe um exemplo muito interessante e admoestador no Antigo Testamento: Deus havia prometido ao Seu povo uma terra que "mana leite e mel", uma terra em que Israel haveria de ter paz e onde Deus sempre estaria com Seu povo. Mas os israelitas daquele tempo deixaram-se influenciar pelos relatos negativos dos dez espias, que falaram mal da Terra Prometida e começaram a murmurar terrivelmente. Então eles não quiseram ocupar a terra, preferindo voltar para a escravidão no Egito – o que, no Novo Testamento, significa voltar para o mundo. Em conseqüência disso apareceu a glória do Senhor. Ele os repreendeu por sua incredulidade. Deus estava a ponto de destruir todo o povo, mas Moisés intercedeu por Israel, orando: "Agora, pois, rogo-te que a força do meu Senhor se engrandeça, como tens falado, dizendo: O Senhor é longânimo e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta gerações. Perdoa, pois, a iniqüidade deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia e como também tens perdoado a este povo desde a terra do Egito até aqui" (Nm 14.17-19). E o Senhor lhe respondeu: "Tornou-lhe o Senhor: Segundo a tua palavra, eu lhe perdoei. Porém, tão certo como eu vivo, e como toda a terra se encherá da glória do Senhor, nenhum dos homens que, tendo visto a minha glória e os prodígios que fiz no Egito e no deserto, todavia, me puseram à prova já dez vezes e não obedeceram à minha voz, nenhum deles verá a terra que, com juramento, prometi a seus pais, sim, nenhum daqueles que me desprezaram a verá" (vv.20-23). O povo recebeu o perdão e não foi destruído, mas perdeu a recompensa; perdeu tudo aquilo que Deus queria dar-lhe de presente (veja Js 5.6; 14.8-10,14).

Sofrer danos na glória eterna, ficar "envergonhados" diante do tribunal de Cristo, consiste em sermos salvos, mas perdermos a herança (o galardão). É disso que fala 1 Coríntios 3.15: "se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo." A Bíblia Viva diz nessa passagem: "Entretanto, se a casa que ele edificou queimar-se, ele terá um grande prejuízo. Ele mesmo será salvo, mas como um homem fugindo através duma barreira de chamas." Esse também foi o caso de Ló, que foi salvo de Sodoma, cidade madura para o juízo, mas perdeu sua mulher e todos os seus bens (Gn 19.1ss). Por essa razão o Senhor Jesus ressurreto advertiu: "Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa" (Ap 3.11).

Pelo fato desse assunto ser tão sério, vamos exortar-nos e também animar-nos mutuamente com as palavras de Romanos 13.11-14: "E digo isto a vós outros que conheceis o tempo: já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto do que quando no princípio cremos. Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências."

Para que possamos fazer tudo de maneira correta, precisamos colocar conscientemente a Jesus em primeiro lugar em nossas vidas, dando todo o espaço a Ele. O seguinte episódio ilustra o que quero dizer:

Mudança de lugar

O organista de uma igreja em certa aldeia estava tocando um trecho de uma composição de Mendelssohn. Mas ele tocava muito mal. Um estranho que ia passando pela rua ouviu os acordes, entrou na igreja e esperou o final da música. Então ele pediu ao organista que o deixasse tocar. Este se opôs energicamente: "Além de mim, ninguém toca nesse órgão!" Por várias vezes o estranho teve que pedir e implorar, até que finalmente o organista cedeu. O estranho se assentou diante do órgão, acertou os registros e começou a tocar a mesma música. Mas que diferença! A pequena igreja encheu-se de música celestial. O organista escutava extasiado e perguntou: "Quem é o senhor?" O visitante respondeu: "Eu sou Mendelssohn!’ "O quê?", disse o organista, "e eu não quis deixá-lo tocar o órgão!?"

Jesus salvou a nossa vida de maneira maravilhosa e nos comprou por alto preço. Somos obra Sua. Permitamos que Ele toque os acordes da música de nossa vida! Então Ele tomará nossa existência em Suas mãos e fará dela uma melodia celestial.

Eu gostaria de enfatizar e sublinhar ao máximo esse apelo tão simples! Pois, se você permitir essa mudança de lugar e entregar ao Senhor Jesus Cristo o domínio sobre sua vida através de uma decisão consciente, Ele a transformará maravilhosamente! Então você será algo para louvor da Sua glória e terá a certeza de que não será envergonhado na Sua vinda!



Aquele que beber da água que eu tenho para dar, nunca mais terá sede.

Jesus Cristo


SERMÃO DE JOHN WESLEY -OS MEIOS DA GRAÇA


Os Meios da Graça

John Wesley



"Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos, e não os guardastes; tornai vós para mim; e eu tornarei para vós , diz o Senhor dos Exércitos; mas vós dizeis:em que havemos de tornar?". (Malaquias 3:7)



I. Existem agora quaisquer ordenanças, desde que a vida e a imortalidade foram trazidas à luz do Evangelho?



II. Existem alguns meios da graça?



III. Todos os que desejam a graça de Deus deverão esperar por ela, nos meios que Ele tem ordenado?



IV. Tão claramente quanto Deus tem apontado os meios, os homens têm se colocado contra eles.



I



(1) Mas existem algumas ordenanças agora, desde que a vida e a imortalidade foram trazidas à luz pelo Evangelho? Existem, debaixo dos desígnios cristãos, alguns meios ordenados de Deus, como canais usuais de sua graça? Esta questão nunca pôde ser proposta, em uma igreja apostólica, a menos, por alguém que, abertamente, se declarou ser um pagão; todo o corpo cristão está de acordo que Cristo tem ordenado alguns meios exteriores, para transmitir sua graça às almas dos homens. A constante prática deles coloca isto além de toda disputa; já que, por quanto tempo, 'todos que criam estavam juntos, e tinham todas as coisas em comum'. (Atos 2:44), 'eles perseveraram  na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações'. (Atos 2:42)



2) Mas, no processo do tempo, quando 'o amor de muitos se tornou frio'; alguns começaram a confundir os meios pelos fins; e a colocar a religião, antes, fazendo aquelas obras exteriores, do que um coração renovado, na busca da imagem de Deus. Eles esqueceram que 'a finalidade' de todo 'mandamento é o amor, com um coração puro', com 'uma fé genuína'; o amor deles para com o Senhor, seu Deus, com todos os seus corações e ao próximo, como a si mesmos; e sendo purificados do orgulho, raiva, e desejo diabólico, pela 'fé da ação de Deus'. Outros pareceram imaginar que, embora a religião não consistisse praticamente desses meios exteriores, ainda assim, havia alguma coisa neles, da qual Deus tinha se agradado: alguma coisa que ainda os faria aceitáveis à sua vista, embora eles não fossem na exata medida da lei, justiça, misericórdia e amor de Deus.



(3) É evidente que, naqueles que abusaram deles desse modo, não se conduziram para a finalidade, para o qual tinham sido ordenados: antes, as coisas que teriam sido para a saúde deles, foram para eles ocasião de queda. Eles estavam tão distantes de receber qualquer benção, nesse sentido, que eles apenas lançaram uma maldição sobre suas cabeças; tão longe de se desenvolverem mais puros, no coração e vida, que eles duplicaram mais os filhos do inferno, do que antes. Outros, percebendo claramente que esses meios não conduziriam a graça divina, para esses filhos do diabo, começaram, desse caso particular, a esboçar uma conclusão geral: a de que eles não eram os meios de transmitir a graça de Deus.



(4) Ainda assim, o número daqueles que abusaram das ordenanças de Deus foi muito maior do que aqueles que as desprezaram; até que certos homens se levantaram, não apenas de grande entendimento (algumas vezes, junto com aprendizagem considerável), mas que igualmente pareceram ser homens de amor; experimentalmente familiarizados com a religião interior verdadeira. Alguns desses eram luzes flamejantes e brilhantes; pessoas famosas, em suas gerações, e como tais, tinham merecido o bem da igreja de Cristo, por se levantarem, na lacuna, contra o transbordamento da iniqüidade.



Não  se pode supor que esses homens santos e veneráveis pretenderam alguma coisa a mais, a princípio, do que mostrar que aquela religião exterior não valia a pena, sem a religião do coração; que 'Deus é um Espírito, e eles que o adoram devem adorá-Lo, em espírito e verdade': que, por conseguinte, a adoração externa é trabalho perdido, sem um coração devotado a Deus; que as ordenanças exteriores de Deus, então, é muito benéfica, quando eles progridem, na santidade interior; mas, quando eles não progridem, são inaproveitáveis e vazias; são mais levianas do que a vaidade: que, quando elas são usadas, como se estivessem no lugar disso, elas são total abominação ao Senhor.



(5)  Mesmo assim, não seria estranho, se alguns desses, estando fortemente convencidos daquela profanação horrenda das ordenanças de Deus, a qual tinha se espalhado sobre toda a igreja, e quase dirigido a religião verdadeira, para fora do mundo, — no zelo ardoroso deles, para a glória de Deus, e a recuperação de almas dessa ilusão fatal, — falassem, como se a religião exterior fosse absolutamente nada; como se não tivesse lugar na religião de Cristo. Não seria surpresa, afinal, se eles não pudessem sempre ter se expressado com suficiente precaução; de modo que os ouvintes imprudentes poderiam acreditar que eles condenaram todos os meios exteriores, como completamente improdutivos, e como não designados de Deus para serem o canal comum da transmissão da sua graça nas almas dos homens.



Além do mais, não é impossível que alguns desses homens santos, tivessem, por fim, se deixado cair nessa opinião; em particular aqueles que, não pela escolhas, mas pela providência de Deus, foram cortados de todas essas ordenanças; talvez vagueando, para cima e para baixo, tendo nenhuma habitação certa, ou habitando em tocas e cavernas da terra. Esses, experimentando a graça de Deus, em si mesmos, embora eles estivessem privados de todos os meios exteriores, poderiam deduzir que a mesma graça poderia ser dada a eles que, por firme intenção, se privaram deles.



(6) A experiência mostra como facilmente essa noção se espalha, e insinua-se dentro das mentes dos homens; especialmente, daqueles que estão totalmente acordados e fora do sono da morte, e começam a sentir o peso de seus pecados; um fardo muito pesado para ser suportado. Esses são usualmente impacientes, em seu estado presente; e, tentando toda maneira de escapar dele, eles estão sempre prontos a captar alguma coisa nova, e qualquer novo propósito de bem-estar e felicidade. Eles têm provavelmente tentado a maioria dos meios exteriores, e não encontraram nenhuma facilidade neles; pode ser mais e mais remorso, medo, tristeza e condenação. É fácil, por conseguinte, persuadir esses que é melhor para eles absterem-se desses; que é melhor para eles privarem-se de todos esses meios. Eles estão cansados de se esforçarem (como parece), em vão; de labutarem no fogo; e estão, entretanto, satisfeitos de alguma pretensão de colocar de lado, aquilo no qual suas almas não se agradam; para parar a luta dolorosa, e mergulhar na inatividade indolente.



II



(1) No discurso seguinte, eu proponho examinar mais amplamente, se existem alguns meios da graça.  Por 'meios da graça', eu entendo sinais exteriores, palavras ou ações ordenadas de Deus, e designadas para essa finalidade, para serem os canais comuns, por onde Ele poderia transmitir para os homens a graça preventiva, justificada ou santificada. Eu uso essa expressão, meios da graça, porque eu não conheço outra melhor; e porque ela tem sido geralmente usada na igreja cristã, há muitos anos: em particular, por nossa própria igreja, que nos direciona a glorificar a Deus, tanto pelos meios da graça, e esperança de glória; e nos ensina que o sacramento é 'um sinal exterior da graça interior, e os meios por onde nós recebemos o mesmo'.



Os principais desses meios são as orações, se em secreto, ou com uma grande congregação; pesquisando as Escrituras (o que implica ler, ouvir, e meditar nisso); e receber a Ceia do Senhor, comer o pão e beber o vinho na lembrança Dele: E esses eu acredito são ordenado de Deus, como os canais comuns da transmissão de sua graça para as almas dos homens.



(2) Mas nós permitimos que todo o valor dos meios esteja subordinado à atual subserviência deles à finalidade da religião; para que, conseqüentemente, todos esses meios, quando separados da finalidade, sejam menos do que nada e presunção; uma vez que, se eles não conduzem verdadeiramente ao conhecimento e ao amor de Deus, não são aceitáveis à sua vista; antes, eles são uma abominação diante dele; um fedor em suas narinas; Ele está exausto de suportá-los. Acima de tudo, se eles são usados, como uma espécie de substituição para a religião, eles foram designados para servir; não é fácil encontrar as palavras para a enorme tolice e perversidade de assim virar os braços de Deus contra si mesmo; de manter o Cristianismo fora do coração daqueles mesmos meios que foram ordenados para produzi-lo.



(3) Nós permitimos, igualmente, que todos os meios exteriores, quaisquer que sejam eles, se separados do Espírito de Deus, não podem favorecer, afinal; não pode conduzir, em algum grau, tanto o conhecimento, quanto o amor de Deus. Sem controvérsia, a ajuda que é feita sobre a terra, Ele mesmo o faz. É Ele sozinho que, através de seu próprio poder onipotente, opera em nós o que é agradável às suas vistas; e todas as coisas exteriores, a menos que ele opere nelas, e, através delas, sejam meramente elementos fracos e desprezíveis. Quem quer que, por conseguinte, imagine que haja algum poder intrínseco, em alguns meios, quaisquer que sejam, erra grandemente, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Nós sabemos que não existe poder inerente algum nas palavras que são faladas na oração; nas cartas das Escrituras lidas; no som que disso é ouvido; ou no pão e no vinho, recebidos na Ceia do Senhor; mas que é Deus, tão somente, o Doador de todos os bons dons; o Autor de toda a graça; que todo o poder é Dele, por meio do qual, através de algum desses, existe alguma bênção transmitida para a nossa alma. Nós sabemos, igualmente, que ele é capaz de dar a mesma graça, embora não haja meios na face da terra. Nesse sentido, nós podemos afirmar que, com respeito a Deus, não existem tais coisas como meios; vendo que ele é igualmente capaz de operar o que quer que o agrade; através de algo, ou através de nenhum, afinal.



(4) Nós permitimos posteriormente, que o uso de todos os meios que sejam nunca resgatará um só pecado; que é tão somente o sangue de Cristo, por meio do qual, qualquer pecador pode ser reconciliado com Deus; não havendo outro sacrifício expiatório para nossos pecados; nenhuma outra fonte para o pecado e impureza. Todo crente em Cristo está profundamente convencido de que não existe mérito, a não ser Nele; que não existe mérito, em algumas de suas próprias obras; nem proferindo a oração; ou pesquisando as Escrituras; ou ouvindo a palavra de Deus; ou comendo do pão e bebendo daquela taça. De modo que ninguém mais é pretendido, pela expressão que alguns têm usado, 'Cristo é o único meio da graça', do que isto, — que Ele é a única causa meritória dela; ela não pode ser contradita, por alguém que conheça a graça de Deus.



(5) Ainda uma vez mais: Nós permitimos, embora seja uma verdade melancólica, que uma larga proporção daqueles que são chamados cristãos, até esse dia, abuse dos meios da graça para a destruição de suas almas. Isto é, sem dúvida, o caso com todos aqueles que descansam satisfeitos, na forma da religiosidade, sem o poder. Tanto eles, afetuosamente presumem que eles já são cristãos, porque eles fazem assim e assim, — embora Cristo nunca tenha sido ainda revelado em seus corações, nem o amor de Deus esparramado por todos os lados; quanto eles supõem que possam infalivelmente ser assim, tão somente, porque eles usam esses meios; sonhando impulsivamente, (embora talvez, dificilmente consciente disso), que exista alguma espécie de poder nisso, por meio do qual, mais cedo ou mais tarde (eles não sabem quando), eles irão certamente se tornar santos; ou que exista uma sorte de méritos no uso deles, que irá certamente mover Deus a dar a eles santidade, ou aceitá-los sem ela.



(6) Tão pouco eles entendem do grande fundamento de toda construção cristã: 'Pela graça sois salvos":  Você é salvo de todos os pecados; de toda culpa e poder nele; você é restaurado para o favor e imagem de Deus, não por algumas obras, méritos, ou merecimentos seus, mas pela graça livre; a mera misericórdia de Deus, através dos méritos de seu bem-amado Filho: você é assim salvo, não por qualquer poder, sabedoria, ou força, que estejam em você, ou em qualquer outra criatura; mas meramente através da graça e poder do Espírito Santo que opera tudo em todos. 



(7) Mas a principal questão permanece: 'Nós sabemos que essa salvação é dom e obra de Deus: mas como (alguém pode dizer que está convencido que ele não a tem) eu posso alcançar isto?'. Se você disser: 'Acredite, e você será salvo!'. Ele responde: 'Verdade; mas como eu devo acreditar?'. Você dá a resposta: 'Espere em Deus'.  'Bom; mas como eu devo esperar? Nos meios da graça, ou fora deles? Eu devo esperar pela graça de Deus que traz salvação, usando esses meios, ou deixando esses meios de lado?'.



(8) Possivelmente não pode ser concebido que a palavra de Deus possa dar nenhuma direção em tão importante ponto; ou, que o Filho de Deus, que veio dos céus por nós homens, e por nossa salvação, tenha nos deixado indecisos, com respeito às questões, nas quais nossa salvação é afligida tão de perto. E, de fato, ele não nos deixou incertos; ele nos tem mostrado o caminho no qual podemos ir. Nós temos apenas que consultar a Palavra de Deus; para inquirir o que está escrito lá; e, se nós simplesmente permanecermos, através da decisão dela, nenhuma dúvida possivelmente restará.



III



(1) De acordo com isto; de acordo com a decisão do santo escrito, todos os que desejam a graça de Deus devem esperar por ela, nos meios que ele tem ordenado; usando-os, e não os deixando de lado. Em primeiro Lugar: Todos os que desejam a graça de Deus devem esperar por ela, no caminho da oração. Essa é a direção expressa do próprio nosso Senhor. Em seu Sermão da Montanha, depois de explicar, largamente, no que a religião consiste, e descrever os principais ramos dela, ele acrescenta: 'Peça, e lhe será dado; busque, e encontrarás; bata à porta, e ela lhe será aberta: já que todos que pedem receberão; e todos que buscam encontrarão; e todos que batem à porta a terão aberta', (Mt. 7:7,8)



Aqui nós vamos, da maneira mais clara, perguntar diretamente, com o objetivo de receber, ou os meios para isso; buscar, com o objetivo de encontrar a graça de Deus; a pérola de grande valor; e bater, para continuar pedindo e buscando, se podemos entrar no seu reino.



(2) Para que nenhuma dúvida permaneça, nosso Senhor trabalha nesse ponto, de uma maneira mais peculiar. Ele apela a cada coração do homem: 'Que homem há, entre vocês, em que o filho pede pão, e ele lhe dá uma pedra? Ou, se ele pedir um peixe, lhe dá uma serpente? Se, então,  vocês, sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos, quanto dera seu Pai que está nos céus';  o Pai dos anjos e homens; o Pai dos espíritos de toda carne 'dá boas coisas a eles que o pede?'. (Mt. 7:9-11). Ou, como ele mesmo afirma, em outra ocasião, incluindo todas as boas coisas em uma: 'Quanto mais o seu Pai celeste dá o Espírito Santo aos que lhe pedem?' (Lucas 11:13).  Deve ser particularmente observado aqui, que as pessoas direcionadas a perguntar não tinham, então, recebido o Espírito Santo: Não obstante nosso Senhor os dirija a usar esses meios, e prometa que eles serão eficazes; que ao pedirem, eles deverão receber o Espírito Santo dele, cuja misericórdia está acima de todas as suas obras. 



(3) A necessidade absoluta de usar esses meios, se nós podemos receber algum dom de Deus, mesmo que apareça posteriormente naquela passagem notável que imediatamente precede essas palavras: "E disse a eles" — para os que tinham sido justamente ensinados a como orar —, "qual de vocês terá um amigo e, se for procurá-lo, à meia-noite,pedir-lhe-á para emprestar-lhe três pães: e ele nisso responder: 'não me perturbe; eu não posso me levantar a dá-los a você'. Eu respondo que, embora ele não se levante e dê os pães, por ser seu amigo; ainda assim, por causa de sua importunidade, ele irá se levantar e irá dar a ele quantos pães ele necessitar. Por isso eu lhes digo: peça, e ser-lhe-á dado; busque, e acharás; bata, e abrir-se-lhe-á". (Lucas 11:5-9). Como pode nosso amado Senhor mais claramente declarar que nós podemos receber de Deus, por esses meios, por importunamente perguntar, o que, do contrário, não poderíamos receber, afinal?



(4) 'Ele conta também outra parábola, com essa finalidade, para que os homens devam sempre orar, e não fraquejar',  até que, por esses meios, eles possam receber de Deus qualquer que seja o pedido que tenham feito:



"Havia na cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava o homem. E havia uma viúva, que foi ter com ele, dizendo: 'Faça-me justiça contra meus adversários'; e ele não o faria, por um tempo; mas, depois disse a si mesmo, 'embora eu não tema a Deus, nem respeite o homem, ainda assim para que essa viúva não me perturbe, eu irei fazer-lhe justiça, para que, pelo menos, ele não continue vindo, e me aborreça".  (Lucas 18:1-5).



A aplicação disso, o próprio nosso Senhor tem feito: Ouça o que o juiz injusto disse: 'Porque ela continua a pedir; porque ela não aceitará negativa, por conseguinte, eu irei fazer justiça a ela'. E Deus não fará justiça aos seus próprios eleitos, que clamam dia e noite junto a ele? Eu digo a você que ele lhes fará justiça rapidamente, se eles orarem e não fraquejarem.



(5) A direção igualmente completa e expressa, é esperar pelas bênçãos de Deus, em orações privadas, junto com a promessa positiva de que, por esses meios, nós devemos obter o que pedimos; o que ele nos tem demonstrado em suas bem conhecidas palavras: 'Mas tu, quando orares, entra em teu quarto, e fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará abertamente'. (Mt. 6:6).



(6) Se for possível, em alguma direção, ser mais claro, é no que Deus nos tem dado, através do Apóstolo, com respeito às orações de todo tipo: públicas, ou privadas, e as bênçãos anexadas a ela: 'E se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não o lança em seu rosto; e ser-lhe-á dada' (Tiago 1:5), se eles pedirem; do contrário, 'não tereis, porque não pedis'. (Tiago 4:2).



Se, for objetado: "Mas isto não é direção para descrentes; para os que não conhecem a graça de Deus: por isso o Apóstolo acrescenta: 'Mas que ele peça na fé'; do contrário, 'que ele não pense que deva receber alguma coisa do Senhor'": Eu respondo: o significado da palavra , nesse lugar, é fixado pelo próprio Apóstolo, como se fosse com o propósito de prevenir essa objeção, no que se segue: 'Que ele peça na fé, em nada inconstante', em nada duvidando. Pelo contrário, acreditando que Deus ouviu suas orações, e irá realizar o desejo de seu coração.



A absurdidade mais grosseira e profana de se supor a fé, nesse lugar, a ser tomada do completo significado cristão, aparece disso: É suposto que o Espírito Santo dirija o homem, que ele sabe que  não tem fé (o que aqui é denominado sabedoria), para pedi-la a Deus, com a promessa positiva de que 'ela lhe será dada', e, então, imediatamente anexada a ele; o que não acontecerá, a menos que ele tenha antes pedido por ela! Mas quem pode testemunhar tal suposição? Dessa Escritura, por conseguinte, tanto quanto das palavras citadas acima, nós podemos inferir que, todo aquele que deseja a graça de Deus deve esperar por ela, no caminho da oração.



(7) Em Segundo lugar: Todos os que desejam a graça de Deus devem esperar por ela, buscando as Escrituras. A direção de nosso Senhor, com respeito ao uso desse meio, é igualmente simples e claro. 'busquem as Escrituras', disse ele aos judeus descrentes, 'porque são elas que dão testemunho de mim'. (João 5:39). E para esta mesma finalidade, ele os dirige a buscar as Escrituras, para que eles possam acreditar nele.



A objeção de que 'este não é um mandamento, mas apenas uma afirmação, para que eles busquem as Escrituras',  é a vergonhosamente fala. Eu quero que todos que estimulam isso, nos digam como um mandamento pode ser mais claramente expressado, do que nesses termos. Ele é tão categórico, quanto muitas palavras poderiam torná-lo. E que bênção de Deus atende o uso desses meios, aparece do que é registrado concernente aos Beréios; 'Estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dias nas Escrituras, se estas coisas eram assim; de sorte que creram muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e não poucos varões' — encontrando a graça de Deus, no caminho que ele tinha ordenado (Atos  17:11-12).



É provável que, para alguns desses que tinham 'recebido a palavra com toda prontidão de mente, a fé tenha vindo',  como o mesmo Apóstolo fala: 'pelo ouvir', e foi apenas confirmado, através da leitura das Escrituras: Mas foi observado, acima de tudo, que debaixo do termo geral de buscar as Escrituras, ouvir, ler, e meditar estejam contidos.



(8) E que esse é o meio, através do qual, Deus, não apenas dá, mas também confirma e aumenta a fé verdadeira, nós podemos saber das palavras de Paulo aos Timóteos, em (2 Tim. 3:15) 'E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação pela f, que há em Cristo Jesus'. A mesma verdade (isto é, que esse é o grande meio que Deus tem ordenado para transmitir suas múltiplas graças ao homem) é entregue, da maneira mais completa que pode ser concebida, nas palavras que imediatamente se seguem em (Tim. 3:16,17) 'Toda Escritura divinamente inspirada e proveitosa para ensinar; para redargüir; para corrigir; para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra'.         



(9)  Deve-se observar que isto é falado, primeiramente e diretamente, das Escrituras, as quais Timóteo tinha conhecido desde a meninice; que deveria ter sido aquelas do Velho Testamento, já que o Novo ainda não tinha sido escrito. Quão longe, então, estava Paulo (embora ele 'não fosse insignificante diante dos principais Apóstolos', nem, por conseguinte, eu presumo, diante de qualquer homem agora na face da terra), de trazer luz ao Velho Testamento! Observe isto, a fim de que você, um dia, 'não se surpreenda e pereça'; você que dá tão pequena importância à metade das Palavras de Deus! Sim. E que metade do que o Espírito Santo expressamente declara, que é 'adequado', como um meio ordenado de Deus, para essa mesma coisa, 'para doutrinar; para reprovar; para corrigir; para ensinar na retidão'; para que 'o homem de Deus seja perfeito, totalmente instruído para toda boa obra'.       



(10)  Nem é adequado apenas para os homens de Deus; aqueles que já caminham na luz de seu semblante; mas também para aqueles que ainda estão na escuridão, buscando por ele, que eles não conhecem. Assim como Pedro, em (2 Pedro 1:19) 'E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumina em lugar escuro, até que o dia surja, e a estrela da manhã apareça em vosso coração'. Literalmente,  'e nós temos a palavra profética mais firme', confirmada por sermos 'testemunhas oculares de sua Majestade',  e 'por ouvir a voz que vem da glória excelente', junto a qual — a palavra profética; assim ele intitula as Escrituras Sagradas — 'bem fazeis em estar atentos, como a luz que ilumina a escuridão, até que o dia chegue, e a estrela da manhã surja em seus corações'. Que todos, por conseguinte, que desejem que esse dia chegue em seus corações esperem por ele, buscando as Escrituras.



(11) Em terceiro Lugar: Todos os que desejam um aumento da graça de Deus devem esperar por ele, em partilhar da Ceia do Senhor. Já que isso também é uma direção que ele mesmo tem dado, em (I Cor. 11:23-26) "Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus , na noite em que foi traído, tomou o pão; e tendo dado graças, o partiu e disse: 'Tomai,  e comei; isto é o meu corpo que é partido por voz; fazei isto em memória de mim'".  Igualmente, "ele tomou o cálice, dizendo: 'este cálice é o Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim'. Porque todas as vezes que comerdes este pão, e beberdes este cálice, vós anunciais a morte do Senhor, até que ele venha". Você abertamente existe o mesmo, através desses sinais visíveis, diante de Deus e anjos, e homens; você manifesta sua lembrança solene de sua morte, até que ele venha nas nuvens do céu.



Apenas  'que o homem', primeiro, 'examine a si mesmo',  se ele entendeu a natureza e o desígnio dessa santa instituição, e se ele realmente deseja fazer-se confortável para a morte de Cristo; e, assim, em nada duvidando, 'que coma do pão, e beba do cálice' (I Cor. 11:28). 

           

Aqui, então, a primeira direção dada por nosso Senhor é expressamente repetida pelo Apóstolo: 'que ele coma; que ele beba';  ambos de forma imperativa; palavra que em nada implicam uma simples permissão apenas, mas um mandamento claro e explícito; um mandamento para todos aqueles que, tanto já estão preenchidos com a paz e a alegria, por acreditarem; ou aqueles que verdadeiramente podem dizer, 'A lembrança de nossos pecados é aflição para nós; o fardo deles é intolerável'. 



(12) E que isto é também um meio comum e firme de receber a graça de Deus, fica evidente das palavras do Apóstolo que ocorrem no capítulo precedente: (I Cor. 10:16)  'Por acaso, o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão [ou comunicação] do sangue de Cristo?'. Não é o comer do pão, e beber do cálice, os meios exteriores, visíveis, por onde Deus transmite para nossas almas aquela graça espiritual; aquela retidão; e paz; e alegria, no Espírito Santo, que foram resgatadas pelo corpo de Cristo, uma vez partido, e pelo sangue de Cristo, uma vez derramado por nós? Que todos, por conseguinte, que verdadeiramente desejem a graça de Deus, comam do pão e bebam do cálice.  



IV



(1) Mas, tão plenamente, quanto Deus tem apontado o caminho, por meio do qual, ele deverá ser buscado; inumeráveis são as objeções, com as quais os homens, sábios, aos seus próprios olhos, têm erguido, de tempos em tempos, contra isso. Pode ser necessário considerar algumas delas; não porque são mais importantes, em si mesmos, mas porque têm sido freqüentemente usadas, especialmente, nos últimos anos, para tirar o fraco fora do caminho; sim; para perturbar e subverter aqueles que estão indo bem, até que Satanás apareceu como um anjo de luz. A primeira e principal delas é:



'Você não pode usar desses meios (como eles os chamam), sem confiar neles'.





Eu imploro que me mostrem, onde isto está escrito? Eu espero que você possa me mostrar uma clara Escritura para sua afirmação; do contrário, eu me atrevo a não recebê-la; porque eu não estou convencido de quer você seja mais sábio do que Deus. Se isto tem sido realmente como você afirma, é certo que Cristo deve ter conhecido isto. E se ele conheceu, ele certamente nos alertou; ele teria nos revelado isto, há muito tempo. Por conseguinte, porque ele não o fez; porque não existe a menor partícula disso, em toda a revelação de Jesus Cristo, eu estou tão completamente seguro que sua afirmação é falsa, quanto de que essa revelação é de Deus.  



'Entretanto, deixe-as fora, por algum tempo, para ver se você confia nelas ou não'.  



Assim, eu desobedecerei a Deus, com o objetivo de saber, se eu devo obedecer a ele! E você reconhece esse conselho? Você, deliberadamente, ensina  'a fazer o mal, para que o bem venha?'. Ó, estremeça-se diante da sentença de Deus contra tais professores! 'A condenação deles é justa'.



'Além do mais, se você fica preocupado, quando você as deixa fora, é claro que você confiou nelas'.



De maneira alguma. Se eu fico preocupado, quando eu, teimosamente, desobedeço a Deus, é claro que seu Espírito está ainda  operando comigo; mas, se eu não me preocupo com o pecado obstinado, é claro que eu  estou entregue a uma mente perversa.



Mas o que você quer dizer por 'confiar nelas?' — buscando pela bênção de Deus nela? Acreditando que, se eu espero nesse caminho, eu devo obter o que do contrário eu não poderia? Então eu confio. E assim, eu irei confiar que Deus é meu ajudador, até o fim da minha vida. Pela graça de Deus eu irei assim, confiar neles, até o dia de minha morte. Ou seja, eu irei acreditar que, se Deus tem prometido, ele é fiel também para executá-la. E vendo que ele tem prometido me abençoar, nesse caminho, eu confio que seja de acordo com sua palavra. 



(2) Tem sido, em segundo lugar, objetado:



            'Isto é buscar salvação pelas obras'.



 Você conhece o significado da expressão que você usa? O que é buscar salvação pelas obras? Nos escritos de Paulo, significa, tanto buscar ser salvo, por observar as obras rituais da Lei de Moisés; ou expressar salvação pela fé em nossas próprias obras, através do mérito de nossa própria retidão. Mas como é que isto implica em esperar no caminho que Deus tem ordenado, e esperar que ele irá me satisfazer, porque ele tem prometido assim fazer? Eu espero que ele cumpra sua palavra; que ele irá me satisfazer e me abençoar nesse caminho. Ainda que não por causa de algumas obras que eu tenha feito, mas pelo mérito de minha retidão; meramente através dos méritos, sofrimentos, e amor a seu Filho, em quem ele está sempre bem agradado.



(3) Tem sido veementemente objetado, em terceiro lugar:



            'Que Cristo é o único meio da graça'



Eu respondo: Isto é meramente brincar com palavras. Explique seu termo, e a objeção desaparecerá. Quando você diz: 'orar é o meio da graça',  nós entendemos um canal, através do qual a graça de Deus é transmitida. Quando você diz: 'Cristo é o meio da graça', você entende o único preço e resgate para ela; ou que 'nenhum homem vem ao Pai, a não ser através dele'.  E quem nega isto?  Mas isto é  uma questão totalmente ampla.



(4) Tem sido objetado, em quarto lugar:



"Mas as Escrituras não nos direciona a esperar pela salvação? Davi não disse, 'Minha alma espera em Deus, por meio dele vem minha salvação?'. E não é Isaias quem diz, em (Isaias 26:8) 'Até no caminho dos teus juízos, Senhor, te esperamos; no teu nome, e na tua memória está o desejo da nossa alma'".



Tudo isto não pode ser negado. Vendo que é o dom de Deus, nós estamos indubitavelmente esperando nele para a salvação. Mas como devemos esperar? Se o próprio Deus tem indicado o caminho, pode você encontrar um modo melhor de esperar por ele? Mas aquele que tem apontado o caminho, tem sido mostrado largamente, e também qual é aquele caminho. As próprias palavras do Profeta, que você cita, coloca isto fora de questão. Já que toda a sentença, em (Isaías 26:8) é esta: 'Até no caminho dos teus juízos, Senhor, te esperamos; no teu nome, e na tua memória está o desejo da nossa alma'. E, no mesmo caminho Davi esperou, como suas próprias palavras testificam abundantemente: 'Eu tenho esperado por tua cura salvadora, Ó Senhor, e tenho mantido tua lei. Ensina-me, Ó Senhor, o caminho de teus estatutos, e eu os manterei até o fim'.



(5)  "Sim",  alguns dizem, "mas Deus tem indicado um outro caminho — 'fique quieto, e veja a salvação de Deus'".



            Vamos examinar as Escrituras, às quais você se refere. A primeira delas, com o contexto, diz assim:

           

(Êxodo 14:10-16) 'E, chegando o Faraó, os filhos de Israel levantaram seus olhos, e eis que os egípcios vinham atrás deles, e temeram muito; então, os filhos de Israel clamaram ao Senhor. E disseram a Moisés: Não havia sepulcros no Egito, para nos tirares de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto,  que nos tens tirado do Egito? Não é esta a palavra que te temos falado no Egito, dizendo: Deixa-nos, que sirvamos aos egípcios: Pois que melhor nos fora servir aos egípcios, do que morrermos no deserto.  E Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis. Então, disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E levanta a tua vara, estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco'. Essa foi a salvação, que eles permanecessem quietos para ver, marchando em frente, com toda a força deles! 



A outra passagem onde essa expressão ocorre fica assim:



(2 Crônicas 20:2) ”Então, vieram alguns que deram aviso a Josafá, dizendo: vem contra ti uma grande multidão, dalém mar e da Síria; e eis que estão em Hazazom-Tamar, que é En-Gedi. Então, temeu, e pôs-se a buscar o Senhor; e apregoou jejum em todo o Judá. E Judá se ajuntou, para pedir socorro ao Senhor; também de todas as cidades de Judá vieram para buscarem o Senhor; e pôs-se Josafá em pé, na congregação de Judá, e de Jerusalém, na Casa do Senhor, diante do pátio novo... Então, veio o Espírito do Senhor, no meio da congregação, sobre Jaaziel. E ele disse: Não te entristeças por causa dessa grande multidão. Amanhã, descereis contra eles: tu não precisas lutar nessa batalha. Fiquem quietos, e vejam a salvação do Senhor. E eles se levantaram cedo de manhã, e seguiram em frente. E quando eles começaram a louvar e a orar, o Senhor colocou emboscadas contra os filhos de Moabe, Amon, e os dos montes Seir: — e cada um ajudou a destruir o outro".

           

Tal foi a salvação que os filhos de Judá viram. Mas como tudo isto prova que nós não devemos esperar pela graça de Deus, nos meios que ele tem ordenado? 



(6) Eu devo mencionar, a não ser uma objeção mais, que, de fato, não propriamente pertence a esse assunto: não obstante, porque ela tem sido freqüentemente sugerida, eu não posso passar totalmente por ela.



'Se, pois, estais mortos em Cristo, quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo?' (Col. 2:20)



Assim, você diz: 'Se eu sou um cristão, eu não estou sujeito às ordenanças de Cristo!'. Certamente, através desse absurdo, você deve ver, em princípio, dar uma olhada, que as ordenanças aqui mencionadas, não podem ser as ordenanças de Cristo: que se tratam de ordenanças judaicas, para as quais é certo que os cristãos não estão mais sujeitos. E o mesmo aparece inegavelmente das palavras imediatamente seguinte: 'não toques; não proves; não manuseies';  tudo evidentemente referindo-se às antigas ordenanças da lei judaica. Assim, essa objeção é a mais fraca de todas. E, apesar de tudo, aquela grande verdade deve permanecer inabalável: que todo aquele que deseja a graça de Deus deve esperar por ele, nos meios que ele tem ordenado. 



V



(1)  Mas sendo permitido que todo aquele que deseje a graça de Deus espere por ela, nos meios que ele tem ordenado; pode ser ainda inquirido, como esses meios devem ser usados, ambos quanto à ordem e maneira de usá-los. Com respeito ao primeiro, nós podemos observar que existe uma espécie de ordem, em que o próprio Deus geralmente se agrada como meio de trazer o pecador à salvação. O infeliz estúpido e insensível  segue em seu próprio caminho, não tendo Deus em todos os seus pensamentos, quando Deus vem sobre ele inesperadamente, talvez, através de um sermão de avivamento ou conversa; talvez, por alguma providência terrível, ou, pode ser, um golpe imediato de seu Espírito convincente, sem qualquer meio exterior, afinal. Tendo agora um desejo de fugir da ira que há de vir, ele propositadamente vem ouvir como isto pode ser feito. Se ele encontra um pregador que fala para o coração, ele fica maravilhado, e começa a buscar as Escrituras, para se certificar que essas coisas são desse jeito. Quanto mais ele ouve e lê, quanto mais convencido ele é; e mais ele medita nisso dia e noite. Talvez, ele encontre algum outro livro que explique e reforce o que ele tem ouvido e lido nas Escrituras. E através de todos esses meios, as flechas da convicção mergulham mais profundamente em sua alma. Ele começa também a falar das coisas de Deus, que são sempre mais importantes em seus pensamentos; e fala com Deus; ora a ele; embora tema e se envergonhe, ele raramente sabe o que dizer.



Mas, se ele pode falar ou não; ele não pode deixar de orar, seja isto apenas em 'murmúrios que não podem ser proferidos'. Ainda assim, estando em dúvida, se  'o todo poderoso que habita a eternidade' irá considerar tal pecador como ele, ele deseja orar com todos os que conhecem Deus, com o crente, na grande congregação. Mas aqui ele observa outros indo para a mesa do Senhor. Ele considera: "Cristo tem dito: 'Faça isto!'. Como eu não faço? Eu sou tão grande pecador, que eu não estou adequado; que eu não sou merecedor". Depois de lutar com esses receios, por um tempo, ele abre caminho. E assim continua no caminho de Deus, ouvindo, lendo, meditando, orando, e partilhando da Ceia do Senhor, até que Deus, da maneira como lhe agrada, fala ao seu coração: 'Tua fé o salvou. Vai, em paz!'.     



(2) Observando essa ordem de Deus, nós podemos conhecer quais os meios recomendados para alguma alma em particular. Se algum desses alcançar um pecador estúpido e descuidado, será provavelmente ouvindo, ou conversando. Para tal, entretanto, nós deveríamos recomendar isto, se ele teve, alguma vez, algum pensamento sobre salvação. Para alguém que começa a sentir o peso de seus pecados, não apenas ouvindo a Palavra de Deus, mas lendo-a também, talvez, outros livros sérios, pode ser um meio de convicção mais profunda.



Você não pode aconselhá-lo também a meditar sobre o que ele lê, para que isto seja uma força completa sobre seu coração? Sim. E a falar nisso, e não ficar envergonhado; principalmente, entre aqueles que caminham nos mesmos passos. Quando a preocupação e o peso caírem sobre ele, você não poderia, então, exortá-lo a derramar sua alma diante de Deus; sempre a orar e não fraquejar'; e quando ele deixar cair a inutilidade de suas orações, você não irá trabalhar junto com Deus, e lembrá-lo de ir até a casa do Senhor, e orar com todos que o temem? Mas, se ele faz isso, a palavra agonizante de seu Senhor logo irá ser trazida para sua lembrança; uma intimação clara de que este é o tempo em que devemos apoiar os movimentos do Espírito abençoado. E assim, podemos conduzi-lo, passo a passo, através de todos os meios que Deus tem ordenado; não de acordo com sua própria vontade, mas justamente como a Providência e o Espírito de Deus que segue adiante e abre o caminho.



(3) Ainda assim, como nós encontramos nenhum comando nos escritos santos, para alguma ordem particular a ser observada neles, então, nem a providência e o Espírito de Deus adere a algo, sem variação. Mas os meios, nos quais os diferentes homens são conduzidos, e nos quais eles encontram as bênçãos de Deus, são variados, e combinados, de milhares de maneiras diferentes. Ainda assim, nossa sabedoria deve seguir as conduções de sua providência e seu Espírito; para ser guiado nele (mais especialmente nos meios em que nós mesmos buscamos a graça de Deus); em parte, através de sua providência exterior; dando-nos a oportunidade de usar algumas vezes, um meio, outras vezes, outro; parcialmente, através de nossa experiência, por meio da qual, seu Espírito livre se agrada mais de operar em nosso coração. E, nesse meio tempo, a regra certa e geral para todos que murmuram pela salvação de Deus é esta: — onde quer que a oportunidade sirva, use de todos os meios que Deus tem ordenado; quem sabe no que Deus irá satisfazer a ti, com a graça que traz salvação?     



(4) Quanto à maneira de usar os meios, naquilo em que realmente depende a transmissão de alguma graça; cabe, primeiro, retermos sempre o senso claro, de que Deus está acima de todos eles. Ter o cuidado, por conseguinte, de não restringir o Onipotente. Ele faz o que quer, e quando quer que lhe agrade. Ele pode transmitir sua graça, tanto através dos meios que ele tem apontado, quanto fora deles. Talvez, ele o faça. 'Quem conhece a mente do Senhor? Ou quem tem sido seu conselheiro?'.  Esteja atento, então, todo o momento, para sua aparição! Seja isto no momento em que você está empregado em suas ordenanças; ou antes, ou depois dessa hora; ou quando você está impedido disso. Ele não está impedido. Ele está sempre pronto; sempre capaz; sempre de boa-vontade para salvar. 'É o Senhor: Deixe-o fazer o que lhe parece bom!'.   



Em segundo lugar: Antes que você use algum meio, deixe que fique profundamente impresso em sua alma: não existe poder nisso. Ele é, em si mesmo, uma coisa pobre, morta, vazia. Separado de Deus, é uma folha seca, uma sombra. Nem existe algum mérito, em usá-lo; nada intrinsecamente agrada a Deus; nada, por meio do qual, eu mereça algum favor de suas mãos; não, nem uma gota de água para resfriar minha língua. Mas, porque Deus ordena, por conseguinte, eu faço; porque ele me dirige a esperar nesse caminho; assim sendo eu espero aqui pela sua misericórdia livre, por meio da qual vem minha salvação. Estabeleça isto em seu coração, que o mero trabalho feito não tem proveito algum; que não existe poder para salvar; a não ser, no Espírito de Deus; nenhum mérito, a não ser no sangue de Cristo; que, conseqüentemente, mesmo o que Deus ordena, transmite nenhuma graça para sua alma, se você não confia somente Nele. Por outro lado, aquele que verdadeiramente confia Nele, não pode ficar frustrado da graça de Deus, mesmo que ele seja cortado fora de toda ordenança exterior; mesmo que ele seja encarcerado, no centro da terra.



Em terceiro lugar: Ao usar todos os meios, busque apenas a Deus. Em, e através de todas as coisas exteriores, busque simplesmente o poder de seu Espírito; e os méritos de seu Filho. Cuide de não ceder na própria obra; se você assim fizer, será trabalho perdido. Nenhuma restrição de Deus pode satisfazer sua alma. Por conseguinte, o veja, em tudo; através de tudo; e acima de tudo.



Lembre-se também: use todos os meios,m como meios; como ordenados. Não por sua causa, mas com o objetivo de renovar sua alma, na retidão e santidade verdadeira. Se, entretanto, eles atualmente tendem a isto, muito bem/ mas, se não, eles são esterco e refugo.



Por último: Depois de ter usado algum desses, cuide em como você valoriza a si mesmo, nele? Como você se congratula de ter feito alguma coisa grande. Está é transformar tudo em veneno. Pense: 'Se Deus não estivesse lá, no que isto teria proveito? Eu não tenho acrescentado pecado ao pecado? Por quanto tempo? Ó Senhor! Salve-me, ou perecerei! Não deite mais pecado sob minha responsabilidade!' Se Deus esteve lá; se seu amor emanou, em seu coração, e você se esqueceu de como ele era, a obra exterior. Você vê; você sabe; você sente que Deus está em tudo. Humilhe-se. Mergulhe, diante dele. Dê a ele todo o louvor. 'Deixe Deus, em todas as coisas, ser glorificado, através de Jesus Cristo'.  Permita que seus ossos clamem: 'Minha canção seja sempre da bondade do Senhor: com minha boca eu irei sempre dizer da tua verdade, de uma geração a outra!'.